Até 10 vezes mais baratas. Estas baterias vão mudar tudo

Se até agora o potencial das baterias de iões de sódio para substituirem as mais comuns de iões de lítio era muito reduzido, a CATL acabou de inverter as probabilidades.

A gigante chinesa apresentou recentemente a segunda geração da sua bateria de iões de sódio e é um ponto de viragem, uma revolução. A densidade energética (175 Wh/kg) supera até a das baterias de iões de lítio LFP, mas custa 7,5 vezes menos. E quando comparamos com as baterias cilíndricas (4680) da Tesla (química NMC), são 10 vezes mais baratas.

A CATL já começou a produzir-las em série e que melhor altura para voltar a convidar a Dra. Helena Braga, investigadora na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, para nos falar das baterias de sódio? Ela subiu ao palco do Auto Talks — o novo formato editorial da Razão Automóvel estreado no ECAR Show —, e ajudou-nos a compreender a tecnologia e o seu potencial:

A Dra. Helena Braga é uma das referências internacionais no desenvolvimento de baterias, tendo-se destacado pelo seu trabalho com eletrólitos sólidos, uma tecnologia que também promete revolucionar as baterias do futuro.

A sua investigação atraiu a atenção de John Goodenough (1922-2023) — Nobel da Química e um dos inventores da bateria de iões de lítio — com quem acabou por colaborar na investigação das baterias de estado sólido.

Mais recentemente, apresentou uma bateria inovadora capaz de se recarregar sozinha à base de iões de sódio (sal). Foi o tema que motivou um Auto Rádio ao vivo.

Sódio: uma alternativa mais barata e abundante

Ao contrário das tradicionais baterias de iões de lítio, as baterias de sódio recorrem a um elemento mil vezes mais abundante: o sal. “Há muito mais sal do que lítio na Terra”, afirmou Helena Braga, sublinhando ainda que ambos os elementos coabitam nas mesmas salinas, mas apenas 4% do que é extraído é lítio.

Baterias

Adeus ao lítio? Esta é a primeira bateria de sódio produzida em série

A CATL poderá ter dado o primeiro passo para o fim da dependência do lítio. A Naxtra é a primeira bateria de iões de sódio produzida em série.

Fernando Gomes

Esta abundância justifica em parte o preço avançado: apenas 10 dólares por kWh. É significativamente menos do que os cerca de US$75/kWh das baterias LFP — a tecnologia preferida pela indústria automóvel chinesa —, ou os cerca de US$100/kWh das baterias cilíndricas NMC 4680 da Tesla (Fonte: Bloomberg NEF).

No Auto Talks, a Dra. Helena Braga avançou com outra razão para estas baterias de sódio da CATL serem tão baratas: são anodeless, ou seja, não têm um ânodo convencional (elétrodo negativo) instalado.

O ânodo é formado com o primeiro ciclo de carga. E isto traz enormes vantagens na linha de produção, deixando de ser necessário ter salas com ambiente controlado para instalação do ânodo, como acontece com as baterias de iões de lítio. Mas há mais motivos para justificar um preço tão baixo que pode ver/ouvir no vídeo acima.

Melhor desempenho e mais seguras

A vantagem desta nova geração de baterias de sódio da CATL não se fica pelo preço. Apresentam a mesma densidade energética das baterias LFP (cerca de 175 Wh/kg) e prometem alcançar a mesma longevidade: 10 mil ciclos de carregamento.

Além disso, são mais tolerantes a temperaturas negativas (até -40º C) e, por não incluírem ânodo, potencialmente muito mais seguras. A razão está na arquitetura pouco convencional destas baterias da CATL, que a investigadora portuguesa suspeita serem de estado sólido, dado as características que a definem.

Neste Auto Talks, também houve oportunidade para a Dra. Helena Braga falar sobre o panorama internacional relativamente à inovação nesta área e produção das baterias, em que a China está à frente de todos — Europa incluída. O porquê? Talvez possa ser resumido em poucas palavras:

“Estamos muito presos à burocracia. A Europa quer acelerar no papel, mas na prática hesita. A China mostra como se faz: investe, produz e arrisca.”

Dra. Helena Braga, investigadora da FEUP

Encontro marcado no próximo Auto Talks

Não faltam, por isso, motivos de interesse para ver/ouvir a mais recente Auto Talks, o novo formato editorial da Razão Automóvel, nas plataformas habituais: YouTube, Apple Podcasts e Spotify.

Redação

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