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Carlos Tavares: Custos da eletrificação estão “para lá dos limites” do que a indústria consegue sustentar

Carlos Tavares, responsável máximo da Stellantis, falou ainda sobre as ameaças ao emprego e à qualidade dos veículos, devido à mudança rápida exigida para a eletrificação.

Carlos Tavares CEO Stellantis

Carlos Tavares, o português que lidera o grupo Stellantis, afirma que a pressão externa por governos e investidores para acelerar a eletrificação, ou seja, a transição para veículos elétricos, tem custos, “para lá dos limites” que a indústria automóvel consegue sustentar.

Durante a conferência Reuters Next, na última quarta-feira (1 de dezembro), o líder da Stellantis alertou ainda que esta pressão para acelerar a eletrificação, pode, potencialmente, ameaçar postos de trabalho e até a qualidade dos veículos, devido à dificuldade em gerir os custos mais elevados na produção de veículos elétricos.

O diretor executivo da Stellantis avançou mesmo com um acréscimo de 50% de custo de um veículo elétrico contra o de um veículo convencional.

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Carlos Tavares

"O que foi decidido foi impor a eletrificação à indústria automóvel que traz 50% de custos adicionais contra um veículo convencional (com motor de combustão)."

"Não há forma de transferir 50% de custos adicionais ao consumidor final, porque a maior parte da classe média não vai conseguir pagar".

Carlos Tavares, CEO da Stellantis

Risco de cortes no número de trabalhadores

Tavares continua: “Os construtores podem cobrar preços mais elevados e vender menos unidades ou então aceitar margens de lucro mais baixas”. Independentemente da opção tomada, o diretor executivo da Stellantis considera que ambas irão levar a cortes no número de trabalhadores.

Um alerta que já vimos ser dado por Ola Källenius, diretor executivo da Daimler e também por vários sindicatos, tanto na Europa como nos EUA, que olham com apreensão para esta transição e transformação, a passo acelerado, da indústria automóvel.

Para evitar esse tipo de cortes, os construtores automóveis têm de aumentar a sua produtividade a um ritmo muito superior aos 2-3% habituais na indústria automóvel. “Durante os próximos cinco anos temos que suportar um aumento de 10% de produtividade ao ano”, avançou Tavares. “O futuro vai-nos dizer quem será capaz de suportar isto, e quem vai falhar. Estamos a colocar a indústria (automóvel) no limite.”

Qualidade dos veículos em causa?

O acelerar da eletrificação a que estamos a assistir hoje, segundo Carlos Tavares, pode originar problemas de qualidade mais à frente no tempo. Os construtores de automóveis precisam de tempo para testar e garantir que as novas tecnologias vão funcionar e ser fiáveis.

Peugeot e-2008

Tavares diz que acelerar o processo “vai ser contra-produtivo. Vai levar a problemas de qualidade. Vai levar a todo o tipo de problemas.”

Mas… o preço dos elétricos não vai baixar?

Apesar de se manterem as previsões de que o preço dos veículos elétricos vai baixar e ficar em paridade com o dos veículos com motor de combustão a meio da década, novos dados mostram que pode não ser tão definitivo assim, pelo menos não no intervalo de tempo que tem sido anunciado.

O custo das matérias-primas necessárias para fazer baterias não tem parado de aumentar, o que combinado com a crescente procura destas e os constrangimentos ainda existentes nas quantidades produzidas, poderá significar uma estagnação do preço do kWh nos próximos anos, senão mesmo um aumento. O que se vai refletir no preço final dos veículos elétricos.

Carlos Tavares tinha dito em 2019 que “os veículos elétricos não são democráticos”, em alusão ao seu elevado custo de produção e correspondente preço ao consumidor final. Ouvindo estas suas declarações mais recentes, nada parece ter mudado.

novo fiat 500

Relembramos que a Stellantis, o grupo automóvel que lidera, anunciou no início do verão um mega-investimento de mais de 30 mil milhões de euros até 2025 para eletrificar praticamente todos os seus modelos. Para o efeito, vão ser desenvolvidas quatro novas plataformas capazes de englobar todos os modelos das 14 marcas automóveis do grupo.

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Fonte: Reuters