Forthing S7. Berlina chinesa sabe a pouco e tem preço elevado

Não consigo encontrar um grande argumento para comprar o Forthing S7.

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É o novo normal. Mais uma marca chinesa a chegar ao mercado nacional. Desta vez, chama-se Forthing e chega com o S7, uma berlina 100% elétrica que quer ir à luta com modelos como o Volkswagen ID.7, BYD Seal, Tesla Model 3 e Mazda 6e.

Escrevi “ir à luta” e não “ir à guerra” para não dar azo a más interpretações. É que a Forthing pertence à Dongfeng que, além de produzir automóveis, também fabrica material militar — não só veículos, mas também mísseis de última geração.

Continuando na linguagem belicista, o importador nacional, a Solmotor — empresa do Grupo Auto-Industrial —, apresenta este modelo com tendo um “preço canhão”: 43 mil euros. Mas será assim tão bom negócio?

É isso que vamos tentar perceber nas próximas linhas, após um primeiro teste pelas ruas de Lisboa e vias rápidas circundantes.

Interior suficiente

Há carros cuja beleza está no interior. É o caso do Forthing S7, cujo design exterior não podia ser mais genérico. Não desagrada, mas também não apaixona.

Por dentro, destaca-se a simplicidade — quase não há botões físicos. A maioria das funções é operada através de um ecrã tátil de 14,6”, complementado por um painel de instrumentos de 8,8” atrás do volante.

A posição de condução é correta e o volante de dois braços tem bom tato. Os bancos são confortáveis, embora ofereçam pouco apoio lateral. A qualidade dos materiais e da montagem é suficiente: não impressiona, mas também não dececiona.

Atrás, para uma berlina com quase cinco metros, esperava-se mais espaço. A bagageira tem apenas 398 litros — a que se somam 50 litros adicionais no frunk, a bagageira dianteira.

Tudo é funcional, mas pouco entusiasmante. Como explicar? Não falta nada, mas também nada surpreende. Pode ser que em movimento o cenário mude.

Condução suficiente

O cenário não mudou. O Forthing S7 continua a cumprir sem falhas, mas também sem brilho. Comecemos pelo motor.

Esta unidade estava equipada com um motor elétrico traseiro de ímanes permanentes com  154 kW (209 cv) e 310 Nm. Pouco? A marca fala em potência suficiente — e é difícil discordar. Mais de 200 cv são, de facto, suficientes para a maioria dos cenários.

A bateria, com química LFP, tem 56,8 kWh de capacidade e anuncia 420 km de autonomia (ciclo combinado WLTP). Suporta carregamentos rápidos até 120 kW, o que permite ir dos 30% aos 80% em 25 minutos — não é, de todo, um valor excecional.

Em cidade, com algumas incursões por vias rápidas, os consumos andaram pelos 14 kWh/100 km. Ou seja, cerca de 400 km de autonomia real em ambiente urbano. Fora da cidade, esperem valores mais próximos dos 300 km.

Onde o Forthing S7 se destaca é no conforto. A suspensão, independente às quatro rodas, é muito macia e digere bem pisos irregulares. Mas não esperem um comportamento dinâmico envolvente. A marca apostou tudo no conforto. Felizmente, a eletrónica ajuda a manter tudo sob controlo quando se exagera um pouco.

Preço… suficiente?

O S7 custa 43 mil euros, com tudo incluído. Literalmente — não há opcionais. Bancos aquecidos e com regulação elétrica, sistema de infoentretenimento com Apple CarPlay, pacote completo de assistências à condução… tudo de série.

Ainda assim, 43 mil euros continuam a ser… 43 mil euros. É um valor cerca de 20 mil euros mais baixo do que o pedido por um Volkswagen ID.7, mas o modelo alemão é superior em quase tudo: autonomia, espaço, potência, construção.

Os rivais mais diretos acabam por ser o Tesla Model 3 (mais barato e eficiente) e o futuro Mazda 6e, que promete um design mais apelativo, melhor imagem de marca e argumentos técnicos mais afinados. E claro, há também o BYD Seal.

Ou seja, mesmo dentro do nicho das berlinas elétricas, a concorrência é forte. Se alargarmos o leque aos SUV, as alternativas disparam.

É verdade que este é apenas o primeiro passo da Forthing em Portugal e o importador está a investir seriamente na cobertura nacional — não só com pontos de venda, mas também com um stock relevante de peças. Mas, para já, o caminho não será fácil.