Notícias Cantão suíço do Valais termina incentivos aos híbridos plug-in. Porquê?

Híbridos Plug-in

Cantão suíço do Valais termina incentivos aos híbridos plug-in. Porquê?

A decisão de retirar os incentivos aos híbridos plug-in por parte do cantão suíço do Valais será um alerta para o resto da Europa?

Tomada carregamento híbrido plug-in

Valais, um dos 26 cantões da Suíça, decidiu retirar o incentivo de 2500 francos suíços (cerca de 2405 euros) que atribuía à compra de automóveis híbridos plug-in.

A justificação para tal medida prende-se com um estudo encomendado pelo próprio governo do cantão do Valais — “Etude sur la consommation des véhicules hybrides rechargeables en topographie valaisanne” —  que quis colocar à prova as credenciais «verdes» dos híbridos plug-in.

O estudo foi realizado pela suíça Impact Living, uma empresa de gestão de projetos para auxiliar os seus clientes a mudar para soluções mais amigas do ambiente.

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Mitsubishi Outlander PHEV
O sucesso do Mitsubishi Outlander PHEV na Suíça fez dele um dos modelos visados neste estudo.

Híbridos plug-in são «verdes»?

E os resultados do estudo não podiam ser mais esclarecedores: os híbridos plug-in não contribuem para a anunciada e desejada redução das emissões de CO2 como prometem.

O fundador da Impact Living, Marc Muller, vai mesmo mais longe ao dizer que os híbridos plug-in “para mim são uma fraude para os padrões de emissões de CO2, metas climáticas e consumidores”, em entrevista à rádio suíça RTS.

O estudo constatou, após testar 20 veículos híbridos plug-in (todos SUV de médias e grandes dimensões) em condições reais nas estradas de montanha de Valais (região também conhecida pelas suas estâncias de esqui) que, apesar de anunciarem consumos entre os 1,5 l/100 km e os 2,5 l/100 km, acabaram por registar valores entre os 4,0 l/100 km e os 7,0 l/100 km, similares a um veículo Diesel.

O que faz com que a diferença entre os valores oficiais (ciclo WLTP) anunciados destes híbridos plug-in e os obtidos em condições reais neste estudo tenha sido de 116%.

Para efeitos de comparação, também foram testados 15 veículos equipados apenas com motor de combustão (gasolina e gasóleo) nas mesmas condições e as diferenças entre os valores oficiais WLTP e os reais foram de 26%, bem menores.

O que levou a que uma das conclusões da Impact Living referisse-se também ao protocolo WLTP “que se aplica bastante bem aos veículos convencionais a combustão, mas não reflete absolutamente o consumo dos veículos híbridos plug-in“.

Emblema "plug-in hybrid EV"

De notar que, apesar dos resultados nada favoráveis aos híbridos plug-in, a média final de consumo nos testes efetuados ficou-se pelos 4,94 l/100 km contra os 7,0 l/100 km dos outros só a combustão. Isto apesar da média de potência dos híbridos plug-in testados ter sido de 244 cv contra apenas de 148 cv dos só a combustão.

Donos satisfeitos

Os autores do estudo também entrevistaram os proprietários dos veículos híbridos plug-in para melhor perceber os padrões de uso.

Permitiu constatar que nem todos carregam frequentemente a bateria do seu híbrido plug-in e apenas 30% dos visados possui um carregador rápido (wallbox) no domicílio, com os restantes a considerarem que o investimento não vale a pena.

Mercedes-Benz C 300 e
Uma nova geração de híbridos plug-in começa a chegar ao mercado, a prometer autonomias de 100 km, como o Mercedes-Benz C 300 e.

Descobriram também que são vários os que usam o modo Recharge (onde o motor térmico é usado para carregar a bateria), fazendo com que os consumos de combustível sejam mais elevados do que aqueles que não o usam.

Independentemente dos resultados, os utilizadores deste tipo de veículos expressaram uma elevada satisfação com eles, pois permitiram efetivamente reduzir a sua despesa de combustível em relação aos seus anteriores veículos.

Também a escolha da maioria por SUV de dimensões mais generosas prende-se com o maior conforto e maior sensação de segurança que estes oferecem, sobretudo quando os percursos a fazer envolvem, precisamente, as muitas estradas de montanha deste cantão suíço.

Consequências

Após os resultados deste estudo terem sido conhecidos pelo governo do cantão do Valais, a decisão de retirar os incentivos aos híbridos plug-in foi tomada quase de imediato.

Concluíram que os híbridos plug-in acabam por ter uma vantagem ecológica muito limitada, pois estão dependentes de carregamentos frequentes para atingir o seu potencial de redução de emissões de CO2 e isso poucas vezes acontece.

A decisão do cantão do Valais faz lembrar a tomada pelos Países Baixos há alguns anos, em que reduziu significativamente os incentivos aos híbridos plug-in após se ter «descoberto» que a maioria deles eram carregados esporadicamente ou nem sequer eram carregados de todo, agravando o problema das emissões ao invés de atenuá-lo.

O cerco à volta dos híbridos plug-in parece estar a fechar-se progressivamente no «velho continente».

Por exemplo, a Alemanha, o maior mercado automóvel europeu, aprovou regras mais exigentes para a elegibilidade dos híbridos plug-in aos incentivos de 6750 euros (para modelos que custem até 40 mil euros) e 5625 euros (modelos acima dos 40 mil euros).

Assim, a partir de outubro de 2022, apenas os híbridos plug-in com uma autonomia elétrica de, pelo menos, 60 km são elegíveis, valor que aumentará para 80 km a partir de 2024.

Fonte: RTS