Testes Este protótipo da Renault quer mudar as regras do jogo

Antevisão

Este protótipo da Renault quer mudar as regras do jogo

O Renault Emblème não passa de um protótipo experimental, mas é funcional e já tivemos oportunidade de conhecer os seus principais segredos.

Miguel Dias com Renault Emblème
© Renault

O Renault Emblème não é apenas mais um protótipo com uma imagem futurista e soluções inovadoras. É muito mais do que isso. É uma declaração de intenções por parte da marca francesa, que se recusa a deitar a toalha ao chão.

É certo que a indústria automóvel está «condenada» à eletrificação total. Disso já restam poucas (ou nenhumas) dúvidas. Mas o caminho até esse fim não tem de ser apenas um. Por isso mesmo, apesar de ter uma gama vasta de elétricos a bateria, a Renault não deixou de procurar alternativas para o futuro.

O Emblème é um bom exemplo disso, uma vez que é um híbrido, que combina eletricidade e hidrogénio para oferecer cerca de 1000 km de autonomia sem qualquer emissões de escape.

Renault Embleme traseira
© Renault De acordo com Pascal Tribotte, responsável pelo projeto do Emblème, este é um “elétrico com extensor de autonomia, que neste caso é a pilha de combustível”.

A construtora gaulesa acredita tanto neste projeto que não se limitou a construir um show car. Este “laboratório sobre rodas” existe no chamado mundo real e está pronto a rolar.

Tanto é que recentemente apanhámos boleia deste protótipo num dos muitos centros de testes que a Renault tem espalhado pelo mundo. É certo que ainda não foi desta que nos conseguimos centrar atrás do volante. Mas seguimos no segundo melhor lugar possível, o «banco do pendura».

Bateria ou fuel cell a hidrogénio? Os dois

Mas antes de lhe contar como foi andar pela primeira vez no Renault Emblème, importa olhar para a motorização que lhe serve de base. Afinal, esse é um dos seus principais argumentos.

Renault Embleme perfil
© Renault Com as duas tecnologias combinadas (bateria e pilha de combustível), o Emblème reclama uma autonomia em torno dos 1000 km.

Dito isto, o Emblème é, fundamentalmente, um elétrico. Tem um motor na traseira que produz 160 kW, ou 218 cv. A avaliar pela potência, tudo indica que seja o mesmo motor que encontramos, por exemplo, no Renault Scenic E-Tech e no Megane E-Tech.

A diferença é que ao invés de ser apenas alimentado por uma bateria — neste caso, com química NMC e 40 kWh —, este motor elétrico também pode ser «alimentado» por uma pilha de combustível de 30 kW, suportada por um tanque de hidrogénio com 2,8 kg de capacidade.

Não é a primeira vez que vemos a Renault explorar este tipo de solução. Em 2022 mostrou o Scenic Vision, que recorria a uma cadeia cinemática idêntica:

Como seria de esperar, o Scenic chegou à produção sem esta solução, apresentando-se como 100% elétrico exclusivamente a bateria. Porém, a Renault não desistiu desta ideia e voltou a aproveitá-la para o Emblème.

O motivo? A marca francesa acredita que a combinação das duas soluções permite atenuar um dos grandes problemas dos elétricos atuais: o peso. É que para termos autonomias longas, são necessárias baterias de grande capacidade, que são muito pesadas e levam muito tempo a carregar.

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Assim, graças a esta tecnologia, o Emblème já consegue fazer algumas centenas de quilómetros com uma bateria de menor capacidade, com a pilha de combustível a hidrogénio a acrescentar cerca de 350 km de autonomia que pode ser reabastecida em menos de cinco minutos.

Regresso ao futuro

Infelizmente, neste primeiro contacto com o Emblème, o protótipo só estava a circular com o recurso à bateria de 40 KWh, pelo que, no fundo, era um 100% elétrico convencional. Por isso mesmo, é impossível avaliar aquilo que esta tecnologia híbrida pode oferecer na realidade.

Renault Emblème interior
© Renault Tenho que ser sincero: deixaram-me sentar atrás do volante, mas foi só mesmo para a foto. Infelizmente…

Por outro lado, posso-lhe dizer aquilo que senti ao andar pela primeira vez neste protótipo, que parece saído de um filme de ficção científica. A experiência começa antes mesmo de entrarmos no carro, tal a imponência da carroçaria generosa, com 4,80 m de comprimento.

A silhueta de shooting brake é o que dá mais nas vistas, com preocupações visíveis ao nível da aerodinâmica: os limpa para-brisas ocultos, as câmaras nos lugares dos espelhos retrovisores e os puxadores embutidos são bons exemplos disso. Mas as jantes, quase totalmente fechadas, também.

Quando abrimos a porta, além do constraste entre os materiais reciclados e as superfícies minimalistas, somos brindados por uma oferta tecnológica que faz qualquer Renault atual parecer antigo.

Além do habitual ecrã central, que surge numa espécie de superfície transparente, até ao imponente painel panorâmico curvo com resolução 8K e 1,20 m de largura, que atravessa todo o tabliê, é simplesmente impossível ficar indiferente a este interior, que privilegia as interações por voz e gestos.

Uma boa surpresa

É certo que não estive ao volante do Emblème e que este primeiro contacto se resumiu a «meia dúzia» de quilómetros, em condições controladas no Centro Técnico da Renault em Aubevoye, nos arredores de Paris, mas as primeiras indicações foram positivas.

Centro de teses de Aubevoye
© Renault Foi no Centro Técnico da Renault em Aubevoye, nos arredores de Paris, que apanhámos boleia do Emblème.

Para um protótipo, fiquei surpreendido com a suavidade de funcionamento deste Emblème, bem como a solidez, o isolamento acústico e o requinte de todo o conjunto. Naturalmente, alguns acabamentos ainda estão muito crus e alguns materiais ainda são provisórios, mas no que toca à qualidade de rolamento, a base deste concept já se mostrou muito sólida.

Lá está, como disse no início deste artigo, este protótipo foi construído com o objetivo de ser testado no mundo real. E isso sente-se perfeitamente quando andamos nele.

Todos os detalhes contam

Além das sensações em andamento e de todos os «truques» da cadeia cinemática, o Emblème mostra-nos, acima de tudo, que há outra forma de pensar o automóvel — mais eficiente, mais sustentável e com menos impacto no planeta.

Uma das grandes novidades está nos materiais. O Renault Emblème recorre a componentes reciclados e recicláveis, escolhidos não só pela sua durabilidade, mas também pelo seu impacto reduzido no ambiente.

A própria forma como este protótipo foi construído segue uma lógica de produção mais limpa, fazendo uso de uma economia circular. Veja-se, por exemplo, o caso do poliéster reciclado usado nos bancos e no revestimento do chão. Ou os faróis, que usam lentes fresnel e, por isso, requerem menos 80% de material face a uns faróis convencionais.

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Mas há mais. Quase todos os comandos convencionais do habitáculo foram substituídos por botões ocultos sob a superfície (inclusive os comandos para abrir/fechar os vidros). E o painel de instrumentos é estufado com linho, dispensando assim o uso de materiais que produzem resíduos.

Renault Embleme jantes
© Renault As jantes do Emblème são feitas a partir de alumínio reciclado e pesam 16,5 kg cada.

As jantes, que pesam 16,5 kg cada, são fabricadas em alumínio proveniente em 70% da economia circular. Já o limpa para-brisas, construído pela Valeo, inclui um inovador sistema sem escovas e com muitos componentes feitos com impressão 3D, o que permite uma redução de CO2 (no caso deste componente) na ordem dos 60%.

O que esperar?

Contas feitas, as preocupações do Emblème vão muito além daquelas que estamos habituados a encontrar num automóvel convencional. Este protótipo está a permitir que a Renault continue a tirar notas sobre um sistema motriz que, pelo menos no papel, parece interessante, mas também está a permitir descobrir novos limites para muitos dos componentes usados num carro.

Neste momento, é difícil dizer que soluções ou tecnologias deste Emblème irão chegar à produção. Mas certamente que sairão daqui muitas ideias para os Renault do futuro. Disso não tenho dúvidas.