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Combustíveis

Erva, papel e motores a gasolina podem ter mais em comum do que imagina

Pode parecer uma combinação estranha, mas sabendo que são ingredientes para fazer bioetanol para usar em motores a gasolina, até faz sentido.

Super Taikyu Series Japan
© Eneos

A Toyota, a Mazda, a Nissan e a Subaru juntaram-se à ENEOS, uma empresa petrolífera japonesa, para testar um novo combustível que combina bioetanol com gasolina normal, numa proporção 20-80. É designado, por isso, de E20.

A iniciativa terá início ainda este ano, na Super Taikyu Series, um campeonato japonês de provas de resistência que variam entre as três horas e as 24 horas.

O campeonato é apoiado pela ENEOS, que irá fornecer a nova mistura de bioetanol com gasolina aos carros das marcas referidas, na classe ST-Q da Super Taikyu, que é dedicada a modelos experimentais.

Produção de biocombustíveis
© Eneos

Ao contrário do etanol tradicional, o bioetanol é produzido a partir de matérias-primas não alimentares, como relva, pasta de papel e papel reciclado. É uma solução com pegada de carbono reduzida, uma vez que o CO₂ libertado durante a combustão é compensado pelo que é absorvido pelas plantas durante a sua fase de crescimento.

A ENEOS diz que o E20 representa um passo relevante na transição energética, pode funcionar com os motores atuais de combustão interna e tem como objetivo acelerar a adoção de biocombustíveis. E que melhor campo de testes que a competição?

O desafio conjunto (“All-Japan Co-Challenge”) entre os construtores japoneses envolvidos vai permitir validar o desempenho e a durabilidade da E20 em condições extremas.

Inspirado no Brasil, adaptado ao Japão

O Japão não é o primeiro país a recorrer ao etanol. Na Europa há vários países onde é comercializado E85 (85% etanol e 15% gasolina) e mesmo em Portugal, a gasolina que coloca no seu automóvel já tem 5% ou 10% de etanol (E5 ou E10, respetivamente).

Mas no que respeita ao uso do etanol como combustível, o Brasil supera tudo e todos, sendo o único país do mundo a usar E100, ou etanol hidratado puro, ainda que tecnicamente seja uma mistura de 95% etanol e 5% água. E é usado por milhões de veículos há décadas.

A diferença para outros países é que no Brasil o etanol é extraído da cana-de-açúcar, sendo cultivado especificamente para esse fim. No caso japonês (e também europeu) o objetivo é eliminar as matérias-primas que podem ser utilizadas como alimentos, recorrendo aos já mencionados desperdícios e resíduos florestais ou agrícolas.

A ENEOS diz que esta abordagem permite explorar resíduos vegetais sem valor económico direto, contribuindo para uma cadeia energética mais circular.

Com esta iniciativa, o Japão reforça a sua posição como laboratório de soluções híbridas, onde a eletrificação crescente convive com formas inovadoras de usar os motores de combustão como parte da solução.

No caso da Toyota, esta é mais uma peça de um puzzle tecnológico que passa também pelo hidrogénio — incluindo o seu uso como combustível em motores de combustão interna —, e por uma nova geração de motores mais eficientes.