Crónicas Estes Honda Civic Type R foram todos destruídos. Porquê?

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Estes Honda Civic Type R foram todos destruídos. Porquê?

Tiveram uma existência curta mas intensa. Por questões de qualidade, os Honda Civic Type R nas imagens foram todos destruídos. É triste, não é?

Por vezes o mundo é um lugar feio. Os Honda Civic Type R que veem nas imagens foram todos destruídos. Nasceram com um propósito, cumpriram-no e morreram. E por favor, não digam ao Diogo que o seu amor de verão já não está entre nós.

Foram TODOS destruídos apesar de respirarem saúde e de não padecerem de qualquer problema mecânico.

Uma saúde que poderia ter sido posta em causa por centenas de voltas em circuito: reduções intempestivas, acelerações bruscas, travagens no limite… alias, travagens para lá dos limites!

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Estes Honda Civic Type R aguentaram tudo e no final a Honda deu ordem para serem destruídos. Quando um dos responsáveis da marca à margem do evento nos disse isto, ficámos incrédulos mas não surpreendidos.

Mas porquê destruídos?

Porque os Honda Civic Type R que foram conduzidos por nós e por mais uma centena de jornalistas são unidades de pré-produção. Não eram unidades finais.

Honda civic type-r 2018 portugal-12
Mais de 50 voltas por dia durante várias semanas. A fundo!

São modelos que em 99% dos parâmetros são iguais aos modelos de produção. O problema é esse 1%… estes modelos não correspondem integralmente aos parâmetros exigidos pela Honda, por isso têm de ser destruídos.

Que parâmetros são esses?

Alinhamentos dos painéis da carroçaria; detalhes do interior; homogeneidade da pintura; especificações gerais que não têm carácter final. Enfim, pequenos detalhes e até mesmo defeitos que para a Honda não são admissíveis num modelo final.

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Olhem para estas unidades de pré-produção como versões «beta» dos softwares. Funcionam, estão operacionais mas podem ter alguns bugs.

Honda civic type-r 2018 portugal-12
Verificar a pressão. Pode seguir!

Uma tradição da Honda

Não foi a primeira vez, nem será a última que a Honda destrói os seus produtos em nome de valores superiores às questões financeiras.

A título de exemplo, diz-se que muitos dos protótipos de competição Honda chegam ao fim da época e são… isso mesmo, adivinharam. Destruídos. Motivo? Salvaguarda do know-how da marca.

Posso falar de uma besta a 2 tempos?

Um dos episódios mais conhecidos envolve a divisão de motociclismo da Honda, a HRC. Estávamos em 2001 e Valentino Rossi — um senhor dispensa apresentações… — pediu à Honda que no final da época, caso se sagrasse Campeão do Mundo de MotoGP (ex-500 cm3), a marca lhe oferecesse uma das suas NSR 500. A resposta da Honda foi «não».

Honda NSR 500
Honda NSR 500.

À excepção dos protótipos que seguiram diretamente para o museu, as restantes NSR 500 foram incineradas. Valentino Rossi não conseguiu concretizar um dos seus sonhos, ter em casa a última mota a 2 tempos Campeã do Mundo na classe rainha.

Uma «besta de duas rodas» com um motor de 500 cm3 V4 (2 tempos) capaz de desenvolver 200 cv de potência às 13 500 rpm. Pesava apenas 131 kg (a seco).

As sobreviventes.

A propósito da Honda NSR 500, Valentino Rossi disse um dia que “as motas são objetos demasiado belos para não terem alma”. Se isto for verdade — eu acho o mesmo… — que descansem em paz, junto do “amor de verão” do Diogo.

Yamaha M1
Homem e máquina. Neste caso, uma Yamaha M1.

Caso único na indústria?

Nem por sombras. Há mais marcas a fazerem o mesmo mas os japoneses, como em muitas outras coisas, são os mais zelosos com a sua propriedade intelectual. Mas nem sempre foi assim…

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Nas décadas de 60 e 70 era normal as marcas e as equipas venderem ao «desbarato» os seus modelos de competição no final das épocas ou das corridas. Um dos casos mais extremos acontecia nas 24 Horas de Le Mans. À excepção dos protótipos vencedores, os restantes eram um «fardo».

Com o desgaste mecânico sofrido, as equipas preferiam vender os seus modelos a quem quisesse comprar, por vezes a qualquer preço. Foi assim que o primeiro AMG de competição da história acabou os seus dias a servir de cobaia para uma empresa de aviação civil. Quando avariou foi destruído.

Mercedes 300
Sim, este carro também foi destruído.

Pergunta que se impõe: quanto é que esse AMG valeria hoje? Pois é. Uma fortuna! Mas naquela altura ninguém os valorizava. Podem ler a história completa do «porco vermelho» aqui.