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Condução totalmente autónoma? Vai demorar muito e só com marcas a cooperarem

Há muito envolvido na condução autónoma, Stan Boland, cofundador e CEO da Five, a maior empresa de software de condução autónoma da Europa, aposta numa visão realista para a aplicação desta tecnologia.

Interior sem volante

Após um ano de «ausência física», a Web Summit está de regresso à cidade de Lisboa e nós não faltámos à chamada. Entre os muitos tópicos discutidos não faltaram os relacionados com a mobilidade e o automóvel, e a condução autónoma mereceu especial destaque.

Contudo, a expectativa e a promessa de carros 100% autónomos para «amanhã», estão a dar lugar a uma abordagem muito mais realista acerca da sua implementação.

Algo que ficou bem patente na conferência “How can we make the autonomous vehicle dream a reality?” (Como é que podemos fazer do sonho do veículo autónomo uma realidade?) com Stan Boland, cofundador e diretor executivo da maior empresa de software de condução autónoma da Europa, a Five.

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Stan Boland, CEO e cofundador da Five
Stan Boland, o diretor executivo e co-fundador da Five.

Surpreendentemente, Boland começou por relembrar que os sistemas de condução autónoma são “dados a erros” e por isso mesmo é preciso “treiná-los” para enfrentar os mais diversos cenários e o ambiente complexo das estradas.

No “mundo real” é mais difícil

Na opinião do CEO da Five, a principal razão para um certo “abrandamento” da evolução destes sistemas foi a dificuldade de os fazer funcionar “no mundo real”. Estes sistemas, segundo Boland, funcionam na perfeição em ambiente controlado, mas para que funcionem igualmente bem nas caóticas estradas do “mundo real” é preciso mais trabalho.

Que trabalho? O tal “treino” para preparar os sistemas de condução autónoma para enfrentarem o maior número de cenários possível.

As «dores de crescimento» destes sistemas já levaram a própria indústria a adaptar-se. Se em 2016, auge da ideia da condução autónoma, se falava em “condução autónoma” (“Self-Driving”) agora as empresas preferem usar o termo “Condução Automatizada” (“Automated Driving“).

No primeiro conceito o automóvel é verdadeiramente autónomo e conduz-se sozinho, com o condutor a ser um mero passageiro; já no segundo e atual conceito, o condutor tem um papel mais ativo, com o carro a assumir o controlo total da condução somente em cenários muito específicos (por exemplo, em autoestrada).

Testar muito ou testar bem?

Apesar da abordagem mais realista à condução autónoma, o CEO da Five continua a ter confiança nos sistemas que permitem a um automóvel “conduzir-se sozinho”, dando como exemplo do potencial desta tecnologia sistemas como o cruise control adaptativo ou o assistente de manutenção na faixa de rodagem.

Ambos estes sistemas estão cada vez mais disseminados, têm fãs (clientes dispostos a pagar mais para os ter) e são já capazes de ultrapassar alguns desafios/problemas com que se possam deparar.

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Já no que respeita aos sistemas de condução totalmente autónoma, Boland relembrou que mais do que percorrer muitos milhares (ou milhões) de quilómetros em testes, é importante que estes sistemas sejam colocados à prova nos mais diversos cenários.

Tesla Model S Autopilot

Ou seja, de nada serve testar um carro 100% autónomo no mesmo percurso, se este não tiver praticamente trânsito nenhum e for composto maioritariamente por retas com boa visibilidade, mesmo que se acumulem milhares de quilómetros em testes.

Em comparação, é muito mais proveitoso testar estes sistemas no meio do trânsito, onde estes terão de enfrentar inúmeros problemas.

Cooperar é crucial

Reconhecendo que há uma parte considerável do público disposta a pagar para usufruir de sistemas de condução automatizada, Stan Boland relembrou que neste momento é crucial que as empresas do setor tecnológico e os fabricantes de automóveis trabalhem em conjunto se o objetivo é mesmo fazer com que estes sistemas continuem a evoluir.

Five Ai
A Five está na vanguarda da condução autónoma na Europa, mas nem por isso deixa de ter uma visão realista desta tecnologia.

No seu entender, o know-how das empresas de automóveis (seja nos processos de fabrico ou nos testes de segurança) é crucial para que as empresas do ramo tecnológico continuem a evoluir estes sistemas no caminho certo.

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Por isso mesmo, Boland aponta a cooperação como algo crucial para ambos os setores, neste momento no qual “as empresas tecnológicas querem ser empresas de automóveis e vice-versa”.

Deixar de conduzir? Nem por isso

Por fim, quando questionado se o crescimento dos sistemas de condução autónoma poderá levar as pessoas a deixarem de conduzir, Stan Boland deu uma resposta digna de um petrolhead: não, pois conduzir é bastante divertido.

Apesar disso, admite que algumas pessoas possam ser levadas a abdicar da carta, mas apenas num futuro algo longínquo, pois até lá é preciso “testar muito mais do que o «normal» para garantir que as questões com a segurança da condução autónoma estão todas asseguradas”.

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