Clássicos A história do Volkswagen que salvou a Porsche chegou ao fim

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A história do Volkswagen que salvou a Porsche chegou ao fim

O Volkswagen Touareg vai despedir-se em 2026, mas não quisemos deixar por contar a história do modelo que salvou a Porsche. Literalmente.

© Volkswagen

O fim do Volkswagen Touareg — vai ser descontinuado em 2026 — é também o encerrar de um importante capítulo na história do construtor alemão. Um capítulo feito de ambição desmesurada, mas que foi também responsável por salvar uma das marcas mais desejadas e vangloriadas do mundo automóvel, a Porsche.

Carrega, por isso, um legado que poucos Volkswagen podem reclamar. Lançado em 2002, ditou a entrada da Volkswagen no segmento premium e seria elevado a «porta-estandarte» da marca de Wolfsburgo ao longo de três gerações.

Três gerações do Volkswagen Touareg
© Volkswagen Primeira geração do Volkswagen Touareg (à direita), segunda (à esquerda) e terceira (ao centro).

Nas próximas linhas contamos-vos a história do Volkswagen Touareg e desta parceria que foi a «luz ao fundo do túnel» da Porsche para se libertar de uma vez por todas das dificuldades financeiras que se debatia há anos.

Um objetivo bem definido

Se fosse possível reduzir a liderança de Ferdinand Piëch do Grupo Volkswagen, iniciada em 1993, a um par de palavras seria ambição desmedida. Só assim se justifica o esforço e ímpeto colocado na sua decisão de elevar a marca do «carro do povo» a uma concorrente da Mercedes-Benz.

Volkswagen Phaeton
Volkswagen Phaeton, a berlina de topo da marca de Wolfsburgo, lançada em 2002. Partilhava com o Touareg inúmeros elementos, como os motores.

O Phaeton seria o símbolo supremo desse desejo e ambição, um rival para o referencial Classe S da marca da estrela. Mas o Touareg, surgido quase um ano depois, acabaria por ser tornar mais relevante, ainda que tenha tido uma existência mais discreta e afastada dos holofotes do que o mediático Phaeton.

O Touareg não só representou a entrada da Volkswagen no segmento dos SUV, como seria o projeto que salvaria, de uma vez por todas, a Porsche. Construtor que esteve perto de acabar no final dos anos 80 e início dos anos 90, mas depois do sucesso decisivo do Boxster, deu à Porsche os recursos para efetuar, talvez, a sua aposta mais arriscada de sempre.

Para garantir a solidez financeira que precisava, Wendelin Wiedeking, o diretor-executivo da Porsche na altura, viu nos SUV a solução para todos os problemas. Heresia? Talvez. Mas a decisão tomada provou ser presciente. Os SUV já eram populares na América do Norte e continuavam a crescer nas tabelas de vendas — era impossível não os ter em consideraração.

O resultado? Tem nome e é sobejamente conhecido: Porsche Cayenne. Mas antes de se tornar realidade, primeiro foi preciso encontrar um parceiro que a ajudasse a dar esse passo. Tentou inicialmente com a Mercedes-Benz, mas as duas partes nunca chegaram a acordo — apesar de o terem feito no passado com o 500E. Sim, numa realidade alternativa, o Porsche Cayenne poderia ter sido baseado no primeiro ML.

Porsche Cayenne (955) — frente 3/4
© Porsche O primeiro Porsche Cayenne.

Ferdinand Piëch viu aqui uma oportunidade de negócio com um enorme potencial e após as negociações entre a Porsche e a Mercedes-Benz terem falhado, chegaria a acordo com Wiedeking em junho de 1998 para o desenvolvimento conjunto do que seriam o Touareg e o Cayenne.

Para Piëch foi ouro sobre azul. Por um lado, adicionava um segundo modelo para as ambições premium que tinha para a Volkswagen e por outro, talvez a um nível mais pessoal, contribuía para salvar a empresa fundada pelo seu avô, Ferdinand Porsche, da qual era também um dos principais acionistas.

Papéis bem definidos

A joint venture entre a Volkswagen e a Porsche definia muito bem os papéis a desempenhar por cada uma neste projeto. O desenvolvimento e a engenharia dos veículos (incluindo a plataforma PL71) ficou a cargo da Porsche. A Volkswagen ficou responsável pela industrialização e montagem das carroçarias, onde tinha mais experiência.

Quando o Cayenne foi revelado, foi tudo menos «bonito». Ainda hoje continua a ser um dos lançamentos mais controversos de sempre. Os fãs do 911 rejeitaram a ideia de um SUV pesado e muitos previram o seu fracasso, sem entenderem porque haveria a Porsche de lançar algo que ia totalmente contra o que a marca representava.

Não ajudava o facto de o Cayenne não ser… bonito. E há uma boa razão para isso. Para manter os custos controlados foram feitos compromissos. Entre os quais a partilha de painéis exteriores entre os dois SUV, como as portas ou o para-brisas. Decisão que acabou por prejudicar mais o aspeto do Cayenne do que do Touareg.

Mas controvérsias à parte, foi uma questão de tempo para a aposta arriscada da Porsche ser justificada. O Cayenne rapidamente se tornou o seu modelo mais vendido e impulsionou o crescimento do construtor, comercialmente e financeiramente, a patamares impensáveis na altura.

Sem exageros, se a Porsche chegou onde chegou só podemos agradecer ao Cayenne e… ao Touareg, ou melhor, à ambição e decisão — mais uma vez acertada — de Ferdinand Piëch «dar a mão» à Porsche.

Touareg, a «ovelha negra»?

O Touareg, mais uma vez, parecia ter um papel secundário nesta relação. Tal como o Phaeton, os holofotes concentravam-se sobre o Cayenne. Mas o SUV da Volkswagen não foi, nem de perto, um insucesso. Bem pelo contrário.

Volkswagen Touareg V10 TDI — frente 3/4
© Volkswagen Primeira geração do Volkswagen Touareg (Typ 7L).

Ao longo das três gerações, o «porta-estandarte» da Volkswagen conquistou mais de 1,1 milhões de clientes em todo o mundo, o que não deixa de ser notável para uma marca sem tradição neste segmento.

Podia ostentar à frente o mesmo símbolo do Carocha e do Golf, mas este SUV olhava olhos nos olhos a concorrência, fosse pela capacidade, pela tecnologia, pelas funcionalidades luxuosas, mas também pelas motorizações nobres que equipava: do W12 ao V10 TDI… Um tema que revisitaremos em breve.

Só que nunca conseguiu verdadeiramente sair da sombra dos concorrentes, mesmo dos mais próximos. Fosse o Porsche Cayenne ou, mais tarde, o Audi Q7, que recorria à mesma base técnica. Entre comprar um Volkswagen ou um SUV grande tecnicamente quase idêntico da Porsche ou da Audi, a decisão ganhava outro peso.

E a diferença de preço nem sempre era significativa, sendo caso para dizer: “quem dá o pé, dá a mão” — percebe onde quero chegar? É que no segmento premium não basta ser bom, o símbolo ostentado importa e muito para o mercado. E o da Volkswagen não tinha e não tem o mesmo peso ou estatuto de uma estrela, de uma hélice — não é uma hélice —, ou dos quatro anéis.

E apesar do Touareg ser «quase» o mesmo carro que o Cayenne, o Q7 — e até que o Bentley Bentayga —, no bolso continuamos a carregar a chave de um Volkswagen, a chave de um carro cujo nome significa, literalmente, “carro do povo”.

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