Pronto a competir
Peugeot 208 Rally 4. Conduzimos a «escola» dos campeões do futuro
O novo Peugeot 208 Rally 4 está pronto para competir, com enormes mudanças relativamente ao antecessor R2. Guiámos o modelo de ralis com que a Peugeot quer ajudar a moldar uma nova fornada de pilotos.

Em 2020, os novos talentos dos ralis vão evoluir ao volante deste Peugeot 208 Rally 4, desenvolvido desde o verão de 2018 em Versalhes, pela Peugeot Sport, para a nova categoria criada este ano pela Federação Internacional do Automóvel. O 208 Rally 4 é uma evolução do antecessor 208 R2, que se tornou o carro de ralis com maior sucesso comercial de sempre com mais de 500 unidades vendidas desde 2012.
A Peugeot tem uma longa tradição nos ralis, tanto como equipa oficial como com escolas de jovens pilotos, alguns dos quais são levados ao estrelato mundial depois de frequentarem as categorias de promoção como rampa de lançamento.
No seguimento do envolvimento da Simca nos anos 70 e da Talbot no início da década seguinte (ambas do universo de marcas do Grupo francês), a Peugeot criou uma escola de pilotos que passou a ser vista como uma referência entre os anos 90 e até 2008. Uma fórmula de promoção que ajudou a desenvolver o talento de vários jovens aspirantes a pilotos, alguns dos quais atingiram os píncaros a nível mundial.
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Há dois anos a marca francesa decidiu recriar esta iniciativa, que agora se chama Peugeot Rally Cup Ibérica, o que significa que envolve equipas, pilotos e provas em Portugal e em Espanha, mas com a mesma filosofia de base: a de servir de rampa de lançamento para novos talentos, alguns dos quais com aspirações a chegar ao mundial de ralis (WRC) do futuro.
Mesmo antes do arranque da 3ª temporada da Peugeot Rally Cup Iberica tive oportunidade de guiar o novo Peugeot 208 Rally 4, ainda que não exatamente num troço de ralis puro e duro, mas numa pista oval com piso bastante irregular e com algumas ervas daninhas a dar um certo ar de prova de ralis. Trata-se do circuito Terramar, que fica a sul de Barcelona, na localidade de Sitges, e foi o palco do primeiro GP de Espanha de carros e motos, pouco depois da sua inauguração, em 1923).

Foram apenas duas voltas, com um experiente piloto como co-piloto (no caso Jean-Baptiste Franceschi, campeão em título da 208 Cup em França), que permitiram tirar algumas ilações em relação ao comportamento do Rally 4, em ritmos moderados e depois já bastante mais espevitados (outras duas voltas, ainda que mais breves), quando trocámos de bacquet. A experiência foi seguida ainda por momentos de condução de carros históricos de ralis da Peugeot — como o T16 ou o S16 —, mas também o 205 GTi original e o novíssimo 208 elétrico.
Menos cilindros, mais potência
As “pinturas de guerra” são o que diferenciam logo o Peugeot 208 Rally 4 do carro de produção, tanto mais que não existem grandes apêndices aerodinâmicos para ajudar o carro a colar-se à estrada (o nível de potência e de prestações é moderado, para um carro de corridas).
Por dentro não há muito que observar porque além das enormes alavancas do travão de mão e do seletor de caixa sequencial (SADEV) de cinco velocidades. Tudo o resto é nu e cru, tanto nas portas como no próprio painel de bordo, que se resume a uma pequena caixa com meia-dúzia de funções básicas (ignição, controlo dos vidros, buzina, desembaciamento, etc)

E, claro, as duas sólidas baquets com apoio lateral reforçado e cintos arnês de cinco pontos de fixação e o volante forrado numa espécie de camurça, nos dois casos com a assinatura da Sparco, experiente fabricante de equipamento especial de corrida.
“Além de usar uma plataforma nova, o Rally 4 distingue-se do R2 porque recebeu o motor 1.2 l de três cilindros sobrealimentado em substituição do 1.6 l atmosférico”, explica Franceschi (na base da decisão está a alteração dos regulamentos por parte da FIA que baniu os motores acima de 1.3 l nesta categoria).

Por isso a potência pôde aumentar de 185 cv para 208 cv e o binário de 190 Nm para 290 Nm, deixando antever prestações de nível naturalmente superior, mesmo perdendo-se um pouco do dramatismo do motor atmosférico que conseguia chegar bem perto das 8000 rpm. Este motor tricilíndrico é, aliás, o mesmo do carro de estrada, só que aqui foi aplicado um turbo maior, além de uma gestão mais “puxada” da Magnetti Marelli, o que foi determinante para que a potência saltasse dos 130 cv do 208 1.2 de série para estes 208 cv (e a impressionante potência específica de 173 cv/l).
Outras informações importantes a reter: os travões são, naturalmente, mais potentes, é usado um diferencial autoblocante neste carro de tração dianteira e amortecedores ajustáveis da Ohlin, sendo o peso em seco do Peugeot 208 Rally 4 de 1080 kg, para poder respeitar o limite de 1280 kg definido pela FIA (já com piloto e co-piloto a bordo e todos os fluídos necessários para o carro andar).

Fácil de guiar
O polegar hirto da mão esquerda de Franceschi autoriza-me a acordar o motor, que mostra logo um tom de voz engrossado e muito mais presente no cockpit do que nos 208 com que nos cruzamos diariamente nas nossas estradas. A embraiagem (pesada…) só serve para engrenar a 1ª e a partir daí é só puxar a alavanca para ir subindo a contagem das mudanças e a velocidade até ao primeiro conjunto de pinos a fazer de curvas sucessivas.

A direção é muito direta para que os pilotos a sério não tenham de se desdobrar em movimentos excessivos de braços, mas fica a sensação de facilidade de controlo do carro, pelo menos em ritmos moderados — a ideia é perceber como o carro pisa o asfalto, não tentar bater o recorde de volta em Terramar… Até porque com um preço de 66 000 euros, mais impostos, o 208 Rally 4 não é propriamente uma pechincha e ao meu lado há alguém muito mais habilitado para essa façanha a voar baixinho na oval com pendentes máximas de 60º, se fosse essa a ideia.
Acelerador e travão têm pedais bastante duros que combinam com a condução viril, mas intuitiva, onde se destaca a agilidade da resposta do motor desde os regimes iniciais, numa combinação bem sucedida de peso ligeiro do carro, sobrealimentação e resposta pronta típica dos motores de apenas três cilindros.

Ou tremendamente rápido e eficaz
Claro que quando Franceschi passou para o volante, o que me tinham parecido prestações promissoras e comportamento competente, deram lugar a uma resposta geral realmente muito eficaz do chassis mesmo a um ritmo alucinante, com espaço para algumas “atravessadelas” provocadas pelo campeão da Peugeot Cup de França de 2019, para inflacionar a nota artística (e técnica, já agora…):
“no geral o carro ficou muito menos nervoso do que o R2 e mais fácil de pilotar. É chegar à curva, travar forte, rodar o volante e acelerar a fundo e tudo sai com a maior das naturalidades, o que é importante porque muitos dos pilotos serão amadores e/ou pouco experientes”.
Palavra de piloto.

Especificações Peugeot 208 Rally 4
PEUGEOT 208 RALLY 4 | |
---|---|
CARROÇARIA | |
Estrutura | Monocoque Peugeot 208, reforçada com um arco de proteção multiponto soldado |
Carroçaria | Aço e plástico |
MOTOR | |
Tipo | EB2 Turbo |
Diâmetro x Curso | 75 mm x 90,48 mm |
Cilindrada | 1199 cm3 |
Potência/Binário | 208 cv às 5450 rpm/290 Nm às 3000 rpm |
Potência específica | 173 cv/l |
Distribuição | Dupla árvore de cames à cabeça, 4 válv. por cil. |
Alimentação | Inj. dir. pilotada por caixa Magnetti Marelli |
TRANSMISSÃO | |
Tração | Dianteira |
Tração | Dianteira |
Embraiagem | Duplo disco de cerâmica/metálico, diâmetro de 183 mm |
Cx. de Velocidades | Sequencial SADEV de 5 vel. |
Diferencial | Mecânico com autoblocante |
TRAVÕES | |
Frente | Discos ventilados de 330 mm (asfalto) e 290 mm (terra); pinças de 3 pistões |
Trás | Discos de 290 mm; pinças de 2 pistões |
Travão de mão | De comando hidráulico |
SUSPENSÃO | |
Esquema | MacPherson |
Amortecedores | Ohlins reguláveis, 3 vias (compressão a baixa e alta velocidade, batente) |
RODAS | |
Jantes | Speedline 7×17 e Speedline 6×15 |
Pneus | 19/63-17 e 16/64-15 |
DIMENSÕES, PESOS E CAPACIDADES | |
Comp. x Larg. x Alt. | 4052 mm x 1738 mm x 2553 mm |
Pesos | 1080 kg (mínimo) / 1240 kg (incluindo pilotos) |
Depósito Combustível | 60 l |
PREÇO | 66 000 euros (mais impostos) |
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