Crónicas Yamaha DT 50 LC. A saudosa motorizada que trocámos pelo conforto

Nostalgia

Yamaha DT 50 LC. A saudosa motorizada que trocámos pelo conforto

Um encontro fugaz com uma Yamaha DT 50 LC trouxe memórias da juventude, mas trocaria o conforto do carro por uma volta nostálgica?

DT 50 LC

Hoje, enquanto vinha para a Razão Automóvel de carro — a ouvir o nosso podcast Auto Rádio, naturalmente — parou ao meu lado um velhinha Yamaha DT 50 LC. Apenas «LC» para os amigos.

Não parecia velha. Alias, parecia acaba de sair de um stand. Estava totalmente original, numa das cores que mais gostava: cor de rosa. Lembrem-se que gostos não se discutem.

Ainda era uma daquelas versões com travão de tambor na roda dianteira — só mais tarde é que surgiram as versões com disco de travão. Para muitos jovens nascidos nas décadas finais do século passado, esta motorizada japonesa foi o primeiro «grande amor» com motor.

Era presença habitual na frente das escolas secundárias. Quem tinha a sorte de ter uma — ou trabalhou no verão para ter essa sorte… — sabe que era meio caminho andado para ser popular. De manhã, o cheiro a gasolina de mistura na roupa distinguia esses sortudos e sortudas dos comuns mortais que se deslocavam a pé, de bicicleta ou de transportes públicos.

A receita desta pequena motorizada japonesa era relativamente simples: um motor monocilíndrico a dois tempos, refrigerado a líquido (obrigado ao Tiago Leitão pela correção), com caixa de seis velocidades que permitia muitas «maldades». A ciclística era simples mas robusta, permitindo algumas incursões fora de estrada e algumas habilidades típicas da idade.

Ver aquela Yamaha DT 50 LC no trânsito foi como entrar momentaneamente numa máquina do tempo. Com a diferença que agora não estou a vê-la de mochila às costas enquanto vou a pé pela rua. Agora sou aquela pessoa que vai de carro, com uma cadeirinha de criança no lugar traseiro, a caminho do trabalho. Dei pela passagem do tempo em menos de nada.

Cheguei à nossa redação e fui procurar uma Yamaha DT 50 LC nos classificados. Apercebi-me que há mais saudosistas como eu. Os preços desta pequena heroína do século passado estão elevados. Fiquei surpreendido.

Querem mais uma prova que os tempos são outros? Enquanto antigamente «lutávamos» por ter a DT 50 LC mais kitada da escola, agora a luta é por ter a versão mais original possível.

Falar da Yamaha DT 50 LC continua a ser falar da nossa adolescência. Uma adolescência que com o aproximar dos 18 anos começámos a querer trocar pelo conforto (e possibilidades…) que os carros nos ofereciam.

Ao arrancar do semáforo, esforcei-me para ultrapassar a pequena Yamaha DT 50 LC e descobri que aos seus comandos estava outro jovem como eu, talvez com mais de 40 anos. Fiquei novamente com vontade de ter uma.

Por momentos, apeteceu-me novamente trocar o conforto do carro por uma volta nostálgica numa motorizada. Já passaram pelo mesmo?