Crónicas Quando menos é mais: ensaio sobre a diversão ao volante

Prazer de conduzir

Quando menos é mais: ensaio sobre a diversão ao volante

Paixão automóvel e prazer de condução não é sobre números e não têm unidade de medida... Menos às vezes é de facto mais diversão!

Drift Mercedes C63 AMG

Todos nós hoje vivemos sob a ditadura dos números. São os números da crise, do desemprego, dos automóveis, da potência. Será mesmo necessário?

A indústria automóvel vive hoje um frenesim matemático. São os números de vendas, as potências máximas, os binários, o tamanho das rodas, as quotas de habitabilidade, tudo! Ao ponto dos mais incautos jornalistas correrem sérios riscos de se tornarem aborrecidos matemáticos, que ao invés de debitarem por escrito as experiências e emoções que sentem ao volante, debitam aborrecidos e repetitivos números.

Felizmente, há lugar para todos e todos fazem falta. Continuando…

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Citroen AX
Citroen AX 1.0 Ten em Nurburgring. Exactamente igual ao meu primeiro carro.

Parte da culpa reside nesta nova face cinzenta e apagada do indústria automóvel. A obsessão pela perfeição, segurança e performance fez as marcas esquecerem o foco de uma ruidosa minoria: a paixão, emoção e a adrenalina da condução.

Compreendo que um pequeno utilitário ou um monovolume familiar sejam máquinas tão aborrecidas como o Natal dos Hospitais ou o Festival da Eurovisão. Mas já não concebo que um desportivo, de boas famílias e com um motor digno desse nome, seja um mero míssil teleguiado, onde o condutor e as suas ordens são relegadas para segundo plano. De condutor a mero espetador, a eficácia passou a ser a palavra de ordem e a diversão uma mera consequência.

Hoje qualquer «nabo» pega num desportivo com mais de 300 cv e faz um circuito em tempo «canhão», sem sequer experimentar um suor frio numa curva feita um pouco mais depressa, ou um toque no acelerador mal calculado. Tornou-se tudo demasiado “higiénico”. Quero fazer um arranque perfeito primo um botão. Curva perfeita? Rodo aquele comando. Onde é que foi parar aquele nervoso miudinho de pegar num carro que supostamente está para além das nossas capacidades, e suar uma t-shirt com adrenalina em estado bruto? Será que esse sentimento ainda existe?

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Dodge Challenger
Exemplo de um carro que deve curvar ainda pior do que trava e mesmo assim é épico!

E mesmo que exista. Onde é que está escrito que um carro para ser fantástico tem de ter potência a jorrar por todos os poros, um grip digno de um Fórmula 1 e curvar com toda a elegância e compostura? Não está escrito em lado nenhum, nem tem de estar.

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Às vezes basta ser viril, teimoso e mal comportado. Por outras palavras: ter personalidade. Por isso é que muitos de nós guarda tanta estima a modestos modelos com o: Citroën AX: Golf‘s antigos; Datsun 1200; BMW’s velhos; Mercedes ferrugentos (isso existe?); Porsches pós-II Guerra Mundial; ou pequenos carros japoneses como o Mazda MX-5.

Ford Fiesta
Diversão garantida num carro que está longe de ser um “puro-sangue”

Paixão automóvel e prazer de condução não têm unidade de medida, afirmação que nos remete para o título deste artigo: menos às vezes é de facto mais.

Felizmente ainda vão perdurando honrosas excepções a este marasmo de números e unidades de medida. E às vezes, para tornar um carro pouco memorável num fantástico automóvel, basta carregar num botão, ou quiçá mudar simplesmente os pneus.

Para atestar esta minha teoria conspirativa contra a modernidade, vejam este vídeo onde o famoso Chris Harris se diverte mais com menos… borracha!