Clássicos BMW 530 MLE. O avô do M5 era um puro especial de homologação

Especial de homologação

BMW 530 MLE. O avô do M5 era um puro especial de homologação

O BMW 530 MLE é um verdadeiro especial de homologação, um campeão dos circuitos sul-africanos, nascido anos antes do primeiro M5.

BMW 530 MLE, 1976

Já não é a primeira vez que “tropeçamos” num BMW raro made in África do Sul — lembram-se do 333i, a alternativa sul-africana ao M3 E30, que não foi comercializado lá? Agora, descobrimos por lá que havia também um verdadeiro especial de homologação, o BMW 530 MLE.

É a primeira vez que temos conhecimento de um especial de homologação com base no Série 5 — sabem da existência de mais algum? Mesmo o BMW M5, o pináculo dos Série 5, nunca nasceu para competir, ao contrário do primeiro M3.

O BMW 530 MLE é anterior ao primeiro M5 (E28), nascido em 1985; e até é anterior ao primeiro M535i, cuja primeira versão surgiu ainda na geração E12, a primeira geração do Série 5 — o 530 MLE é o “avô” de todos os Série 5 de altas prestações.

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Vencer ao domingo…

… vender à segunda-feira é a velha máxima para qualquer construtor automóvel se envolver no mundo da competição. A BMW não é diferente. E foi nesse sentido que resolveu, a meio da década de 70, participar no campeonato de Modelos de Produção Modificados (Modified Production Series) da África do Sul.

Com a preciosa colaboração de Jochen Neerpasch, piloto alemão e diretor da então recentemente criada BMW M GmbH, não foi preciso esperar muito para ter dois BMW Série 5 (E12) prontos a competir.

Só que, para o poderem fazer, os regulamentos obrigavam a que fossem produzidas pelo menos 100 unidades de estrada para efeitos de homologação, nascendo assim o BMW 530 MLE ou Motorsport Limited Edition em 1976.

BMW 530 MLE, 1976

530 MLE, o que faz dele especial

Como qualquer especial de homologação que se preze, também o 530 MLE diferia dos restantes Série 5 em aspetos cruciais, para uma superior performance em circuito.

Por fora, destaque para a aerodinâmica revista, visíveis no novo e substancial para-choques dianteiro, mais próximo do solo, e no spoiler traseiro, ambos em fibra de vidro. A pintura, com as listas tri-coloridas, típicas da M, eram de série. As rodas, únicas ao 530 MLE, provinham da Mahle.

Alguns relatos referem que a carroçaria do 530 MLE recorria a aço de bitola mais leve. Confirmadas estão outras soluções para o aligeirar: buracos foram feitos manualmente em alguns painéis, assim como as dobradiças da bagageira e o pedal da embraiagem foram furados. Vidro mais fino nas janelas laterais também foi usado.

A bateria foi movida para a bagageira (para melhorar distribuição de peso), e o banco traseiro passou a ser feito de espuma. O interior distinguia-se também pelo volante desportivo único, o manípulo da caixa em madeira e pelos bancos tipo baquet da Scheel. Vidros manuais e ausência de ar condicionado completavam o conjunto.

Mecanicamente, o seis cilindros em linha de 3.0 l de capacidade recebeu a atenção da M — nada de reprogramações, afinal estamos nos anos 70, pré-eletrónica. O straight-six recebeu uma árvore de cames de perfil mais agressivo, carburadores Zenith e um novo e majorado filtro de ar. Ganhou ainda um radiador de óleo e um volante-motor de competição.

Tudo isto resultou em 200 cv e 277 Nm (177 cv no 530 regular), 9,3s nos 0 aos 100 km/h e 208 km/h de velocidade máxima — a versão de competição debitava à volta de 275 cv.

Sucesso dentro e fora dos circuitos

O BMW 530 MLE revelou-se dominador nos circuitos. Com Eddie Keizan e Alain Lavoipierre aos seus comandos em 1976, conseguiram 15 vitórias em 15 corridas consecutivas, três campeonatos (também) consecutivos conquistados, altura em que a concorrência finalmente os apanhou.

BMW 530 MLE, 1976

O sucesso nos circuitos refletiu-se no sucesso comercial do especial de homologação e também na percepção da BMW como uma marca desportiva e uma rival a temer nos circuitos.

Apesar de caro para a altura, não foi impedimento para as 110 unidades produzidas em 1976 (Type 1) encontrarem rapidamente dono. Em 1977 seriam produzidas mais 117 unidades (Type 2) que também não tiveram dificuldade em serem “despachadas”.

BMW 530 MLE, 1976
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#100

Este importante pedaço de história das berlinas desportivas da BMW foi o motivo pelo qual a BMW África do Sul empenhou-se em encontrar uma unidade sobrevivente do raro 530 MLE.

BMW 530 MLE, 1976
Antes do restauro.

Ao fim de alguns anos, encontraram a unidade #100 em 2018, a necessitar de um profundo restauro — esta estava na posse de Peter Kaye-Eddie, antigo piloto e um dos gestores da equipa de competição dos 530 MLE.

É precisamente essa unidade que ilustra este artigo.

BMW 530 MLE, 1976