Opinião O problema das cidades não são os automóveis. São as ideologias

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O problema das cidades não são os automóveis. São as ideologias

Nos últimos anos o automóvel tornou-se no «inimigo público n.º 1» das cidades. Mas está longe de merecer o papel de vilão.

automóvel de traseira a passar por túnel
© Razão Automóvel / Thomas van Esveld

Sempre que oiço falar na criação de novas zonas de emissões reduzidas (ZER) ou na proibição da circulação automóvel dentro das cidades não posso deixar de me lembrar das palavras de Carlos Tavares, CEO da Stellantis, que acusou a Europa de ser “autofóbica”.

Não é preciso um estudo para perceber que, com a exceção de uma minoria que confirma a regra, grande parte dos condutores que vemos «presos» no trânsito todas as manhãs, não escolhem o automóvel por mero conforto individual.

O recurso ao automóvel nas grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, resulta, em grande parte, de uma rede de transportes públicos que não acompanhou a expansão das cidades para os subúrbios. Se formos para o interior do país, então a situação é ainda mais gritante — e de solução ainda mais difícil.

A maioria dos condutores que entram diariamente nas nossas cidades fazem-no para trabalhar e não em lazer. Basta visitar Lisboa num sábado ou num domingo para ver que o movimento na capital decresce significativamente.

Ideias vs ideologias

Atenção que não digo que não haja excesso de trânsito nas «horas de ponta» nas nossas cidades. Contudo, não acredito que este problema se resolva simplesmente com a proibição de circulação de determinados automóveis em certas zonas da cidade.

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Mais do que soluções, as ZER parecem-me o resultado de posições político-ideológicas de determinadas facções políticas. Na prática, o que estas fazem é «varrer para debaixo do tapete» os problemas de mobilidade que assolam as nossas cidades há muitos anos.

Não seria mais fácil (e rápido) implementar medidas como o desfasamento de horários ou fomentar o teletrabalho? O efeito no trânsito fazer-se-ia sentir mais depressa e, ao contrário das ZER, não se correria o risco de haver uma acumulação de tráfego «à porta» das cidades.

Como é óbvio, estas medidas deveriam ser acompanhadas por um reforço e alargamento da rede de transportes públicos. Algo que, felizmente, já se começa a verificar. Proibir é mais fácil, mas, como vimos, não é a melhor solução.

Até lá, não nos tirem a única solução que nos resta: o automóvel. A mobilidade individual também é um direito.