Opinião Unidos por porcos, álcool e carros chineses

Tarifas

Unidos por porcos, álcool e carros chineses

A União Europeia e a China continuam em negociações. Entre porcos, álcool e carros elétricos ninguém quer dar o braço a torcer.

Ilustração de porco a conduzir com copo na mão
© Razão Automóvel

Aparentemente, cada geração tem aquilo que merece. As gerações de 60/70 viveram a era do “sexo, drogas e rock and roll“. A atualidade oferece-nos uma trilogia menos interessante: porcos, álcool e carros chineses. Vamos por partes, prometo que depois desta introdução tudo fará sentido — nos tempos quase orwellianos que vivemos já não é pouco.

Começando pelo início. A China quer evitar, a todo custo, que as tarifas da União Europeia aos veículos elétricos fabricados em território chinês se tornem definitivas. Por isso, propôs à União Europeia (UE) um compromisso de preços mínimos nas exportações. Uma forma diplomática de evitar o rótulo de dumping e de manter abertas as portas do mercado europeu.

Em troca, o Governo de Pequim está disposto a aceitar medidas semelhantes para os produtos europeus que também considera serem subsidiados pela UE. Entre eles o conhaque (francês, claro) e a carne de porco.

BYD Dolphin Surf dianteira 3/4
© BYD Algumas empresas francesas concordaram praticar preços mínimos para o conhaque, numa tentativa de evitar represálias. Agora, a China tenta aplicar a mesma lógica aos veículos elétricos, esperando que Bruxelas abrace o modelo e recuse as tarifas.

Mas as dúvidas da UE sobre a monitorização e a exequibilidade legal destes acordos são grandes. E se as negociações falharem, Pequim poderá mesmo avançar com restrições à importação de carne de porco da UE — uma decisão já agendada para dezembro —, ou até mesmo restringir o acesso europeu a terras raras, como sabemos, vitais para a indústria automóvel e de baterias.

Esta indefinição torna-se ainda mais relevante quando, do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos não oferecem propriamente estabilidade política ao resto do mundo. De acordo com o Automotive News Europe, só em abril, as tarifas impostas por Trump custaram mais de 500 milhões de euros às marcas alemãs.

Ainda assim, nem tudo são más notícias. Há esperança de que o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia avance de vez. Caso aconteça, criará um dos maiores blocos económicos do mundo, com mais de 720 milhões de consumidores.

Falando novamente de automóveis, abrirá as portas da indústria automóvel europeia a mercados outrora inviáveis devido às tarifas alfandegárias. Resta saber se o protecionismo disfarçado de orgulho nacional, com o queijo italiano ou a agricultura francesa à cabeça, não vai emperrar mais uma vez a engrenagem da economia europeia.