Novo Renault 4 resolve o maior problema do R5

Não foram precisos muitos quilómetros para justificar os dois mil euros de diferença deste Renault 4 para o R5.

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A Renault continua empenhada em ressuscitar os seus clássicos com roupagens modernas e elétricas e depois do sucesso do R5, chega agora o novo Renault 4 E-Tech.

Na base, a fórmula é a mesma: aliar um imagem retro-futurista a um interior moderno. Mas se o Renault 5 convence pela irreverência, o Renault 4 apresenta-se como uma proposta mais crescida, capaz de piscar o olho a uma pequena família.

No papel, parece ser um Renault 5 mais versátil, mas será que cumpre com tudo o que promete? Mais importante ainda: será este elétrico um digno herdeiro do lendário 4L? Fomos à procura da resposta nas ruas de Lisboa:

Fato por medida

A base e as soluções técnicas podem ser as mesmas do Renault 5 ou do novo Nissan Micra, mas não são precisos muitos segundos a olhar para o novo Renault 4 para lhe reconhecer carisma e personalidade.

Apesar dos traços inspirados no modelo original (que chegou a ser produzido em Setúbal) serem facilmente reconhecidos, foi tudo feito com «conta, peso e medida». Nada está exagerado ou fora de sítio. Tudo encaixa de forma orgânica.

Por isso mesmo, a este nível, tiro o chapéu aos designers da marca gaulesa: fizeram um trabalho tremendo com o Renault 5 e voltaram a superar-se neste R4. 

Não sei se esta estratégia do retro-futurismo é a mais acertada (ou desejada pelos clientes) para o período que vivemos, mas uma coisa é inegável: ninguém a está a fazer melhor do que a Renault (deixo também uma palavra de apreço para o que a FIAT fez com o Panda).

Mais versatilidade

Com 4,14 m de comprimento, o R4 é 9 cm mais curto do que o Captur, mas é 22 cm mais comprido do que o Renault 5, o suficiente para lhe dar mais argumentos no que toca ao espaço e para lhe dar uma presença mais robusta.

Os lugares traseiros são, de resto, a maior limitação do Renault 5. E a marca francesa procurou corrigir isso no novo R4. E conseguiu.

A evolução face ao R5 também é inquestionável na bagageira, com o Renault 4 a oferecer praticamente o mesmo volume que encontramos no «irmão» Captur, que é 9 cm mais comprido.

São 375 litros de capacidade de carga, aos quais se somam 55 litros «escondidos» por baixo de um alçapão no piso da bagageira, que permite acomodar (não só) os cabos de carregamento.

Se não for suficiente, então saiba que é possível rebater por completo os bancos traseiros, ação que nos permite elevar a capacidade de carga deste elétrico para os 1149 litros.

Falta alguma diferenciação

Já que estamos no interior, importa referir que é decalcado do Renault 5. Isto não é um problema, longe disso, até porque o interior do R5 é um dos melhores do segmento.

Porém, gostava que a Renault tivesse olhado para ele apenas como um ponto de partida e não como uma solução fechada. Afinal estamos perante um nome histórico dentro do catálogo da Renault. E isso, a meu ver, justificava uma maior diferenciação no design do interior.

É claro que se comprar um Renault 4 e conviver diariamente com este interior, isto nunca será uma questão: os acabamentos estão em bom nível, temos detalhes muito cuidados (quer ao nível do tabliê quer ao nível dos bancos), um volante confortável e um sistema de infoentretenimento (com ecrã de 10’’) muito agradável de utilizar.

A integração com o smartphone faz-se sem fios, ainda que seja possível contar, de forma nativa, com aplicações do ecossistema Google (Waze ou Google Maps são exemplos disso), que tornam a experiência de utilização ainda mais agradável.

Tal como acontece com o Renault 5, há um assistente virtual — chamado Reno — à disposição, navegação em tempo real com procura de carregadores (e pré-condicionamento da bateria), sistema de som Harman & Kardon e uma lista com mais de 20 sistemas de ajuda à condução.

Duas versões disponíveis

O Renault 4 E-Tech assenta na plataforma AmpR Small (exclusiva para modelos elétricos), recorre a um motor elétrico dianteiro (pode ter 120 cv ou 150 cv) e apresenta-se com dois tipos de baterias NMC, com 40 kWh (autonomia de até 309 km) ou 52 kWh (até 408 km de autonomia) de capacidade.

Ao contrário do que acontece com o Renault 5, a versão com motor de 90 cv — a tal que irá custar 25 mil euros —, não será oferecida. Uma decisão que me parece correta, dado as maiores ambições familiares do Renault 4.

Na versão mais potente, é capaz de acelerar dos 0 aos 100 km/h em 8,5s e a velocidade máxima fixa-se nos 150 km/h. E depois de uma centena de quilómetros por Lisboa, posso dizer-vos que não é preciso mais.

Cheguei a andar em vias rápidas e em autoestrada e nunca senti falta de potência ou performance. Até porque, lá está, está longe de ser o foco deste modelo, estando mais orientado para o conforto, distanciando-se do R5.

Diferente do R5

Se o R5 se sente mais firme e reactivo, com um toque desportivo bastante marcado, o Renault 4 é mais confortável, suave e estradista. Mesmo com jantes de 18’’ montadas (não há outra medida disponível).

Apesar de terem acertos distintos, ambos recorrem a uma suspensão traseira multi-link, algo raro de encontrar em modelos do segmento B. É uma solução que proporciona um comportamento dinâmico superior e um pisar mais sofisticado face ao convencional eixo semirrígido, com barra de torção.

Por ter uma afinação que privilegia mais o conforto de rolamento, a suspensão do R4 absorve melhor as irregularidades do asfalto e reduz os ressaltos em pavimentos mais degradados.

Por outro lado, sentimos mais a inclinação da carroçaria em curva, ainda que a um nível muito comedido, sem que chegue a beliscar a experiência de condução ao volante, que também convence pela eficiência da máquina elétrica.

Autonomia anunciada é real

Outro capítulo onde o Renault 4 E-Tech impressionou foi nos consumos. A Renault tem sido capaz de fazer máquinas elétricas eficientes, mas mesmo assim, fiquei surpreendido com o facto de ter conseguido andar em cidade (com idas pontuais a vias rápidas e autoestradas) com médias em torno dos 10,5 kWh por cada 100 km percorridos.

Naturalmente, numa utilização menos cuidada, ou que implique muita autoestrada, estes números vão subir. Mas isso é válido para qualquer elétrico à venda.

Mas durante este primeiro contacto, mesmo com o ar condicionado ligado, a nota para os consumos foi muito positiva. E quer dizer que podem encarar as autonomias anunciadas pela marca com confiança.

Preço adequado

Quando olhamos para a versão base do Renault 4, a Evolution — 120 cv e 40 kWh —, constatamos que o preço de 29 500 euros é apenas dois mil euros superior ao do Renault 5 equivalente. É uma diferença justa e fácil de justificar, já que o R4 acrescenta versatilidade e espaço à fórmula vencedora do R5.

Se escolherem uma versão semelhante à que testei, vão ter de pagar bastante mais: é a versão Iconic, com 150 cv e bateria de 52 kWh. Os preços começam nos 37 mil euros, ainda que com exceção da pintura e do sistema de som Harmon & Kardon, já tenha praticamente tudo.

Nesta faixa de preço, aproximamo-nos de outro tipo de propostas, com mais potência, mais autonomia e, acima de tudo, mais espaço. A boa notícia é que, a meu ver, não é obrigatório olhar para as versões mais equipadas para levar para casa um modelo completo.

Sobretudo se este for o segundo carro da casa, para as necessidades diárias. A versão mais equilibrada parece-me claramente a Evolution com 150 cv e bateria de 52 kWh, que arranca nos 33 mil euros.

Veredito