Crónicas O novo Honda Civic Type R foi o meu amor de verão

Paixões

O novo Honda Civic Type R foi o meu amor de verão

Tenho de confessar: há uns meses tive um amor de verão. Foi curto, intenso, durou meia dúzia de horas e hoje vou revelar-vos tudo.

Honda Civic Type R

Uns vão discordar de mim. Porque gostam de uma mulher discreta, que podem apresentar à família, aos amigos e levar à missa aos domingos sem ter de contratar um exorcista primeiro.

Vocês que não gostam de uma jovem “alternativa”, que faz questão de pintar o cabelo de vermelho fluorescente e de usar tatuagens nos sítios mais inesperados, não vão perceber. E não adianta, o tempo não vai fazer desaparecer essa vertigem para o exagero, está-lhe no sangue.

Outros vão odiar-me por ter passado largas e tórridas horas com a mulher que andam a querer namorar há meses. Alguns vão até mesmo querer saber onde moro para tirar tudo a limpo, porque ela vos prometeu a mão em casamento lá para o final deste ano, mas eu já tenho umas valentes histórias para contar sobre as curvas e contra curvas que percorremos juntos, num bailado infernal.

Agora a sério, agarrem-se à cadeira. Eu vi esta mulher aguentar mais de 50 voltas em circuito, sem suar. Senhoras e senhores, o novo Honda Civic Type R.

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Honda Civic Type R
O Lausiztring é o cenário perfeito para um encontro amoroso.

Prólogo

O convite antevia algo verdadeiramente épico: a oportunidade de testar em estrada e em circuito unidades de pré-produção do novo Honda Civic Type R. Os mais atentos certamente se recordam – uma das imagens partilhadas no nosso Instagram nesse dia teve mais de 4 mil gostos. Tenho hoje 4 mil pessoas que me odeiam (ou será que me amam? Nunca saberei).

Sendo isto um prólogo, merece uma breve nota sobre as especificações. E sobre isso abre este artigo e aprende tudo, mas mesmo tudo, sobre o novo Honda Civic Type R. Agora que tens a lição bem estudada, vamos ao que interessa.

Primeiro encontro: temos de falar da suspensão.

Em estrada o novo Honda Civic Type R é um excelente companheiro e não se deixem enganar: o look agressivo não significa desconforto, pois nesta nova geração foi introduzido um novo e importante perfil de condução, o modo Comfort.

Modo Comfort Diogo? Mas este carro é para andar sempre com a faca nos dentes e loucos da vida!

E eu respondo: nos vossos sonhos mais íntimos isso é verdade. Até a mais fogosa das mulheres vai querer ir ao cinema convosco mesmo SÓ para ver aquele filme do Spielberg. Da mesma forma que numa perspetiva de utilização regular, não vão fazer do vosso trajeto diário uma corrida do campeonato nacional de velocidade e parar o carro à porta do trabalho a cheirar a borracha queimada. Ok, estes paralelismos se calhar estão a ir longe de mais…

Honda Civic Type R

O facto de o Honda Civic Type R ser mais largo (2 mm), mais baixo (36 mm) e mais comprido (165 mm) em relação à anterior geração, não significa uma diminuição no conforto de um carro que já era rijo o suficiente no seu “modo normal”. Com este modo Comfort, o Honda Civic Type R torna-se numa proposta quase bipolar – já vamos ao modo +R.

Isto é possível graças a um programa de amortecimento adaptativo que altera a resposta da suspensão em função da nossa condução. O sistema EPS, de rácio variável, é calibrado individualmente em cada um dos três modos de condução selecionáveis: “Comfort”, “Sport” e “+R”.

Honda Civic Type R
Lá dentro está tudo no sítio certo, sem grandes devaneios (os bancos vermelhos são da praxe). A caixa é um obra de arte e os materiais daqui a 20 anos estão iguais a novos.

Este sistema recorre a unidades atualizadas de amortecedores com três câmaras, concedendo uma gama muito mais ampla de variabilidade da força de amortecimento, nos cursos de tensão e compressão da suspensão, mediante o programa de condução escolhido: “Comfort”, “Sport” ou “+R”.

No Honda Civic Type R, colocar a velocidade para lá dos 200 km/h é muito fácil, muito fácil mesmo. Depois de largos quilómetros percorridos em autoestradas sem limite de velocidade, é fácil de perceber o trabalhado realizado ao nível do escalonamento da caixa, que permite que seja quase desnecessário reduzir para efetuar uma ultrapassagem.

Temos de falar um pouco mais da suspensão…

Como é que isto tudo funciona? A resposta está nos sensores.

Honda Civic Type R
A traseira imponente e a asa gigante já começam a ser habituais. As três saídas de escape são o mais recente toque dramático num pacote cada vez mais expressivo.

O controlo independente contínuo da força de amortecimento nos quatro amortecedores é ativado através do ajuste da corrente enviada às bobinas eletromagnéticas, no interior dos amortecedores, utilizando a informação de um conjunto de sensores G espalhados pelo novo Honda Civic Type R. Estão a ler japonês? Mais ou menos.

Dás tanto nas vistas, mas ninguém te ouve falar

Temos de falar do elefante na sala. Porque é que um carro com 3 saídas de escape não se deixa ouvir? Este é talvez um dos grandes defeitos do Honda Civic Type R e eu lanço as perguntas para cima da mesa: desde quando é que um hot hatch passou a ser uma manifestação meramente visual? Onde é que está a exteriorização audível de todo o investimento realizado em tornar este carro num dos desportivos compactos mais apetecíveis do momento?

Soltar o demónio

Quando nas boxes do Lausitzring coloco um capacete, rapidamente esqueço o detalhe da fraca nota de escape. “Isto é a sério”, penso para os meus botões. Por esta altura, o Tiago Monteiro devia estar preocupado com o que ia jantar naquele dia, porque para ele iam ser só mais 8 voltas a meio gás e à espera de 3 comuns mortais.

Honda Civic Type R
O 2.0 VTEC Turbo debita uma potência máxima de 320 cv às 6500 rpm e um binário máximo de 400 Nm, entre as 2500 rpm e 4500 rpm.

Tão rápido, tão eficaz, tão…perfeito. A reta da meta termina com uma travagem forte (travão a fundo muito perto dos 200 km/h) e logo na primeira secção de curva-contracurva fico a saber que estou ao volante de algo muito especial: vamos tão rápidos e tão “direitos” que mesmo provocada, a traseira mal se sente. Podem travar em apoio sem medo, quem manda ali é o condutor. Nesta geração do Civic Type R, há uma melhoria da rigidez à torção de 37% e uma melhoria da rigidez da flexão estática de 45%.

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O motor sente-se forte “em baixas”, o que permite sair rapidamente de uma curva e colocar novamente o velocímetro em números interessantes. Já o modo +R faz toda a diferença – aquela menina bem comportada à frente dos pais, castrada pelo modo Comfort, passa rapidamente a “Bully” com o simples premir de um botão. Mais rijo, mais responsivo, +R…acreditem, vocês vão delirar perante tamanha diferença de comportamento.

Honda Civic Type R
Isto é o que o condutor vê e não é preciso mais nada.

Este primeiro contacto ao Honda Civic Type R, fez-me pensar no quanto gosto cada vez mais de tecnologia. Exceptuando talvez o McLaren F1, Lotus Elan e uma mão cheia de outros ícones da indústria, há muitos outros desportivos analógicos que são excelentes “poster cars” da nossa infância e companheiros do nosso imaginário…e ficamos por aí. Já conduziram um Lancia Delta Integrale? Não conduzam. Fiquem na linda e perfeita ignorância, ou arriscam-se a perder um herói de infância como eu perdi. Pronto, já o disse, juntem-se mais 4 mil pessoas e venham atrás de mim.

Muitos de vós viveram essa época e esses sentimentos analógicos, que como bem sabem, só regressam ao rodar da chave de um clássico. O Honda Civic Type R é analógico? É, na medida em que tem um motor de combustão interna, volante, pedais e uma das melhores caixas de 6 velocidades que o Homem conseguiu criar. Tudo o resto é magia eletrónica, da boa, tipo Luís de Matos das quatro rodas. Quem é que não gosta de uma boa sessão de magia?

Honda Civic Type R
À espera de entrar em pista, uma visão que não me importava de ter todos os dias ao acordar.

Essa magia, esse toque digital que todas as marcas estão a colocar nos seus carros (não confundir com condução autónoma, guardo isso para outro artigo) e que os tornam mais rápidos, seguros e eficazes, aqui tem mais um ponto a seu favor: a Honda faz tudo isso, mas coloca-nos um sorriso na cara. E caramba, no final do dia não há nada como uma mulher que nos faz sorrir.

Agora vou só ali explicar à minha mulher que tenho apenas um amor na minha vida.