Testei o Mercedes-Benz CLE que faz mais de 100 km sem gastar uma gota

O Mercedes-Benz CLE 300 e conseguiu surpreender tanto pelo sistema híbrido como pela lista de opcionais.

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Já passou mais de um ano desde que tive o meu primeiro contacto com o Mercedes-Benz CLE Coupé. Na altura, foi com o motor Diesel (220 d) que era capaz, com alguma facilidade, de uma autonomia superior a quatro algarismos.

Agora, é a vez do híbrido plug-in, o CLE 300 e, que combina um motor de 2,0 litros, turbo e a gasolina, com um motor elétrico. Mas já lá vamos.

Ainda antes de entrar, não há como não admirar as linhas deste CLE coupé da Mercedes. Podem ser das mais simples da marca, mas trazem com elas uma herança de décadas que não fazem questão de esconder. E ainda bem.

Em conjunto com esta, estão os traços que aproximam o CLE Coupé das novidades mais recentes da marca de Estugarda. Como o desenho dos grupos óticos dianteiros e da enorme barra a unir as óticas traseiras, quase ao jeito do capacete de um Stormtrooper (Guerra das Estrelas).

Na abertura das portas sente-se um peso substancial, não só pelo seu tamanho, mas também pelo que inclui no seu interior. O que não existe, tal como na maioria dos coupés, são as molduras das janelas.

Tipicamente Mercedes-Benz

Depois de me sentar ao volante e de um braço mecânico trazer o cinto de segurança para perto do meu ombro, a familiaridade é grande. A posição de condução baixa é muito boa, a qualidade dos materiais está acima da média e a montagem é sólida, dando uma noção elevada de robustez. Mas a imagem, colada à do Classe C, já merecia uma atualização.

Por se tratar de um coupé de quatro lugares, os traseiros podem não ser os mais desejados, mas não são impossíveis de utilizar e conseguem transportar adultos. O acesso é facilitado pelo deslizar automático do assento dianteiro. Ainda assim, é necessária alguma técnica.

Menos positiva é a volumetria da bagageira que, por se tratar da versão híbrida plug-in, perdeu 130 litros face aos outros CLE: 290 litros contra 420 litros. Tudo porque o único espaço disponível para arrumar a bateria de 19,5 kWh do sistema híbrido, é sob o piso da bagageira, obrigando-o a subir preciosos centímetros.

Ambiente mais tecnológico

Em frente do condutor estão presentes dois enormes ecrãs, já habituais. Um é destinado à instrumentação e o outro, mais ao centro e vertical, serve para controlar o sistema de infoentretenimento e aceder à maioria das funções existentes.

O sistema MBUX continua a ser um dos mais completos do segmento, com resposta rápida, comandos por voz eficazes e integração sem fios com Apple CarPlay e Android Auto.

Ainda assim, a ausência de alguns comandos físicos pode dificultar a utilização em andamento. E devido a algumas opções não instaladas nesta unidade, a assistente virtual que responde ao “Olá Mercedes”, ainda fica muitas vezes sem saber o que fazer.

Abaixo do ecrã principal, uma fila de comandos táteis facilita o acesso às funcionalidades mais utilizadas, como os modos de condução, o acesso à página das configurações e ao volume do sistema de som. É também aqui que está o leitor de impressões digitais, capaz de identificar o utilizador e ajustar todas as configurações (pré-definidas) ao seu gosto.

À noite, o sistema de iluminação ambiente ajuda a criar uma imagem mais sofisticada a bordo. Pode ser personalizada com diversas cores, intensidade, ou podemos selecionar combinações pré-definidas pelo sistema.

Entre o passado e o presente

A configuração deste coupé é pura tradição: o motor de quatro cilindros está posicionado longitudinalmente à frente e a tração é traseira. A caixa de velocidades é automática e tem nove relações, com comandos manuais nas hastes integradas atrás do volante. Mas esta função está disponível apenas no modo Sport.

No modo Híbrido ou EV (elétrico), os modos por defeito quando ligamos o carro, as hastes servem para ajustar a intensidade da recuperação de energia em desaceleração ou travagem.

Por ser híbrido plug-in, é preciso fazer contas para calcular a potência: 204 cv (150 kW) do motor térmico, mais 129 cv (95 kW) do motor elétrico, entregam um total combinado de 313 cv (230 kW) e 550 Nm de binário (os picos de potência acontecem em momentos distintos, por isso não podemos simplesmente somar).

A receita tradicional de motor à frente e tração atrás encontra aqui uma solução de locomoção moderna, que revelou ser forte em performance como eficiência. Mais do que as prestações — 6,3s nos 0 aos 100 km/h e 236 km/h de velocidade máxima —, são os mais de 600 km de autonomia que sobressaem, graças ao depósito de 50 litros e à bateria de 19,5 kWh.

CLE 300 e com consumos «impossíveis»

Em modo 100% elétrico, a marca anuncia até 113 km de autonomia (ciclo combinado WLTP), o que já permite para muitos uma rotina diária sem gasto de combustível. Mas foram as médias de consumo que fui registando ao longo do teste que impressionaram.

Claro que podem variar bastante, de acordo com os percursos e carga na bateria, mas em modo híbrido, cheguei a registar valores tão baixos como 2,5 l/100 km e 7,8 kWh/100 km, com a parte elétrica por si só, a efetuar três quartos do percurso.

No final do teste, a média de consumo fixou-se em 4,8 l/100 km de gasolina e em 10,8 kWh/100 km de eletricidade — do total de quilómetros, 56% foram elétricos. Nada mal, para um coupé com mais de 300 cv de potência e 2100 kg de peso, que não se fez rogado a fazer também trajetos mais retorcidos a ritmos mais vivos.

Mas este coupé da Mercedes prefere mais devorar quilómetros com o cronómetro desligado. Assim, o CLE 300 e não só prova que é um híbrido perfeito para o dia a dia, como também está sempre pronto para sair e beber um café a 300 quilómetros de casa.

“Tem tudo e mais não sei quê”

É uma frase que associo à voz de Ricardo Araújo Pereira e à campanha publicitária que protagoniza, mas também a alguns carros que tenho testado. Especialmente os das marcas premium europeias como… a Mercedes-Benz.

No que diz respeito a este CLE 300 e Coupé, foi justamente a lista de opcionais que me despertou muita curiosidade. Está pronto? Aqui vai: pintura metalizada (1000 euros) e consola central com look de estrutura metálica (200 euros). Pronto, é isso. Acabei.

Atípico para o rol de opcionais que as unidades de teste costumam trazer, mas neste caso, praticamente tudo o que vê faz parte do equipamento de série e do preço final de 75 550 euros. A lista é extensa e inclui elementos que normalmente até são opção. Não falta o pacote da AMG, exterior e interior, a navegação, os assentos em pele, o teto panorâmico e tantas outras coisas.

Ainda assim, para os mais exigentes, continuam disponíveis inúmeros opcionais que podem deixar este Coupé mais ao seu jeito. Umas jantes de dimensão mais generosa, por exemplo, poderiam dar uma grande ajuda no visual e aprimorar a dinâmica. Mas claro, qualquer extra vai pesar no preço final.