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China acusada de inundar mercado com falsos usados que não consegue vender

Para inflacionar vendas e cumprir metas económicas, a China está a exportar "falsos" carros usados, avança uma investigação da Reuters.

carros usados china fabrica da GWM
© GWM

A indústria automóvel chinesa está a ser acusada de exportar carros usados que, na realidade, são novos. O mercado interno não está a acompanhar o ritmo de produção e há stock a acumular-se à porta das fábricas. Para contornar este problema a solução encontrada foi escoar o excedente de produção para mercados internacionais.

Este esquema, denunciado por Parker Shi, vice-presidente e responsável pelas operações internacionais da Great Wall Motors (GWM) em maio, conheceu agora novos detalhes devido a uma investigação da agência Reuters.

O que está em causa

De acordo com a investigação, estes veículos, conhecidos como “carros zero-quilómetros”, estão a ser comprados e matriculados pelos construtores assim que saem da linha de produção, para depois serem exportados como usados, embora nunca tenham sido conduzidos.

© Volkswagen Só em 2024, 90% dos 436 mil carros exportados pela China eram deste tipo, segundo Wang Meng, da Associação de Concessionários Automóveis da China.

Esta estratégia tem permitido às marcas majorar os números de vendas e, ao mesmo tempo, escoar modelos que não estão a encontrar procura mercado doméstico.

Segundo a Reuters, os principais mercados receptores destes falsos usados têm sido a Rússia, Ásia Central e Médio Oriente. Uma prática que já levou a Rússia e a Jordânia a alterar as suas regras de importação para evitar uma distorção de preços também nos seus mercados locais.

Problema nacional com solução local

Esta prática também está a afetar o mercado interno da China. O governo central já condenou estas práticas, que estão a resultar num queda de preços e numa guerra comercial interna muito intensa.

No entanto, segundo o reportado, estas práticas estão a ser paralelamente apoiadas por vários governos locais. A investigação da Reuters, revelou que pelo menos 20 governos locais, incluindo grandes centros de exportação chineses, como Guangdong e Sichuan, estão a incentivar a exportação destes falsos carros usados.

Estes governos consideram estas práticas “essenciais para ir ao encontro dos ambiciosos objetivos de crescimento económico” estabelecidos por Pequim. Por isso, para facilitar o processo, as autoridades locais estão a criar licenças especiais, a acelerar reembolsos fiscais, a investir em infraestruturas de exportação e até a financiar eventos para promover estes negócios.

Esta abordagem começou em 2019, quando a China autorizou a exportação de carros usados para outros países, mas agora está a conhecer um crescimento mais acelerado devido à sobrecapacidade de produção de algumas marcas de automóveis chinesas. “Este é o resultado de uma guerra de preços com quase quatro anos que obrigou as empresas a procurarem por qualquer venda possível”, Tu Le, consultor na Sino Auto Insights.

Política e economia de mãos dadas

A exportação de carros usados com zero-quilómetros é mais do que uma simples manobra comercial: é também um imperativo político.

Na China, os governos locais são avaliados pelo desempenho económico. Se conseguirem mostrar crescimento nas vendas e nas exportações, recebem mais fundos ou até promoções. Se falharem, podem perder financiamento e até mesmo ver os seus líderes substituídos.

A agência de notícias reporta que algumas empresas chegam a inflacionar até duas vezes o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) com este esquema: compram o veículo (conta como uma venda) e exportam-no logo a seguir (conta como outra venda). No papel, parece que foram feitas duas vendas, quando na verdade o carro nunca foi usado.

Uma preocupação com o futuro

Cui Dongshu, secretário-geral da Associação de Carros de Passageiros da China, elogiou esta prática no início do mês, afirmando que se trata de uma forma alternativa dos construtores automóveis chineses acederem a certos mercados estrangeiros, onde enfrentam barreiras comerciais.

Mas nem todos concordam. Xing Lei, consultor da AutoXing, alerta que esta manipulação pode pôr em causa a confiança dos investidores estrangeiros nos números apresentados pelos construtores chineses.

China, xangai
A maior parte dos carros zero-quilómetros exportados são a gasolina — menos desejados no mercado chinês —, mas os elétricos também registam uma tendência crescente.

“Quantos destes carros foram realmente vendidos? E quantos são números inflacionados? Ninguém sabe”, disse Xing Lei. Numa altura em que as marcas chinesas estão a conseguir convencer cada vez mais consumidores pela sua qualidade e tecnologia, sobretudo na Europa, esta nuvem no horizonte poderá não ser a notícia que os consumidores e investidores ocidentais querem ouvir.

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