Clássicos James Hunt: já não há pilotos assim

Fórmula 1

James Hunt: já não há pilotos assim

James Hunt, campeão do mundo da Fórmula 1 em 1976, faria 75 anos este mês. Recordamos o porquê de ser um dos pilotos mais carismáticos de sempre.

James Hunt com modelo Sue Shaw

James Hunt foi um piloto de Fórmula 1 como poucos. Se pilotos como Fangio, Senna ou Schumacher eram reconhecidos sobretudo pela sua capacidade de pilotar, Hunt é recordado, sobretudo, pelo seu estilo de vida. Rebelde e playboy, ofensivo e charmoso, todos os adjectivos eram necessários para definir esta personagem complexa.

Venceria o campeonato mundial de Fórmula 1 em 1976, um ano que marcaria de tal forma a disciplina, que até deu origem a um filme: Rush.

Fiquem a conhecer algumas das razões pelas quais James Hunt é considerado um dos pilotos mais carismáticos que a Fórmula 1 já conheceu.

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Declarações imprevisíveis

Se hoje não é comum termos declarações e respostas «coloridas» por parte dos discursos meticulosamente controlados dos pilotos de Fórmula 1, com James Hunt, não só as palavras como os atos eram sempre imprevisíveis.

Veja-se os exemplos abaixo: a fumar um cigarrinho após uma corrida, ou a resposta que dá a uma questão de um jornalista. Outros tempos…

Um rival duro e de respeito

Conhecido pelo seu comportamento duro na pista e até pelos acidentes provocados por si — ganhando a alcunha de James “Shunt” (empurra) —, Hunt também era capaz de respeitar os rivais.

E tal aplicava-se a não mais do que Nikki Lauda. O piloto austríaco e Hunt já se digladiavam em circuito desde os tempos da Fórmula 3, o que talvez ajude a explicar o respeito mútuo que sentiam um pelo outro, mesmo quando não podiam ser duas personalidades mais distintas.

James Hunt e Nikki Lauda

Essa rivalidade, praticamente lendária, passou para o grande ecrã em 2013, com a estreia do filme Rush, de Ron Howard, que retrata precisamente a disputa pelo título na época de 1976. Uma época que ficaria infame pela discussão à volta da segurança dos automóveis de Fórmula 1 — foi o ano do acidente de Nikki Lauda que lhe quase custou a vida.

Eu tinha muito respeito por ele no circuito. Eu podia conduzir a dois centímetros das rodas dele e ele nunca faria uma manobra estúpida.

Nikki Lauda

O filme revela um lado de Hunt que poucos conheciam e o respeito existente entre os dois é retratado na última cena do filme.

O quanto o filme se aproximava dos factos? Segundo Lauda, 80% do filme era bastante fidedigno e os restantes 20% são tipicamente Hollywood.

Sempre competitivo

Antes de enveredar por uma carreira no desporto motorizado, James Hunt praticava squash e ténis, desportos nos quais também revelava a sua natureza competitiva. Mesmo após dedicar-se aos monolugares, continuou a praticar estas duas disciplinas de forma determinada.

Playboy e rebelde

O estilo de vida de James Hunt garantia-lhe mais fama do que até a sua carreira na Fórmula 1. Fumava bastante e bebia generosamente — até antes de correr num Grande Prémio —, e estava sempre rodeado de mulheres. Diversão era com ele. Os mais próximos referem que, apesar de algumas atitudes excessivas, era um tipo de pessoa naturalmente calmo e descontraído.

O seu estilo de vida, muitas vezes excessivo, poderá ter contribuído para o seu fim precoce. James Hunt morreria apenas com 45 anos, de um ataque cardíaco.

Igual a ele próprio, mesmo após ter arrumado o capacete

James Hunt terminaria a sua carreira de Fórmula 1 em 1979. Seria convidado nesse mesmo ano pela BBC para ser comentador das provas do Campeonato de Fórmula 1. O convite foi aceite e por lá ficou até à sua morte, em 1993.

James Hunt na BBC

Quem estivesse à espera de um James Hunt mais moderado, engane-se. Os seus comentários e críticas, sempre diretos e por vezes bem duros, eram constantemente alvo de polémica.

Basta ver o exemplo abaixo durante o GP do Mónaco em 1989. Durante a prova, ouvindo o seu colega comentador, Murray Walker, a referir as justificações que o piloto francês René Arnoux proferiu sobre a sua falta de ritmo, por estar habituado aos motores turbo e não aos naturalmente aspirados que regressaram naquele ano, Hunt não se conteve.

A única coisa que podia dizer sobre essa desculpa do piloto é que era… “bullshit”. Típico…

Para sempre recordado

Ainda hoje muitos pilotos continuam a recordar e homenagear a memória de James Hunt. E talvez nenhum mais do que Kimi Räikkönen — que também já abandonou a Fórmula 1. O piloto finlandês não é conhecido pela sua eloquência — bem, ele é conhecido como o Ice Man, o “home de gelo” —, mas é um admirador confesso de James Hunt e do estilo de vida dos pilotos de competição da década de 70.

Não só chegou a participar em corridas de motos de neve, vestido de gorila, sob o nome do piloto britânico, como durante o GP do Mónaco de 2012 usou um capacete com o nome de Hunt pintado em letras bem grandes.

Mais do que o piloto é a forma de Hunt de lidar com a vida que continuaremos a recordar. James Hunt não se levava muito a sério, aproveitava a vida ao máximo — talvez excessivamente… —, e pouco mudou até ao fim dos seus dias. Genuinidade parece ser uma característica rara nos dias que correm, não só na Fórmula 1.

Até sempre, James Hunt…