Opinião Mercedes-Benz com motor BMW não explica tudo

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Mercedes-Benz com motor BMW não explica tudo

Ainda não sabemos da missa a metade. É que neste rumor de modelos Mercedes-Benz com motor BMW a procissão ainda vai no adro.

Motor Mercedes-Benz powered by BMW
© Razão Automóvel

Um Mercedes-Benz com motor BMW. Soa estranho, eu sei — heresia dirão alguns. Mas a verdade é que essa possibilidade está a ser avançada por várias fontes.

Como noticiámos na Razão Automóvel, as eventuais negociações entre as duas marcas poderão resultar na utilização do motor B48 de quatro cilindros da BMW em vários modelos da Mercedes-Benz.

A explicação imediata é simples: os elétricos não estão a crescer ao ritmo que a marca da estrela previa. A Mercedes-Benz, que em 2021 prometia ser uma marca 100% elétrica até ao final da década, recuou em 2024 e voltou a apostar na combustão. A Porsche, a Volvo e a Audi, apenas para dar mais alguns exemplos, tiveram de tomar a mesma decisão. Mas esta cronologia não conta a história toda.

Mercedes-Benz Classe A
A Mercedes-Benz não é estranha a usar motores de outros construtores: o 1.5 dCI da Renault equipou, por exemplo, o Classe A.

A Mercedes-Benz não está a comprar tecnologia à BMW: está a comprar tempo. Com este novo calendário esgotou-se o tempo para desenvolver uma nova família de motores de combustão. E pelo meio, também é preciso dizer que a Europa soube atrapalhar a sua própria indústria com a comédia romântico-trágica em que transformou a aprovação da norma Euro 7, com os vários avanços e recuos. Título deste filme? “A montanha pariu um rato”.

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Mais uma vez: não creio que o problema tenha sido tecnológico. A Mercedes-Benz continua a saber fazer motores como poucas marcas. O motor M 139 de quatro cilindros do Mercedes-AMG A 45 não me deixa mentir e o motor M 178 de oito cilindros em V do Mercedes-AMG GT também não. É uma questão de tempo e de custos. E como sabemos, «tempo é dinheiro».

Acresce que o novo motor M 252, recém-apresentado e produzido na China pela Horse (Geely-Renault), não foi pensado para híbridos plug-in nem para extensores de autonomia. Por outro lado, a BMW, com o motor B48, já tem uma solução pronta, flexível e em conformidade com as normas Euro 7.

Por isso a decisão da Mercedes-Benz, a confirmar-se, é pragmática: não gastar milhares de milhões no desenvolvimento de um novo motor e, em vez disso, assegurar a transição com a ajuda da rival de Munique.

Perante este cenário, como é que as duas marcas se vão conseguir diferenciar? Um problema de cada vez. Mas olhando para a realidade atual, na prática, essa equivalência já existe. Senão, vejamos como as especificações destes dois best sellers alemães já são em tudo similares:

EspecificaçãoMercedes-Benz
E 220 d (W 214)
BMW
520 d (G60)
Código do motorOM 654 M B47
ArquiteturaDiesel, 4 cil. em linha, turbo, MHEV 48 V (ISG)Diesel, 4 cil. em linha, turbo, MHEV 48 V (ISG)
Cilindrada1993 cm³1995 cm³
Potência145 kW (197 cv) às 3600 rpm145 kW (197 cv) às 4000 rpm
Binário440 Nm entre 1800–2800 rpm400 Nm entre 1500–2750 rpm
SobrealimentaçãoTurbo VGT
(geometria variável)
TwinPower Turbo
InjeçãoCommon-railCommon-rail
CaixaAutomática
9G-TRONIC (9 vel.)
Automática
Steptronic (8 vel.)
Aceleração
0-100 km/h
7,6s7,3s
Velocidade máxima238 km/h233 km/h
Consumo médio
(WLTP)
5,1–5,7 l/100 km5,0–5,5 l/100 km
Emissões CO₂
(WLTP)
134–150 g/km132–145 g/km

Na prática esta possível partilha de motores fará alguma diferença para o consumidor? Talvez não. Não é a primeira vez que a marca de Estugarda recorre a motores de terceiros. Basta recordar os blocos 1.5 dCi e 1.6 dCi de origem Renault e que estiveram sob o capô de vários modelos Mercedes-Benz. Foram um sucesso de vendas.

O choque agora talvez seja maior — não sei se é… — porque o fornecedor tem três letras, está a 200 km de distância e tem sido um rival direto ao longo das últimas décadas. Resumindo e baralhando, este rumor acaba por dizer-nos mais sobre a indústria do que sobre a técnica.

Num contexto de margens espremidas, investimentos gigantescos na eletrificação e um mercado menos previsível do que aquilo que se pensava, até as rivalidades históricas cedem ao pragmatismo. No fundo, o que a Mercedes-Benz está a admitir é simples: precisa de tempo. E parece que a BMW tem a mais para vender.

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