Ensaio Mazda MX-5 1.5 RF. Mais carros assim se faz favor

Desde 30 861 euros

Mazda MX-5 1.5 RF. Mais carros assim se faz favor

O Mazda MX-5 RF é uma inovadora adição à já longa história do roadster japonês. No entanto, valerá mesmo a pena perante o "clássico" capota de lona?

O ano: 2007. Já se prolongava há algumas semanas a procura por um novo carro. Tinha de ser algo que fosse divertido de conduzir, uma missão complexa dado o curto orçamento. A minha lista de candidatos resumia-se, basicamente, a uma mão cheia de pequenos hot hatch franceses da década de 90 — encontrar um que não tivesse sido “escafiado” até ao último parafuso revelou-se difícil. Porém, outros candidatos foram considerados — até um Honda Prelude teve na lista, dado o seu preço, que caía semana a semana.

Numa dessas pesquisas, “tropecei” num anúncio de um pequeno roadster japonês — sim, um Mazda MX-5, primeira geração, o dos faróis escamoteáveis. Nunca os tinha considerado antes, mas o preço encaixava no orçamento e melhor, estava apenas a 2 km de casa. Sempre considerei descapotáveis criaturas comprometidas, dado a ausência de capota — carros soft, de passeio e apenas para o “estilo”, e, como muitos, uma capota de lona a dormir ao relento gerava alguma preocupação.

Mazda MX-5 RF

A minha curiosidade perante o MX-5 referia-se, sobretudo, à tração traseira. Até então nunca tinha conduzido, na estrada, um carro de tração traseira, e tudo o que lia sobre o Mazda MX-5 referia em como era uma excelente escola para aprendermos a lidar com um eixo traseiro motriz.

Bastaram cinco minutos

O que vou relatar a seguir deve ser uma experiência comum a muitos donos de MX-5 antes de serem… donos de MX-5. Bastou apenas um test drive, e em menos de cinco minutos já tinha esquecido os hot hatch e todos os outros carroseu tinha de ter um brinquedo destes! Nunca tinha conduzido nada tão imediato nas suas respostas, tão ágil, tão “mecânico”. Parecia uma extensão dos meus membros — fiquei imediatamente “agarrado”! A capota recolhida apenas exacerbou a muito sensorial experiência.

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Mesmo com 90 “castrados” cavalos a precisar de quase 12 segundos para atingir os 100 km/h — os hot hatch que tinha em vista simplesmente o humilhavam em prestações —, acabou por ser com o pequeno roadster que aprendi, definitivamente, a apreciar mais a experiência de condução e a forma como o carro comunica connosco e com a estrada,  do que a objetividade analítica dos números. Há carros mais rápidos e eficazes, mas poucos, considerando até o seu preço, conseguem cativar como um MX-5.  Estava decidido — o MX-5 veio mesmo para casa.

10 anos depois

Avancemos para 2017. Feliz coincidência que, exatamente 10 anos após ter adquirido um MX-5, termine o ano de 2017 a testar um Mazda MX-5, geração ND, a mais recente. E apesar do que as imagens mostram — um MX-5 2.0 RF vermelho, com caixa automática —, o carro que motivou este teste era totalmente preto (até as jantes), com o mais modesto 1.5 e a caixa certa, manual de seis velocidades. E não poderia ser mais apropriado — também o meu MX-5 NA era preto, tinha o motor base e caixa manual.

Este teste acabou por se tornar mais pessoal do que imaginaria, pois fez recordar muitas experiências ao volante do meu MX-5. Conseguiria o novo cativar-me de igual forma?

MX-5, onde estás tu?

Os primeiros sinais não foram prometedores. Bancos aquecidos… num MX-5! Bem vindo ao século XXI. Há dez anos atrás só desejava mesmo era um ar condicionado — os donos de MX-5 sabem do que estou a falar…  aquele túnel de transmissão podia ser uma “brasa”… Com bancos aquecidos, sistema de navegação e infoentretenimento, sensores de estacionamento, uma panóplia enorme de equipamentos de assistência à condução e até um teto elétrico,  o novo Mazda MX-5 parece ter saído de uma utopia burguesa.

Até no estilo, o Mazda MX-5 ND não poderia estar mais distante do NA. Não têm nada em comum, apenas leves evocações ao simpático MX-5 original. As proporções são agora muito mais clássicas e desportivas — capot mais longo, habitáculo em posição recuada e maior foco em linhas dinâmicas com uma pitada de agressividade. Não parece o MX-5 que conhecemos, mas, pessoalmente, acho uma reinvenção bastante conseguida.

Mazda MX-5 RF

No entanto, não é perfeito. A estranha nervura que nasce na porta e sobe sobre o arco de roda traseiro é ainda mais evidenciada no RF (retractable fastback). Tudo porque parece ainda menos integrada no todo com a presença dos pilares laterais — de alguns ângulos fica mesmo muito estranho. Novo desenho, equipamentos sofisticados e até uma carroçaria inédita. MX-5, onde estás tu?

Diferente, mas igual a ele próprio

Acreditem, não foi preciso muito para encontrá-lo. Bastou dar à chave, ou, neste século, carregar no botão, e apontar o carro à primeira curvaaqui está ele. Reproduz fielmente as características que apreciamos na condução do Mazda MX-5: o tato mecânico, a agilidade e as respostas imediatas. Mas não se ficou apenas por aqui.  Esta geração trouxe argumentos novos.

Em destaque, o motor. Sejamos honestos: nenhum MX-5 alguma vez destacou-se pelo motor. Cumpriam o seu objetivo de motivar a máquina e nada mais. Eu até referia o 1.6 do meu NA como algo bastante industrial — se me dissessem que o motor tinha nascido para estar num trator ou a servir de gerador, não iria ficar surpreendido. Mas o 1.5 do ND é claramente outra história.

Esta pequena unidade tem apenas 131 cv e 150 Nm e nem um turbo à vistaabençoado seja. Querem performance? Têm de se esforçar por ela. É rápido q.b. (8,3s dos 0 aos 100), mas é a forma como o motor entrega tudo o que tem para dar que faz deste um pequeno grande motor. Responde de forma limpa desde as baixas rotações e caracteriza-se por um linear crescendo até às 7000 rpm, e sempre com uma excelente voz — mais do que qualquer criatura de voz grave sobrealimentada equivalente.

A resposta acutilante do acelerador está em perfeita consonância com todos os outros comandos e imediatez do eixo dianteiro. A experiência de condução pura continua lá. Se existe um carro que possa defender a causa dos motores atmosféricos e caixas manuais, é o MX-5.

E que caixa — é o companheiro perfeito para o motor. Vocês vão querer puxar pelo motor, e recorrer à caixa, muitas e muitas vezes. Curso curto, precisa como poucas, e apesar de leve no manuseio — o oposto da do NA que tive —, o tato é excelente, a manter o feel mecânico que tanto apreciava no meu MX-5.

É o melhor motor que já equipou o MX-5! E o mais económico — a tecnologia SKYACTIV aqui a demonstrar toda a sua eficácia. Conseguir consumos confortavelmente abaixo dos 6,5 litros não é nada de outro mundo — os 90 cv do meu NA facilmente atiravam-se para os 9,0 e o melhor que consegui foi 7,5. Evolução, meus caros, evolução… 

M de modesto?

O foco do Mazda MX-5 sempre foi mais gozo ao volante do que eficácia pura. É demasiado soft para ser um desportivo 10/10 — para extrair toda a performance latente,  existe todo um universo de preparadores. Conduzimos em estradas públicas, pelo que quero acreditar que grande parte do seu apelo resida precisamente na sua modéstia.

Mazda MX-5 RF

Não são necessários centenas de cavalos ou limites dinâmicos capazes de provocar inveja a um superdesportivo para apreciarmos o MX-5. Os limites dinâmicos são mais baixos, assim como as prestações — não haverá MX-5 à procura de recordes no Nürburgring —, o que permite explorar mais do motor e do chassis durante mais tempo e a velocidades mais moderadas.

É de apreciar a prontidão de resposta dos comandos e do eixo dianteiro, a direção direta e livre da corrupção de estar acoplada a um eixo motriz. O carro simplesmente flui pela estrada, conduzindo-se pela “ponta dos dedos”.

Mesmo a ritmos pedestres, continua a ser uma experiência de condução mais interessante que outras tipologias comuns. Sentamo-nos no “rés-do-chão”, as pernas vão mais esticadas que o habitual, vemos as extremidades do capot elevarem-se através do para-brisas e a tatilidade dos comandos é superior a quase tudo o que nos cruzamos na rua.

Apesar de tudo, a posição de condução podia ser melhor. O banco ainda está um pouco alto e o volante só pode ser regulado em altura — mesmo assim, encaixei melhor no ND do que alguma vez encaixei no meu NA.

X de “Não é para todos”

Naturalmente, nem tudo é bom. Não deixa de ser um roadster, de pequenas dimensões, com todas as limitações daí inerentes. Dois lugares apenas, o do passageiro amaldiçoado por uma bossa na zona dos pés, e nem sequer um porta luvas tem. Aliás, espaços de arrumação são praticamente inexistentes, mas um porta-copos inútil colocado entre os bancos, atrás dos ocupantes, está presente.

A bagageira é pequena, muito pequena, mais pequena do que a do NA que tive. Dá para levar uns sacos de compras e até serve para umas escapadinhas no fim de semana. E só a conseguimos abrir com o comando — algo que descobri após alguns longos minutos irrecuperáveis da minha vida.

Para os que considerem um Mazda MX-5 para o dia-a-dia, apraz-me dizer que as suas dimensões compactas — mais curto que o NA —, o bom raio de viragem e a suspensão macia tornam-no numa interessante e exótica alternativa a utilitários e citadinos. Isto para quem não se importa de conduzir numa selva urbana de crossover e SUV. Para alguns entrar e sair poderá ser mais difícil, dado a baixa altura, mas nada de problemático.

O lado descapotável

Portugal esteve num período de seca prolongada, mas imaginem só o que aconteceu durante os dias em que o Mazda MX-5 RF esteve nas minhas mãos. Pois! Chuva — finalmente! Não deu para conduzir de cabelos ao vento.

Mazda MX-5 RF

Posso afirmar que a capota é rápida a abrir e fechar — apenas 12 segundos e dá um belo espectáculo. De memória, num breve contacto durante o verão, a percepção que fica do RF é que conduzimos um targa e não um roadster. Curiosamente, apesar do teto metálico tornar o RF melhor insonorizado do que o soft-top quando fechado, acaba por gerar mais turbulência no interior, quando aberto.

Quanto mais simples, melhor

Respondendo à minha pergunta inicial, não há dúvidas de que o novo MX-5 mantém os ingredientes que fizeram o sucesso deste modelo desde a sua apresentação em 1989. Cativante? Definitivamente. Mas estaria o RF entre as minhas escolhas? Dificilmente. Sou da opinião que, quanto mais simples o MX-5, melhor. E isso implica não só a capota de lona manual e muito menos equipamento — sem prescindir do ar condicionado, óbvio.

A unidade testada por mim estava cheia de opcionais que puxavam o preço para próximo dos 35 mil euros, o que é bastante. O mesmo nível de equipamento, no soft-top equivale a quase menos 3000 euros. Compreendo que o RF possa apaziguar os receios de ter uma capota de tecido ao relento, mas pela minha experiência pessoal, os receios são infundados — durante grande parte de uma década, os meus únicos carros foram roadster, com capota de lona e sem garagem.

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Quanto ao meu MX-5 NA, mantive-o por três anos. Acabei-o por vender quando descobri o que se escondia por baixo da pintura “nova” e o que me custaria a recuperar a carroçaria — algo que muitos proprietários dos primeiros MX-5 devem estar familiarizados. O que veio no seu lugar conseguiu fazer-me “esquecer” o MX-5, e que contradiz o velho cliché na imprensa automóvel de que a resposta é sempre MX-5. Mas essa história fica para outro dia…

Mazda MX-5 1.5 RF. Mais carros assim se faz favor

Mazda MX-5 1.5 RF Evolve HS Pack HT Navi

8/10

O tipo de carroçaria é uma novidade, mas o MX-5 RF mantém-se fiel ao seu ADN — é um verdadeiro MX-5. O motor é o melhor que alguma vez o MX-5 teve, a caixa continua fantástica, assim como os restantes comandos. Dinamicamente "soft", sem dúvida, mas a sua condução continua cativante como poucos, mesmo a velocidades moderadas. É uma das experiências de condução mais puras no mundo automóvel. Não é muito prático ou espaçoso — não tem porta-luvas e são poucos e pequenos os espaços de arrumação, assim como a bagageira. O preço desta unidade é elevado, já que inclui praticamente todos os opcionais possíveis. O teto metálico apazigua receios e garante melhor insonorização, mas perde-se a percepção de conduzir um descapotável. Pessoalmente acho que quanto mais simples, melhor. Resumindo, poupem uns trocos, prescindam de alguns opcionais e comprem um soft-top… sem bancos aquecidos. Nunca se arrependerão.

Prós

  • Motor + caixa
  • Condução
  • Consumos

Contras

  • Preço da unidade ensaiada
  • Mais Targa do que Roadster
  • Ausência de porta luvas e espaços de arrumação

Versão base:€30.861

IUC: €169

Classificação Euro NCAP: 4/5

€34.506

Preço unidade ensaiada

  • Arquitectura:4 cilindros em linha
  • Capacidade: 1496 cm3 cm³
  • Posição:Dianteira longitudinal
  • Carregamento: Injeção Direta
  • Distribuição: 2 a.c.c., 4 válvulas por cilindro
  • Potência: 131 cv às 7000 rpm
  • Binário: 150 Nm às 4800 rpm

  • Tracção: Traseira
  • Caixa de velocidades:  Manual de 6 velocidades

  • Largura: 3915 mm
  • Comprimento: 1735 mm
  • Altura: 1230 mm
  • Distância entre os eixos: 2310 mm
  • Bagageira: 127 l
  • Jantes / Pneus: 195/50 R16
  • Peso: 1090 kg
  • Peso/Potência: 8,32 kg/cv

  • Média de consumo: 6,1 l/100 km
  • Emissões CO2: 142 g/km
  • Velocidade máxima: 204 km/h
  • Aceleração máxima: >8,3s

    Tem:

    • Sistema de monitorização da pressão pneus
    • Luzes diurnas e faróis LED
    • Volante revestido a pele
    • Cruise Control
    • DSC — Controlo de Estabilidade
    • Airbags frontais e de cortina
    • Ecrã tátil de 7"

Pack HS (High Safety): Ar Condicionado Automático, LDW (avisador de saída de faixa de rodagem), Sensor de Luminosidade e Chuva, Bancos em pele e aquecidos.
Pack HT (High Tecnology): AFLS (Adaptive Front Lighting System), BSM (Blind Spot Monitoring System) com RCTA (Rear Cross Traffic Alert), Sensores Estacionamento Traseiros.
Pack Navi: sistema de navegação.