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Volkswagen aposta em tecnologia que chineses da GWM não querem “nem mortos”

Para a Great Wall Motors, os elétricos com extensor de autonomia são uma aberração tecnológica. Volkswagen vê potencial à escala global.

Dois líderes da indústria automóvel, com duas visões opostas sobre o futuro do automóvel. E desta vez não falamos de Akio Toyoda, presidente da Toyota, ou de Carlos Tavares, ex-CEO do Grupo Stellantis, que já nos habituaram a posições muito divergentes do status quo da indústria.

Desta vez falamos de Oliver Blume, diretor-executivo do Grupo Volkswagen, que afirma que os veículos elétricos com extensor de autonomia (EREV ou extended range electric vehicles) são uma ponte importante para a eletrificação, com potencial de escala global, e de Mu Feng, da Great Wall Motors (GWM), que afirma que esta tecnologia é uma aberração tecnológica.

Mu Feng, presidente da Great Wall Motors.

As declarações destes responsáveis aconteceram à margem da última edição do Salão Automóvel de Xangai. E poderão ter sido desencadeadas pelas afirmações de Oliver Blume, numa entrevista à publicação alemã NOZ, onde refletiu ainda sobre o futuro da eletrificação:

Na China, vemos um grande potencial nos extensores de autonomia como tecnologia de transição, e vamos lançar o primeiro Volkswagen com esta solução já em 2026”.

Oliver Blume, CEO do Grupo Volkswagen em declarações ao Jornal NOZ

Como veremos mais adiante a posição da GWM relativamente a esta tecnologia não podia estar mais distante da posição do Grupo Volkswagen. São duas visões e duas estratégias totalmente distintas, por parte de dois dos maiores grupos da indústria automóvel mundial.

Tecnologia EREV cresce. Volkswagen tem trunfo na manga

Enquanto os números das vendas dos 100% elétricos não alcançam as ambições políticas e industriais esperadas pelo setor, cada marca procura uma alternativa que permita manter o rumo da eletrificação sem perder tração no mercado.

No Ocidente — EUA e Europa — a aposta mais comum têm sido os híbridos plug-in (PHEV), mas a Volkswagen olha cada vez mais para uma solução que cresce em popularidade na China: os EREV, ou veículos elétricos com extensor de autonomia.

E o que são veículos elétricos com extensor de autonomia? Na prática são carros 100% elétricos a bateria, equipados com um pequeno motor térmico, sem ligação às rodas, cujo único propósito é gerar energia para carregar as baterias e aumentar a autonomia. E Oliver Blume não se limita a ver potencial nos EREV.

O Grupo Volkswagen já tem um plano concreto em marcha. O primeiro Volkswagen com esta tecnologia será lançado em 2026, começando precisamente pela China, que é um mercado maduro neste tipo de proposta.

Mas o mais interessante é que Blume não descarta a hipótese de trazer esta tecnologia para a Europa: “Os EREV também podem ser uma opção para a Europa, sob as condições técnicas certas”, referindo-se à fórmula de calculo das emissões para esta tecnologia, afirmou em declarações à publicação alemã NOZ.

E para apostar nesta tecnologia — que o próprio CEO do Grupo Volkswagen acredita ser apenas de transição — a grupo alemão tem um importante trunfo dentro de casa: a Scout. A marca americana adquirida pelo Grupo Volkswagen tem esta tecnologia no seu portfólio.

A marca afima que já tem milhares de pré-encomendas para os primeiros modelos elétricos da ressuscitada Scout, e “a maioria dos clientes quer a versão com extensor de autonomia”, confirmou Blume.

“Preferimos morrer”, dizem chineses da GWM

Do outro lado da barricada está Mu Feng, vice-presidente da Great Wall Motors, que não podia ter sido mais claro: “É preferível morrer do que fabricar veículos de autonomia estendida .” A frase foi reproduzida pela CarNewsChina, também à margem do Salão Automóvel de Xangai.

E mesmo a GWM sendo um dos maiores grupos chineses — país onde os EREV proliferam —, este gigante asiático recusa alinhar. Continuará a apostar exclusivamente em híbridos convencionais e elétricos a bateria. Uma decisão que contrasta com outras marcas chinesas que, para conquistar o mercado interno, têm lançado modelos EREV como compromisso entre custo, versatilidade e autonomia.

O que separa a Volkswagen da GWM?

Enquanto para Blume, os EREV são uma forma de atingir um compromisso com a mobilidade até serem ultrapassadas todas as limitações à eletrificação total, para Mu Feng os EREV representam uma distração, num mercado global cada vez mais fragmentado.

No meio deste impasse está o mercado europeu, onda as posições e metas ambientais continuam a conhecer alguma indecisão. A revisão dos prazos para a aplicação de multas de emissões e a proibição dos carros com motor de combustão até 2035 são apenas dois exemplos.