Porque há uma serpente no logótipo da Alfa Romeo?

O ano de 1910 ficou marcado por vários eventos históricos. Em Portugal, este ano ficou marcado pela Implantação da República Portuguesa e a consequente alteração dos símbolos nacionais — a bandeira, o busto e o hino nacional.

Já em Itália, 1910 protagonizou um outro acontecimento de, igualmente, enorme relevância — pelo menos para nós, petrolheads.

Foi nesse ano que foi fundada a Anonima Lombarda Fabbrica Automobili (A.L.F.A.), na cidade de Milão, Itália. Só mais tarde, em 1920, é que a A.L.F.A. seria rebatizada de Alfa Romeo, em referência a Nicola Romeo, que assumiu a liderança da empresa em 1915, em plena Primeira Guerra Mundial.

A ligação a Milão

O primeiro logótipo da A.L.F.A. estabeleceu, desde logo, todos os elementos que ainda hoje lhe associamos. A sugestão de usar a Biscione, o símbolo da serpente associado à família Visconti, que dominou Milão na época medieval, veio de Romano Cattaneo, amigo próximo de Giuseppe Merosi, engenheiro da A.L.F.A.: “Foi amor à primeira vista”.

No entanto, não era suficiente. Continuava a faltar «algo». Foram precisas várias tentativas para chegar à solução definitiva, mas, no final, quando chegaram, o primeiro logótipo da marca italiana era, acima de tudo, um símbolo à cidade que a viu nascer, Milão.

A Biscione acabou por ficar acompanhado à sua esquerda pela cruz de São Jorge — bandeira e brasão de Milão — sobre um fundo branco. A envolver ambos os símbolos estava um anel azul, representante da Família Real, com a inscrição “ALFA” no topo e “Milano” na base.

A Biscione está a engolir uma pessoa?

O tópico da Biscione ainda hoje gera alguma controvérsia. Estará mesmo a engolir uma pessoa? E de onde veio? Ainda hoje não há consenso entre os historiadores sobre as suas origens ou significado. O que é certo é que está associado à família Visconti e à cidade de Milão deste a Idade Média, do tempo das Cruzadas.

Há quem diga que a serpente está a engolir uma pessoa (simbolizando os Sarracenos derrotados no tempo das Cruzadas, ou até o ser uma inocente criança), podendo ser uma representação do poder e domínio da serpente sob a sua presa. Outros dizem que a serpente está a «dar à luz» uma pessoa, simbolizando a renovação e transformação do ciclo de vida.

Independentemente do significado, a Alfa Romeo nunca abandonou a Biscione como parte da sua identidade, mas este símbolo, assim como o restante logótipo, nunca pararam de evoluir até hoje.

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Já mudou por oito vezes

Desde 1910 até 2015 o logótipo foi alterado por oito vezes, sem nunca perder estes dois elementos identificativos.

Em 1920 foi pela primeira vez alterado, quando a A.L.F.A passou a Alfa Romeo. À inscrição “ALFA” foi acrescentada a palavra “Romeo”.

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Em 1925, após o triunfo no primeiro campeonato mundial de automobilismo de sempre, a Alfa Romeo adicionou uma coroa de louros em redor do logótipo já conhecido.

Depois da II Guerra Mundial (1945), o símbolo é alterado completamente para vermelho com letras douradas, «apagando» as referências à Família Real e à monarquia: o anel azul e os nós Savoy que separavam as palavras “Alfa Romeo” e “Milano”.

Refletia o momento de mudança vivido por Itália, que deixava de ser uma Monarquia e passava a ser uma República. Não durou muito: em 1950, com o lançamento do 1900, as cores originais do logótipo regressavam.

Em 1972, dá-se mais uma «grande» mudança. A Alfa Romeo lançava o Alfasud e este seria o primeiro a ser fábricado fora de Milão, numa nova fábrica perto de Nápoles. O que justificou o desaparecimento da palavra “Milano” do logótipo, tendo desaparecido também o hífen entre “Alfa” e “Romeo”.

Houve mais uma variação deste logótipo em 1982, onde a cor dourada era usada no contorno do anel azul, assim como nas letras.

A última modificação ao logótipo da Alfa Romeo aconteceu em 2015, no seu 105.º aniversário que também coincidiu com a revelação do Giulia.

A separação entre a cruz de São Jorge e a Biscione deixou de existir, com ambos os símbolos a partilharem o mesmo fundo, agora em em cinzento. A cor dourada desapareceu e no seu lugar surgiu um novo prateado e o azul do anel ficou mais escuro.

Mariana Teles

O universo das «quatro rodas» entrou na sua vida por intermédio da Razão Automóvel. É a sua primeira volta no mundo do jornalismo e promete não parar.

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