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Terras raras poderão ser a próxima grande crise da indústria automóvel

A limitação de exportação de terras raras poderá ser o próximo grande problema da indústria automóvel, mais grave até que a crise dos chips.

Terras Raras
© Peggy Greb, US department of agriculture

“Vamos estar em muitos maus lençóis.” Foi desta forma que Sam Abuelsamid, vice-presidente de pesquisa de mercado da Telemetry, alertou para as consequências das restrições às exportações de minerais de terras raras impostas pela China, caso não seja alcançado um consenso internacional.

A situação é grave e a indústria automóvel e de componentes, em várias partes do mundo, já fez soar os alarmes: já se notam perturbações em várias linhas de produção e algumas até já pararam.

A CLEPA (Associação Europeia de Fornecedores Automóveis) e a MEMA (Associação de Fabricantes de Equipamentos e Componentes dos EUA) apelam por decisões urgentes. “Se a situação continuar sem resolução, o nível de preocupação vai subir bastante”, alertou a associação norte-americana.

Ford Mustang Mach-E 2025 - vista lateral em andamento
© Ford (Ford Mustang Mach-e) A Ford foi um dos construtores norte-americanos a pronunciar-se sobre a problemática. “Isto está a sobrecarregar um sistema que estava altamente organizado”, disse Sherry House, diretora financeira da Ford.

O que está a acontecer?

Desde o início de abril, que a China impôs restrições à exportação de minerais de terras raras para os EUA, em resposta direta às tarifas anunciadas pelo país norte-americano. Desde então, centenas de pedidos de licenças de exportação foram submetidos às autoridades chinesas, mas apenas cerca de um quarto terá sido aprovado.

De acordo com a Reuters, o processo de aprovação cabe ao Gabinete de Segurança Industrial e Controlo de Importações e Exportações, um departamento do Ministério do Comércio da China. Documentos oficiais revelam que contam com apenas três responsáveis seniores para analisar e autorizar os pedidos.

Atualmente, a China controla cerca de 70% da produção mundial destes minerais e 90% da sua capacidade de refinação, o que lhe confere um papel dominante na cadeia de abastecimento global.

Os minerais de terras raras são vitais para a indústria automóvel, uma vez que estão presentes em motores (elétricos e térmicos), sistemas de travagem regenerativa, infoentretenimento, sensores e muito mais.

“Não são só os automóveis que dependem destes minerais. Se não conseguirmos garantir o acesso a metais de terras raras, estaremos em muito maus lençóis”, disse Abuelsamid à Automotive News. “Se a situação não for resolvida, pode provocar uma disrupção ainda maior do que a crise dos chips”, afirmou.

A crise dos semicondutores — chips —, que começou em 2020 resultou numa escassez que obrigou os fabricantes a limitar ou a suspender a produção de vários modelos nos anos seguintes. Estima-se que mais de 17 milhões de veículos tenham sido retirados dos planos de produção entre 2021 e 2023, segundo a AutoForecast Solutions.

Volkswagen T-Roc a curvar, frente
© Volkswagen O Volkswagen T-Roc foi um dos modelos que viu a sua produção impactada pela crise dos semicondutores em 2023.

Face à atual instabilidade, algumas empresas estão a considerar transferir parte da produção para a China, como forma de contornar as restrições impostas pelo país, revelou o Wall Street Journal.

Recentemente, Donald Trump, presidente dos EUA, reuniu-se com Xi Jinping, homólogo chinês, e garantiu que este iria levantar as restrições às exportações de minerais de terras raras. Contudo, o comunicado divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da China relativo a este encontro não incluia nenhuma referência a isso.

Previsões para o resto do ano

O cenário não é animador. Mathias Miedreich, responsável pela divisão de cadeias cinemáticas eletrificadas da ZF — um dos maiores fornecedores da indústria automóvel a nível mundial — alerta que a produção global de veículos poderá começar a cair nos próximos meses.

“Há tantos ímanes e terras raras nos veículos que, estatisticamente, haverá sempre um ou outro componente que não poderá ser enviado e por isso o carro não poderá ser fabricado”, disse Miedreich.

Apesar de a ZF estar, na maioria dos casos, a conseguir obter as licenças de exportação da China de forma mais célere do que o esperado, o responsável admite que outras empresas da cadeia de abastecimento estão a enfrentar maiores obstáculos, o que aumenta o risco de falhas críticas no fornecimento.

Como tal, o fornecedor alemão antecipa uma quebra na produção de veículos novos na segunda metade do ano, motivada não só pela escassez de terras raras, mas também por uma eventual redução da procura, fruto de um previsível aumento dos preços causado pelas tarifas norte-americanas.

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