Clássicos Rally de Portugal: o princípio do fim do Grupo B

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Rally de Portugal: o princípio do fim do Grupo B

O dia 5 de março de 1986 será para sempre recordado pelos piores motivos. Neste dia ocorreu uma tragédia que ditou o «princípio do fim» do Grupo B no Mundial de Ralis.

Rally de Portugal 1986, Lancia Delta S4

Aqueles que viveram a loucura dos ralis na década de 80 dizem que foi uma época única. Carros de ralis com mais de 500 cv, equipados com o melhor que a tecnologia tinha para oferecer.

Em poucas palavras uma categoria de automóveis, filha da prosperidade económica e da liberdade técnica fomentada pela FIA.

As marcas não tinham limitações técnicas nem financeiras e faziam de tudo para tornar os carros de Grupo B cada vez mais mais rápidos. Chamavam-lhes “Fórmula 1 das estradas”. Uma alcunha que não nasceu em vão, e que foi alimentada por mitos, mas que infelizmente não passam de boas histórias para contar aos amigos.

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Grupo B - Sintra
Grupo B — Sintra

Além de potentes, os Grupo B eram difíceis de conduzir. Agora adicionem a esta equação um público pouco esclarecido quanto aos perigos que corriam… era uma questão de tempo até uma tragédia acontecer.

O medo que alguma tragédia viesse a acontecer concretizou-se em Portugal a 5 de março de 1986, num dos episódios mais negros da história do Mundial de Ralis: a tragédia da Lagoa Azul.

Na zona de Sintra, quase meio milhão de pessoas juntou-se para ver passar o Rally de Portugal. As bermas da Serra de Sintra, Lagoa Azul, transformavam-se em bancadas improvisadas para ver, ouvir e sentir a emoção dos carros de ralis. Bancadas que infelizmente não chegavam para todos. Era praticamente impossível para as entidades organizadoras e para a polícia controlar uma massa humana daquela dimensão.

Foi logo na 1.ª especial de classificação que Joaquim Santos, ao evitar alguns espetadores, perdeu o controlo do seu Ford RS200 e abalroou a multidão que estava naquela zona. Uma mulher e o seu filho de apenas nove anos tiveram morte imediata. Mais de 30 pessoas ficaram feridas.

Nesse mesmo dia, os pilotos oficiais reuniram-se no Hotel Estoril-Sol e elaboraram um comunicado que entregaram à organização, onde decidiram por unanimidade abandonar a prova.

Foi a forma de protesto encontrada pelos pilotos para manifestarem o seu desagrado com a falta de condições de segurança. Walter Röhrl liderava o protesto, mas o comunicado seria lido por Henri Toivonen.

Comunicado abandono da prova - Hotel Estoril-Sol 1986
Comunicado abandono da prova — Hotel Estoril-Sol 1986 © Camber, Pneus e Gasolina

Nesse documento (na imagem acima), os pilotos invocavam três motivos para não continuarem em prova: o respeito pela famílias das vítimas; não haver meios para garantir a segurança dos espetadores; o facto do acidente mortal ter sido causado pelo desvio do piloto a espetadores que estavam na estrada e não por condições inerentes ao carro (anomalia mecânica).

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Apenas um mês depois, Henri Toivonen, subscritor do comunicado do Hotel Estoril-Sol viria a sofrer um acidente fatal no Rali da Córsega. No ano seguinte acabavam os Grupo B. Aqui fica a partilha de um registo histórico que marcou o principio do fim de uma era. Uma era que será para sempre recordada, pelos melhores e pelos piores motivos…