Voyah Courage. Testámos o modelo mais barato da nova marca chinesa

Menos é mais? O Voyah Courage é a porta de entrada para esta marca chinesa premium e não desilude.

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A Voyah é uma das muitas marcas chinesas a chegar recentemente a Portugal (importada pelo Grupo Salvador Caetano) e o Courage é o seu modelo 100% elétrico de entrada na gama.

Apesar desse estatuto, está longe de ser compacto: com 4,725 m de comprimento e 1,9 m de largura, a marca coloca-o no segmento D e com ambições de fazer frente aos rivais premium europeus.

Visualmente, o Voyah Courage não se destaca, mas também não desilude. O estilo está de acordo com a maioria da oferta deste segmento, destacando-se apenas pelo logótipo da marca iluminado na frente e por detalhes como um pilar lateral traseiro com um desenho mais arrojado, que tenta dar um ar de coupé a este SUV.

Na secção traseira, as letras Voyah deixaram várias pessoas a pensar de que marca ou modelo se tratava, antes de serem distraídas pelas jantes de 20” ou pelo spoiler traseiro de dimensões mais generosas.

O elemento mais diferenciador, no entanto, está na frente, com a presença de discretas entradas de ar no painel negro (iluminado com 215 LED) que substitui a habitual grelha e com as respetivas saídas no capô, com o objetivo de melhorar a aerodinâmica do conjunto.

Para aceder ao habitáculo, há puxadores que se destacam da carroçaria quando nos aproximamos do carro, mas também janelas sem moldura, que vão ao encontro do tal visual premium desejado pela marca.

“Chinesices” ou boas ideias?

No habitáculo do Voyah Courage há uma espécie de conflito de ideias, que variam entre as que não têm qualquer utilidade prática e as que até dão jeito. No primeiro caso, a possibilidade de emitir sons para o exterior do carro — como aplausos, uma assobiadela, um poderoso arroto, o miar de um gato e o ladrar de um cão, mas também a nossa própria voz usando um microfone existente a bordo.

O Courage também pode ser o protagonista de uma coreografia de luzes e som, audível para quem estiver à sua volta, fazendo questão de abrir os vidros e aumentar o volume do sistema de som. Uma das faixas é o “Feliz Aniversário” (em inglês), que até pode dar jeito. Se estivermos com amigos no habitáculo, também podemos usar uma câmara junto do espelho retrovisor central para tirar uma fotografia. Giro? Talvez. Útil? Nem por isso.

Do outro lado do «conflito», há soluções interessantes, como a metade inferior da pala do sol transparente e com um filtro solar, perfeita para quando os óculos escuros não estão por perto. Na consola central, há duas plataformas de carregamento por indução ventiladas e se o enorme monitor tátil central não estiver a ser preciso, podemos deslizá-lo para a frente do passageiro.

Menos prática é a posição inversa dos comandos dos vidros e os comandos táteis no volante que parecem funcionar melhor quando não queremos. E tal como acontece noutros modelos, também o Voyah Courage tem uma quantidade quase infindável de comandos e regulações às quais só conseguimos aceder através de um submenu do ecrã central — direção e fluxo das saídas da ventilação ou mesmo o rebatimento elétrico dos espelhos retrovisores, por exemplo.

Os materiais variam entre os dignos de um segmento premium, como o que se assemelha a camurça ou a pele vegan dos assentos, e alguns plásticos menos conseguidos, a rever numa próxima atualização.

Espaço? Sem problemas

Os SUV 100% elétricos não costumam desiludir na disponibilidade de espaço a bordo. Afinal, a distância entre-eixos tem de ser suficientemente grande para arrumar a bateria do sistema. Mas o Voyah Courage quase que exagera.

Na frente, tanto o espaço disponível como as regulações existentes permitem encontrar facilmente uma posição correta. Atrás, mesmo estando os assentos dianteiros ocupados por pessoas altas, ainda é possível contar com mais de um palmo de distância entre os joelhos e as costas do assento, mesmo que tenha 1,8 m de altura.

Mas há mais. Se precisar de passar mais tempo a carregar do que tinha previsto, pode deitar completamente os bancos dianteiros, que se juntam aos traseiros para formar uma cama. Mais atrás, a capacidade da bagageira é de 527 litros, sendo que sob o piso há um espaço de arrumação com mais de 70 litros de capacidade.

Voltando aos lugares da frente, o condutor não depende apenas do ecrã central para a condução. À sua frente há um minúsculo ecrã, com uma leitura muito fácil, que mostra informações básicas, e o head-up display também dá uma boa ajuda. Tudo o resto, como já referido, é no ecrã central.

Em silêncio por favor

O Voyah Courage de entrada inclui apenas um motor elétrico no eixo traseiro, que produz 215 kW (292 cv) de potência máxima e 420 Nm de binário. A tração é, por isso, traseira, a aceleração dos 0 aos 100 km/h fica abaixo dos sete segundos e a velocidade máxima está limitada a 200 km/h.

Com a bateria (LFP) de 80 kWh, estão anunciados 476 km de autonomia máxima (WLTP), com um consumo de 18,9 kWh/100 km. E de facto, no início deste ensaiio, com a bateria totalmente carregada, era precisamente esse o valor indicado de autonomia. Mas depois, o Voyah Courage foi levado para o mundo real, em dias de calor intenso, com o ar condicionado sempre ligado e com um enorme habitáculo para arrefecer.

Ainda assim, a média global do teste não ficou muito acima do declarado, com 19,4 kWh/100 km, num percurso bastante variado de cidade, estrada e autoestrada. Apesar disto, com uma condução mais ponderada não foi difícil registar valores abaixo dos 18 kWh/100 km, o que não é descabido para um SUV de quase 2,15 toneladas.

Dinâmica sem compromissos

Quem compra um SUV 100% elétrico certamente que não tem o comportamento dinâmico no topo da lista de prioridades. E o Voyah Courage não é exceção, mas não significa que seja mal comportado. Longe disso.

A direção mostrou ser precisa, a suspensão eficaz a absorver as irregularidades e até o tato do pedal do travão é bom. Argumentos que ajudam a despachar quilómetros de uma forma muito ligeira e sem que a maioria dos passageiros dê por isso.

A nota mais importante no Voyah Courage, apesar disso, é a do conforto. Mesmo com a presença de jantes com 20” de diâmetro, este SUV demonstrou ter uma muito boa tolerância às irregularidades do piso, mantendo sempre um ambiente tranquilo a bordo.

Que opcionais deseja incluir? Sim.

Pode ser o degrau de entrada da Voyah em Portugal, mas isso não quer dizer que o Courage seja parco na oferta de equipamento. Muito pelo contrário.

A versão Exclusive, a que pude testar, tem praticamente todos os equipamentos que podemos imaginar num modelo deste segmento e até mais, que fui encontrando ao longo do ensaio, perdidos pelas inúmeras páginas do sistema de infoentretenimento.

Tem um preço de lançamento de 50 mil euros, já com despesas de legalização e transporte incluídas e os 900 euros do único opcional disponível, a pintura metalizada. Tudo o resto faz parte do equipamento de série.

Há ainda uma versão Luxury, de topo, que acrescenta a suspensão pneumática e o aquecimento do volante e dos assentos traseiros. E também um segundo motor elétrico no eixo dianteiro (tração integral), que eleva a potência máxima combinada para os 435 cv.