Notícias Portugal, país de carros velhos. Idade média a crescer e «explosão» de usados importados

Mercado nacional

Portugal, país de carros velhos. Idade média a crescer e «explosão» de usados importados

Os números da ACAP não deixam dúvidas: o parque automóvel continua a envelhecer e os usados Importados já correspondem a 2/3 das novas matrículas.

Filas de trânsito no acesso à praça das portagens na Ponte 25 de abril.
© Razão Automóvel

A ACAP (Associação do Comércio Automóvel de Portugal) apresentou ontem (15 de fevereiro) o balanço anual do mercado automóvel nacional e os números revelados não são animadores.

Desde logo pela constatação do envelhecimento progressivo do parque automóvel nacional. Em 2022 a idade média dos ligeiros de passageiros em circulação chegou aos 13,4 anos, mas nos ligeiros de mercadorias e nos veículos pesados — aqueles que mais quilómetros acumulam anualmente —, a média atinge já os 15 anos.

Conferência ACAP fev 2023 Hélder Pedro a discursar
© ACAP Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP revelou um cenário pouco animador para o mercado automóvel nacional.

Usando dados de 2021, a ACAP diz que dos 5,6 milhões de carros em circulação, 63% tinham mais de 10 anos; um cenário que não terá melhorado em 2022.

A não perder Portugal. O país dos carros velhos que «sonha» com elétricos

Já os automóveis com mais de 20 anos representam 26% dos veículos em circulação, o mesmo que 1,5 milhões de automóveis. Para colocar este valor em perspetiva, no ano 2000 estes não representavam mais de 1%.

A ausência de renovação do parque automóvel nacional pode ser ainda percebida pela idade média dos veículos entregues para abate. Se em 2006 era de 16 anos, em 2021 subiu para os 23,5 anos.

© ACAP Em pouco mais de 20 anos, a idade média do parque automóvel nacional quase que duplicou.

Importados com cada vez mais «peso»

Um dos fatores que também está a contribuir para o aumento da idade média dos automóveis em Portugal é a importação de veículos usados.

A ACAP deu a conhecer que foram matriculados em Portugal um total de 104 908 veículos ligeiros de passageiros usados importados em 2022. Um número elevado que correspondeu a uns expressivos 67,1% (mais de dois terços) das matrículas novas atribuídas no ano passado.

Conferência ACAP fev 2023 -2
© ACAP A conferência de imprensa promovida pela ACAP permitiu ficar a conhecer o «estado» do parque automóvel nacional.

Mas o que causa ainda maior preocupação à ACAP são os sete anos de idade média dos mais de 100 mil veículos usados importados.

“A primeira preocupação que temos é ambiental. Se um carro que está a entrar tem sete anos, venha de onde venha, está a aumentar as emissões no país”.

Pablo Puey, presidente do Conselho Estratégico dos Construtores de Automóveis da ACAP

Já Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP, recordou que a quota de 67,1% registada em 2022 corresponde a um aumento exponencial face aos habituais 20-25% de novas matrículas a que correspondiam os usados importados.

Há solução?

Nesta conferência de imprensa a ACAP não se limitou a «apresentar problemas» e avançou com várias propostas para inverter a tendência de envelhecimento.

A ACAP defende que Portugal deveria reintroduzir mecanismos de incentivo ao abate de veículos em fim de vida para acelerar a renovação do parque automóvel.

A NÃO PERDER Portugal. O país dos carros heróis com a pintura queimada

A associação recorda até que o Acordo de Melhoria de Rendimentos prevê a implementação de um plano de abate de automóveis em fim de vida e que o Orçamento do Estado para 2023 contempla a criação de um mecanismo que promova a renovação do parque automóvel.

Além disto, a ACAP reforçou a necessidade de investir no desenvolvimento da infraestrutura de carregamento por forma a apoiar e acompanhar a eletrificação do parque automóvel.

Relembramos que em 2022, as vendas de automóveis 100% elétricos corresponderam a 11% do total das vendas, com forte tendência de subida para os próximos anos.

Todas estas medidas de incentivo à renovação e suporte à eletrificação do parque automóvel são fundamentais para apoiar um setor que em 2021 foi responsável por uma geração de riqueza de 4,4 mil milhões de euros, por um volume de exportações que ultrapassou os oito mil milhões de euros e que conta com quase 24 mil empresas que empregam mais de 150 mil trabalhadores.