Especial Crise na indústria de componentes. Fornecedores vão despedir milhares

Especial Indústria

Crise na indústria de componentes. Fornecedores vão despedir milhares

O ano de 2024 está a revelar-se desafiante para os construtores automóveis, arrastando também os fornecedores. Conheça as causas desta crise.

Este ano está a pôr à prova não só os construtores automóveis, como os fornecedores da indústria, contrastando com as projeções otimistas do início do ano.

Atualmente a indústria automóvel enfrenta problemas graves o suficiente para serem equacionadas medidas drásticas.

Foi o que vimos, muito recentemente, com vários fabricantes automóveis, e é o que estamos a ver agora na indústria de componentes, em fornecedores como a Robert Bosch, a Valeo, ou a Schaeffler entre outros.

© André Mendes / Razão Automóvel

Parece ser uma tempestade perfeita, que resulta da combinação de, principalmente, dois fatores: crescente concorrência dos fabricantes chineses e a queda da procura. Juntos, estão a criar um «efeito dominó» na cadeia de fornecimento europeia.

“À medida que os fabricantes vão perdendo quota de mercado, os seus fornecedores são inevitavelmente atingidos também.”

Pedro Pacheco, analista da Gartner

Despedimentos chegam aos 50 mil

Robert Bosch, a empresa que mais vende a nível mundial e que fornece componentes para quase todos os 1,5 mil milhões de automóveis em circulação no mundo, anunciou mais de 12 mil despedimentos a nível global. Destes, sete mil serão na Alemanha.

Para além disto, na Europa, a empresa já anunciou a intenção de reduzir as horas de trabalho, de 38-40 horas semanais para 35 horas semanais, o que se vai traduzir num corte salarial de 12,5%. Em causa, segundo a mesma, está a queda na procura por sistemas inteligentes de assistência à condução e soluções para condução autónoma.

A esta segue-se a ZF Friedrichshafen, o segundo maior fornecedor de componentes a nível mundial (em vendas), que até 2028 planeia cortar entre 11 mil e 14 mil postos de trabalho, apenas na Alemanha. Esta decisão foi justificada pela grande dívida que a empresa acumulou com a aquisição das empresas TRW e Wabco.

Há mais fornecedores a anunciar despedimentos, elevando para mais de 50 mil a redução do número de trabalhadores a nível global. Só nos primeiros seis meses do ano, os fornecedores europeus anunciaram a intenção de cortar cerca de 32 mil postos de trabalho — mais do que na pandemia de Covid-19.

FornecedoresDespedimentos
globais *
Despedimentos
Europa *
ZF14 00014 000
Bosch12 0003800
Forvia10 00010 000
Continental71502860
Schaeffler47002800
Valeo20001400
*números aproximados
Fonte: Automotive News Europe

“Apesar de estarem previstos cerca de 100 mil novos postos de trabalho até 2025, a realidade mostra um prejuízo líquido de cerca de 56 mil postos”, afirma Benjamin Krieger, secretário-geral da CLEPA (Associação Automóvel Europeia de Fornecedores).

Encerramento de fábricas

Os despedimentos não são a única consequência de uma indústria que está cada vez mais fragilizada. Já são muitos os fornecedores a anunciar o encerramento de instalações, como é o caso da Valeo, que já reviu em baixa a suas projeções de vendas anuais duas vezes este ano.

Das três fábricas que anunciou que ia encerrar em julho na França, só uma delas vai manter as portas abertas, no entanto, com uma força de trabalho reduzida, afirmou um porta-voz da empresa à Automotive News.

Para além desta, também a Michelin planeia encerrar até 2026 duas fábricas em França: em causa está a baixa procura e a concorrência asiática.

Eletrificação lenta é um dos problemas

Segundo Matthias Zink, presidente da CLEPA, “o principal problema para a indústria de componentes é aceleração para a eletromobilidade, que tem sido muito lenta”, afirmou numa entrevista ao Automobilwoche. Zink não prevê um futuro muito simpático para esta indústria: “o maior impacto ainda está para chegar”.

O analista da Gartner, Pedro Pacheco, também admitiu que os fornecedores estão a ser pressionados por múltiplos fatores, entre eles o avanço da eletrificação, que exige uma reestruturação significativa da estratégia.

De acordo com Pedro Pacheco, apesar da reestruturação ser essencial, se o fornecedor se compromete com esta nova direção e o ritmo de implementação é mais lento do que o esperado, este pode acabar por sofrer consequências financeiras e operacionais.

Uma das soluções, segundo o analista, passa pela seleção dos clientes. “Os fornecedores necessitam de diversificar a sua base de clientes e fortalecer relações com novos «jogadores»”, afirmou.

Por exemplo, a Schaeffler viu-se obrigada a despedir cerca de 2800 pessoas na Alemanha e a encerrar duas fábricas, depois do seu principal cliente, Volkswagen, ter começado a enfrentar dificuldades.

“A cadeia de fornecimento automóvel está a passar por uma mudança sísmica. Os fornecedores têm de se adaptar se querem sobreviver num ambiente definido pela eletrificação, software e nova concorrência”.

Pedro Pacheco, Gartner

Fontes: Automotive News Europe

Sabe esta resposta?
Em que ano foi revelado o Opel Tigra?
Oops, não acertou!

Pode encontrar a resposta aqui:

Glórias do Passado. Opel Tigra, o “coupé do povo”
Parabéns, acertou!
Vai para a próxima pergunta

ou lê o artigo sobre este tema:

Glórias do Passado. Opel Tigra, o “coupé do povo”