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Poluição

Navios de cruzeiro na Europa poluem tanto como mil milhões de automóveis

Poluição provocada pelos navios de cruzeiro já supera os valores pré-pandemia. Lisboa e Funchal estão entre as cidades europeias mais afetadas.

navios de cruzeiro aportsdos
© Edward Lawrence

Os navios de cruzeiro estão a crescer em popularidade, número e dimensão. Mas com esse crescimento também aumentam os níveis de poluição nas cidades onde aportam — já superam os valores registados antes da pandemia.

É o que podemos ler no estudo mais recente da Transport & Environemnt (T&E), que chegou a conclusões alarmantes ao comparar os dados de 2019 (pré-pandemia) com os de 2022: os 218 navios de cruzeiro na Europa emitiram tantos óxidos de enxofre (SOx) como mil milhões de automóveis. Para referência, nesse mesmo ano circulavam na Europa pouco mais de 291 milhões de ligeiros de passageiros.

dois navios cruzeiro
© Matt Benson

Comparando com 2019, o estudo diz que o número de navios de cruzeiro, o tempo que passaram nos portos e o combustível consumido subiram quase um quarto (mais 23-24%). O que resultou em mais 9% das emissões de SOx, mais 18% nas emissões de óxidos de azoto (NOx) e 25% nas emissões de partículas (PM2,5). Três elementos altamente poluentes e prejudiciais à saúde humana.

Lisboa e Funchal entre as mais poluídas

É em Barcelona, Espanha, onde a poluição gerada é maior. A cidade viu aportarem 106 navios de cruzeiro, que emitiram sensivelmente três vezes mais SOx do que os cerca de 531 mil automóveis em circulação.

Também há duas cidades portuguesas entre as mais poluídas pela indústria dos cruzeiros: Lisboa e Funchal. A capital portuguesa foi a oitava cidade europeia com mais emissões de SOx (10 340 kg) em 2019, mas subiu à quinta posição em 2022, com 11 132 kg, com 108 navios de cruzeiro.

Já o Funchal, não temos dados de 2019, mas em 2022 entrou neste Top 10 das cidades europeias mais poluídas. Atracaram 96 navios, o que resultou em emissões de 9041 kg de SOx.

No entanto, nem tudo são más notícias no estudo da T&E. Veneza, em Itália, era a cidade com as maiores emissões de SOx em 2019. Em 2022 caiu para a 41.ª posição, com uma queda de 80% nas emissões. E bastou proibir a entrada dos maiores navios de cruzeiro no seu porto.

Mesmo assim, não impediu que a Itália ultrapasse Espanha como o país europeu com os maiores níveis de poluição gerados por navios de cruzeiro. Portugal está em sexto.

Gás natural é solução, mas é também um problema

Face à pressão ambiental, várias operadoras estão a abandonar o tradicional óleo combustível (bunker oil) e a adotar o gás natural liquefeito (GNL).

A mudança reduz a poluição do ar, mas o seu uso agrava os efeitos climáticos. Tudo porque os motores têm fugas de metano, cujo potencial como gás com efeito de estufa é 82,5 vezes superior ao do dióxido de carbono (num período de 20 anos).

“Mudar de óleo combustível para GNL é como trocar o tabaco pelo álcool. Pode ajudar a indústria dos navios de cruzeiro a reduzir a poluição do ar, mas é terrível do ponto de vista climático”.

Constance Dijkstra, ativista para o setor marítimo da T&E

O estudo da T&E recomenda, entre várias medidas, requisitos mais exigentes para a descarbonização dos navios e o alargamento das zonas SECA (Áreas de Controlo das Emissões de Enxofre) a todas as águas da União Europeia e Reino Unido.

Também recomenda a ligação dos navios de cruzeiro à rede elétrica quando estão aportados, ou em alternativa, o uso de tecnologia que não emita gases de estufa e outros poluentes para se manterem em funcionamento (por exemplo, fuel cell ou baterias). Também recomenda o desinvestimento em LNG para apostar em tecnologias como fuel cell (hidrogénio), baterias e eólica.