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Tesla queria vender 20 milhões de carros por ano mas objetivo parece ter caído

Elon Musk tinha traçado o objetivo de vender 20 milhões de Tesla por ano no final da década. A realidade tratou de rever essa ambição.

Model 3 Performance - detalhe da ótica
© Tesla

Foi em 2020, durante o evento Battery Day que ouvimos, pela primeira vez, Elon Musk falar na ambição de vender 20 milhões de Tesla por ano até 2030. Foi apenas uma pequena frase, dita a correr, que quase passou despercebida e mais parecia ser uma gaffe.

Afinal, 20 milhões de unidades por ano é o dobro do que a Toyota (o maior grupo automóvel do mundo) vende. Como é que a Tesla, que na altura se preparava para atingir as 500 mil unidades anuais, iria dar esse salto colossal no espaço de uma década?

Porém, não foi um engano. Musk repetiu e reforçou a mensagem em múltiplas ocasiões, até tão recentemente como o ano passado. Essa ambição desmesurada, no entanto, até tinha algum fundamento.

Elon Musk durante o Investor Day 2023
© Tesla

Tudo porque o crescimento da Tesla nos últimos anos e especialmente após 2020 até 2023 foi fulgurante: de praticamente meio milhão de unidades a 1,8 milhões em quatro anos é um feito impressionante por si só. Para mais, um feito conseguido durante uma pandemia e consequente crise logística.

As previsões do próprio Musk de que a Tesla conseguiria crescer 50% ao ano, todos os anos, até chegar às 20 milhões de unidades por ano, pareciam estar ao seu alcance. Para isso contava com o lançamento de um modelo mais acessível — alcunhado de Model 2 —, que, combinado com um segundo modelo derivado da mesma plataforma, aumentaria as vendas da Tesla em cinco milhões de unidades por ano. Por si só este é um número deveras excecional, para não dizer quase-impossível: o Model Y foi o carro mais vendido do mundo em 2023 e «ficou-se» pelas 1,23 milhões de unidades.

Mesmo tendo esses novos modelos mais acessíveis em consideração, mais as vendas da gama atual e da Cybertruck, nem nas projeções mais otimistas dá para chegar às… 10 milhões de unidades. Para chegar às 20 milhões de unidades só com muito mais modelos e mais mercados de volume, como a Índia.

Realidade

A realidade, no entanto, acaba de desferir um golpe decisivo às ambições da Tesla em vender 20 milhões de unidades por ano. O primeiro trimestre de 2024 não foi nada bom para o construtor norte-americano, tendo registado a primeira quebra de vendas em muitos anos (-8,5% em relação ao primeiro trimestre de 2023).

Não parece que este cenário vá mudar nos próximos tempos. A Tesla enfrenta agora muito mais concorrência que antes (sobretudo na China), como a própria procura por automóveis elétricos está a desacelerar em várias regiões chave.

Talvez como reação a um contexto em rápida mudança, o elétrico dos 25 mil dólares, o tal de “Model 2”, parece ter ficado pelo caminho. Elon Musk decidiu concentrar os esforços da Tesla no desenvolvimento de um táxi-robô, que vai ser revelado no próximo mês de agosto. Contudo, não terá, nem de perto, as mesmas expetativas de volume do “Model 2”, do qual deverá herdar alguns aspetos técnicos.

Talvez, por tudo isto (e até mais), o Relatório de Impacto 2023 da Tesla tenha deixado cair o objetivo de 20 milhões de carros por ano, ao contrário do que se lia nos relatórios de 2021 e 2022. Agora o objetivo é mais ambíguo, como se lê no relatório:

“Para cumprirmos a nossa missão, temos de conceber produtos que sejam muito superiores em tudo às alternativas com recurso a combustíveis fósseis, obtê-los e fabricá-los da forma mais sustentável possível e vender todos os que conseguirmos.”

Tesla, Relatório de Impacto 2023