Desde 30 750 euros
BMW 116d. Precisamos mesmo de pequenos familiares com tração traseira?
Ao volante do BMW 116d, o mais vendido da gama, tentamos responder à questão se a tração traseira num pequeno familiar vale mesmo a pena.

A sucessão da atual geração do BMW Série 1 F20/F21, segundo os rumores mais recentes, acontecerá em 2019. Daquilo que já sabemos, a única certeza que temos sobre o sucessor do Série 1 é de que dirá adeus à tração traseira. Adeus motor longitudinal e tração traseira, olá motor transversal e tração dianteira — cortesia da plataforma UKL2, a mesma base que equipa o Série 2 Active Tourer, o X1 e até o Mini Clubman e Countryman.
O Série 1 perderá assim o seu USP (Unique Selling Point). Ou seja, perderá a característica que o demarcava dos restantes rivais — característica que se manteve desde o primeiro BMW neste segmento, o Série 3 Compact, lançado em 1993.
Outra vítima, com esta mudança de arquitetura, serão os motores de seis cilindros em linha — digam também adeus ao M140i, o único hot hatch do mercado que combina tração traseira com um motor com tantos centímetros cúbicos e cilindros.

O último da sua espécie
O F20/F21 torna-se assim, o último da sua espécie. Único em muitos aspetos. E nada melhor que celebrar a sua existência com uma gloriosa e épica saída de traseira.
Olhando ao aspeto da unidade que acompanha as imagens, a coisa prometia — a vistosa carroçaria em Azul Seaside, conjugada com a Edição Line Sport Shadow e as jantes de 17″, dão um aspeto bastante mais apelativo e adequado aos propósitos de uma condução mais empenhada, a que um tração traseira da BMW convida.

Mas o carro que estou a conduzir não é um M140i, nem sequer um 125d, mas um muito mais modesto 116d — sim, o preferido das tabelas de vendas, com 116 “bravos” cavalos e demasiado espaço livre por baixo do longo capot, já que três cilindros é quanto basta para mover este Série 1.
Por mais que apreciemos a ideia de possuir um hot hatch de tração traseira e 340 cv, independentemente das razões, são as versões mais acessíveis, como este BMW 116d que acabam nas nossas garagens. Eu entendo porque e vocês também…

Tração traseira. Vale a pena?
Do ponto de vista dinâmico, a tração traseira traz muitas vantagens — separar as funções de direção e tração pelos dois eixos faz muito sentido e nós já explicámos porquê aqui. A direção deixa de ser corrompida pelo eixo motriz e, por norma, é palpável a maior linearidade, progressividade e equilíbrio face a um tração dianteira correspondente. Simplesmente, tudo flui, mas, como em tudo, é uma questão de execução.
Os ingredientes estão lá todos. A posição de condução, muito boa, é mais baixa que a norma (apesar da regulação manual do banco não ser a mais simples); o volante tem uma excelente pega e os comandos são precisos e têm peso, por vezes até demais — sim, embraiagem e engrenagem da marcha-atrás, estou a olhar para ti —; e até nesta modesta versão 116d a distribuição de peso pelos eixos está próxima do ideal.
Mas, lamento dizer, o enriquecimento da experiência de condução que a tração traseira poderia trazer parece não estar lá. Sim, a direção limpa e o equilíbrio estão lá, assim como a fluidez, mas a BMW parece ter jogado pelo seguro. Já conduzi pequenos e desproporcionados crossover capazes de cativar mais ao volante do que este Série 1. Heresia? Talvez. Mas pode até ser precisamente isso que procuram os clientes de um BMW 116d: previsibilidade e poucas reações do chassis.
Sobre o motor
Talvez não seja o chassis, mas a combinação deste chassis com este motor em particular. Nada de errado com o motor em si, um tricilíndrico de 1.5 litros de capacidade com 116 cv e generosos 270 Nm.
Acorda verdadeiramente após as 1500 rpm, sobe de rotação sem hesitações e os médios regimes permitem prestações mais que capazes para o dia-a-dia. Mas dado a fluidez e progressividade da condução, o motor parece quase um erro de casting, falhando no refinamento oferecido.

A sua arquitetura tricilíndrica, por natureza desequilibrada, revela-se, não só no som nada inspirador que produz, apesar da boa insonorização, mas também nas vibrações, sobretudo no manípulo da caixa de velocidades — caixa que obriga a mais esforço ou determinação que o habitual para engrená-las.
Outra nota menos positiva para o nada suave sistema de start-stop — parece ser mais um senhor solavanco. Ao fim destes anos todos, a BMW ainda não acertou com este sistema. De resto, é um bom motor, solicito face às pretensões desta versão e de apetite moderado.
Tração traseira não é amiga das famílias
Se a tração traseira é o que torna o Série 1 único no segmento, é essa mesma distinção que se torna num entrave enquanto carro familiar. O posicionamento longitudinal do motor, assim como o eixo de transmissão, acabam por roubar imenso espaço ao habitáculo, como colocam dificuldades acrescidas em aceder aos lugares traseiros (portas pequenas). A bagageira, por outro lado, convence em larga medida — capacidade dentro da média do segmento, com uma boa profundidade.

De resto, interior tipicamente BMW — bons materiais e montagem robusta. O iDrive continua a ser a melhor forma de interagir com o sistema de infoentretenimento — bem melhor que qualquer ecrã tátil —, e o interface em si é rápido, atrativo e razoavelmente intuitivo de usar.
Como já referimos, a nossa unidade trazia o pacote Edição Line Sport Shadow — uma opção de 3980 euros —, e além de um pacote estético exterior (deixa de haver cromados, por exemplo), o interior é agraciado com bancos e volante de desenho desportivo, com este último a ser em pele, que sempre ajudam a elevar a aparência do interior.

Para quem é o BMW 116d?
Foi talvez a questão que permaneceu mais durante o tempo que estive com o BMW 116d. Sabemos que o carro tem uma base com um potencial enorme, mas parece, por vezes, “envergonhado” de a ter. Quem estava à espera de um Série 3 compacto, mais ágil, cativante e até divertido, vai apanhar uma desilusão. O motor, apesar de bom em isolamento, acaba por justificar a sua existência apenas pelos consumos e preço final. É a sua arquitetura que torna a convivência com este motor menos fácil do que noutras propostas concorrentes. O BMW 116d fica assim, numa espécie de limbo. Tem tração traseira mas nem podemos tirar partido dela.
Venha de lá o M140i, ou outro Série 1 com mais nervo, que defenderá muito melhor a causa de pequenos familiares de tração traseira. Lamenta-se o fim anunciado da tração traseira neste segmento mas fica a questão: será que esta arquitetura é a mais indicada para o segmento em questão, dado os compromissos a que obriga?
A resposta dependerá daquilo que cada um valorizar. Mas no caso da BMW, a resposta chega já em 2019.

Preço
unidade ensaiada
Versão base: €30.750
IUC: €143
Classificação Euro NCAP:
- Motor
- Arquitectura: 3 cilindros em linha
- Capacidade: 1496 cm3
- Posição: Longitudinal dianteira
- Carregamento: Inj. Dir., Common Rail, Turbo Geometria Variável
- Distribuição: 2 a.c.c., 4 válvulas por cilindro
- Potência: 116 cv às 4000 rpm
- Binário: 270 Nm entre as 1750 e as 2250 rpm
- Transmissão
- Tracção: Traseira
- Caixa de velocidades: Manual de 6 velocidades
- Capacidade e dimensões
- Comprimento / Largura / Altura: 4329 mm / 1765 mm / 1421 mm
- Distância entre os eixos: 2690 mm
- Bagageira: 360 l
- Jantes / Pneus: 225/45 R17
- Peso: 1425 kg
- Relação peso/potência: 12,28 kg/cv
- Consumo e Performances
- Consumo médio: 4,0 l/100 km
- Emissões de CO2: 104 g/km
- Vel. máxima: 200 km/h
- Aceleração: 10,3s
- Garantias
- Mecânica: 5 anos ou 100 000 km
-
Equipamento
- Volante multifunções
- Sensor de chuva
- Controlo automático de luzes de condução
- Apoio de braços dianteiro com ajuste deslizante
- BMW Service Inclusive - 5 anos/100 000 km
- Serviços ConnectedDrive
Avaliação
- Posição de condução
- Comportamento sem vícios
- iDrive
- Apresentação do interior
- Habitabilidade/acessibilidade
- Conjunto motor/chassis
- Refinamento
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