Clássicos Quando o Volkswagen Carocha conquistou a Antártida

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Quando o Volkswagen Carocha conquistou a Antártida

Conheçam a incrível história de um Volkswagen Carocha que ficou conhecido por "Terror Encarnado". Viajou pela Antártida e ainda ganhou um rali.

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Desde os primórdios do automóvel que os mais audazes tentam conquistar a Antártida em quatro rodas. A primeira tentativa data de 1907, porém o modelo Arrol-Johnston nunca se revelou à altura do desafio. Durante as décadas seguintes, outros veículos tentaram percorrer aquela área sem sucesso. Os problemas mecânicos sucediam-se e alguns nem sequer chegavam a pegar.

Saiu do barco e foi participar no exigente BP Rally de 1964 na Austrália. Não só participou no rali como… ganhou o rali!

Assim durante décadas, quem quisesse percorrer a Antártida de forma relativamente rápida, das duas uma: ou adquiria um dispendioso veículo de lagartas ou pedia boleia a uma matilha de cães. Em dezembro de 1962 um automóvel viria a quebrar o gelo, literalmente.

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Um cientista australiano chamado Roy McMahon, era escolhido para liderar uma missão da Australian National Antarctic Research Expedition (ANARE). Com recursos limitados, McMahon acabaria por escolher um Volkswagen Carocha como veículo oficial da expedição. Disposto a gastar o menos possível, pegou em si e foi apresentar o projeto à Volkswagen Austrália.

Volkswagen Carocha Antarctica

Roy McMahon sabia à partida que se o Carocha conseguisse percorrer com sucesso alguns dos trajetos pensados para a expedição, seria uma extraordinária manobra de comunicação para a marca, que começava naquele ano a produzir Carochas na Austrália. Dito e feito. A Volkswagen achou piada à ideia e doou um Carocha para a missão.

Ao fim de apenas três meses — e apenas com meia dúzia de centenas de quilómetros percorridos em solo australiano — o carro estava pronto para embarcar no navio Nella Dan em direção ao inferno gelado da Antártida.

Volkswagen Carocha Antarctica

As modificações operadas eram mínimas e contavam-se pelos dedos de uma mão: uma proteção no motor para proteger da neve; óleo especial para garantir a lubrificação a baixas temperaturas; correntes nas quatro rodas ; e um par de novos mostradores no painel. E claro, a matrícula: Antarctica 1.

O facto do motor ser refrigerado a ar facilitou muito a adaptação do Volkswagen Carocha àquelas condições. Ao fim de pouco tempo o pequeno Carocha recebia a alcunha de “Terror Encarnado”. Apenas os ventos de mais de 150 km/h teimavam em virar as portas ao contrário. Nada que um martelo não voltasse a colocar no sítio.

volkswagen beetle antartica 3

Durante meses a fio, o Terror Encarnado serviu de meio de transporte para pessoas e mercadorias, entre o aeródromo e o centro de missão. Uma viagem de 18 km que demorava cerca de 50 minutos — só para terem noção das dificuldades que o percurso apresentava. Quando o tempo permitia, este Volkswagen Carocha aventureiro ainda servia para fins lúdicos, puxando esquiadores pelas paisagens geladas.

O regresso

Em 1964 o Terror Encarnado voltava à Austrália. Seria de esperar que um automóvel com tanto valor histórico, um pioneiro e que serviu em missões cientificas fosse diretamente para um museu, mas não… Saiu do barco e foi participar no exigente BP Rally de 1964 na Austrália. Não só participou no rali como… ganhou o rali! Como diria o saudoso Fernando Pessa: E esta hein?

Volkswagen Carocha Antarctica

Atualmente, o paradeiro do Terror Encarnado é desconhecido, a humanidade perdeu-lhe o rasto. Um grupo de entusiastas tentou encontrá-lo em 2002 sem sucesso. Há quem diga que ainda anda por aí, sabe-se lá em que aventuras anda ele metido…

volkswagen beetle antartica 1

Não foi o único…

A presença de Carochas no continente gelado não seria confinada ao Terror Encarnado. Além do Antarctica 1, haveria um Antarctica 2 e um Antarctica 3, curiosamente, pintados de cor laranja e não vermelha. O primeiro, enviado para substituir o Terror Encarnado acabaria por avariar, e sem peças para o reparar, permaneceria soterrado na neve durante o longo inverno, antes de poder ser enviado para a Austrália para ser reparado.

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Já o Antarctica 3 seria o que permaneceria mais tempo por lá, a servir de carro de suporte na base, tendo ficado por lá desde 1966 até 1969 e, tal como o primeiro, acabaria por competir, desta vez num campeonato de rallycross.