Camiões
Camiões do Dakar. Tudo o que queres saber sobre estes «monstros»
Falta cerca de uma semana para o arranque do Dakar 2018, a prova rainha do todo-o-terreno. Com ela chegam também os camiões mais espetaculares do mundo.

O Dakar é a prova rainha do todo-o-terreno. É a prova mais icónica, mais exigente e mais espetacular do mundo no que ao todo-o-terreno diz respeito.
Entre as várias categorias que disputam o Dakar — carros e buggys, motas, quads, etc — há uma que se destaca. Não é pela velocidade (esse papel pertence aos carros) e também não é pela técnica. É pela brutalidade e demonstração de força.
Refiro-me, claro, aos camiões do Dakar que competem na classe T4 — sob homologação da FIA (categoria T4.1) e ASO (categoria T4.2).

Uma herança de espetáculo
Desde a primeira edição, em 1979, que os camiões têm um papel fulcral no Dakar. Ora como veículos de apoio, ora como veículos de competição.
Primeiro, vamos falar dos camiões de competição. Aqueles que dão espetáculo…
Tanto espetáculo que houve uma época em que os camiões aspiravam ganhar o Dakar à geral — isso mesmo, à geral! Já imaginaram camiões a disputar o Dakar, taco-a-taco, com os carros?

Não precisam de imaginar. Contámos essa história aqui na Razão Automóvel há cerca de um ano — podes recordar o artigo do «supercamião» do Sr. De Rooy (nas imagens) através deste link.

Os regulamentos que regiam os camiões do Dakar na década de 80 — à semelhança de outras categorias do desporto automóvel — permitiam quase tudo.
Os únicos limites à imaginação dos engenheiros eram os recursos técnicos e financeiros.

Hoje não é assim…
Hoje os regulamentos são infinitamente mais restritivos. Isto vale tanto para os camiões do Dakar como para as restantes categorias.
O objetivo da organização, a cargo da ASO, foi reduzir ao máximo a probabilidade de acidentes graves. Um camião de 10 toneladas a mais de 200 km/h não é (definitivamente) o veículo mais seguro do mundo…

Hoje a velocidade máxima dos camiões está limitada a 140 km/h e independentemente do tempo que efetuem nas etapas, os resultados não são considerados à geral. Ainda assim, os camiões do Dakar continuam espetaculares como sempre foram.
Este Especial da Razão Automóvel é dedicado a eles!
Os camiões do Dakar na atualidade
Apesar das limitações em termos de regulamento, podemos continuar a falar de «supercamiões». E um dos melhores exemplos é o Kamaz 4326, vencedor do Dakar 2017.
Vejam este vídeo:
Com 10 200 kg de peso (em ordem de marcha), 6,9 m de comprimento, 3,28 m de altura e 2,55 m de largura, este camião russo é animado por um motor Liebherr D9508.

Trata-se de um bloco V8 biturbo com 16.2 l de capacidade, 1000 cv de potência (às 2400 rpm) e 4000 Nm de binário máximo (às 1500 rpm). Muita «fruta» portanto.
Tal como nos melhores desportivos, o motor do Kamaz 4326 encontra-se instalado em posição central. Além de permitir uma distribuição de pesos mais equitativa, permite também alcançar melhores ângulos de ataque e de saída para enfrentar dunas, montes, buracos, etc.

A caixa de velocidades responsável por entregar toda esta potência às rodas é uma ZF 16S251 de 16 velocidades — a caixa de transferências também é fornecida pela ZF. A tração é servida às quatro rodas.
Como devem calcular, de nada serviria toda esta potência se não fosse acompanhada de uma estrutura à altura da missão. Cada eixo é servido por um par de suspensões de lâminas com amortecedores duplos de 300 mm de curso (os regulamentos não permitem mais), capazes de suportar até 12 G(!) de força.

Por outras palavras, estamos a falar de suspensões capazes de absorver cargas que podem superar os 122 000 quilos!
Quanto à cabine, está equipada com os melhores dispositivos de segurança — cintos de competição, baquets especificas, roll-bar, etc. — tudo certificado pela FIA e/ou pela ASO. Ao contrário dos carros, nestes camiões há lugar para três ocupantes: piloto, navegador (sentado ao centro) e mecânico.

O objetivo destes camiões da categoria T4 é apenas um: vencer o Dakar na sua classe. Mas há outros camiões cuja missão não é vencer, ainda assim têm uma missão igualmente nobre: ajudar a vencer.
Os camiões de assistência
Como já perceberam, dentro da classe T4 há várias subclasses. Das duas primeiras já falámos, são os tais «supercamiões» que voam baixinho sem olhar a meios. Depois há os camiões da classe T4.3, estes camiões são a «apólice de seguro» das equipas de topo quando as coisas correm menos bem.

Uma vez que a assistência durante as provas só é permitida entre concorrentes, as equipas oficiais recorrem a estes camiões para prestarem assistência rápida aos seus carros em caso de avaria e/ou acidente.

Estes camiões são na maioria das vezes, em tudo iguais aos camiões T4.1 e T4.2. Com a diferença que os pilotos destes camiões têm o andamento condicionado em função do veículo a que estão a dar assistência. Seja camião, carro ou mota.

Aqui a preocupação com o peso é quase inexistente. Estes camiões transportam peças suplentes na zona de carga, e na cabine uma tripulação com know-how suficiente para montar e desmontar um veículo no meio do deserto.
Se o teu sonho é participar num Dakar, sabias que podes comprar um lugar num camião? Além de competires, poderás desempenhar tarefas tão nobres como cavar no deserto, prestar assistência e coleccionar hérnias discais…
Caso o dinheiro não chegue para uma aventura da envergadura do Dakar, tens sempre opções mais baratas. Como esta (ver link).
Finalmente, os camiões da classe T5
Os camiões do Dakar da classe T5 são os «camelos de carga» do Dakar.
RELACIONADO: LeTourneau TC-497. Este é o maior veículo todo o terreno do mundoEstes camiões andam de bivouac em bivouac, carregados com toneladas de material para dar assistência às equipas oficiais e, também, aos privados que têm meios financeiros para comprar algum espaço de carga nestes «monstros».

O número de camiões T5 inscritos por cada equipa é limitado. Acomodar estes monstros juntamente com mais de uma centena de veículos, milhares de pessoas e milhões de euros em equipamento não é fácil.
Na verdade, é um pesadelo logístico itinerante sobre o qual talvez valha a pena escrever noutra altura.

Posso partilhar duas memórias contigo?
Ficará para sempre registado na minha memória duas recordações do Dakar diretamente relacionadas com os camiões. Uma foi em Espanha, durante o prólogo que se realizou na cidade de Granada. Tinha eu 12 anos de idade, mais coisa menos coisa.
A NÃO PERDER: Foi assim que nasceu o Dakar, a maior aventura do mundoPensava que já tinha visto tudo, quando, sem qualquer aviso, um Kamaz sai disparado de uma curva em powerslide. Isto a mais de 80 km/h seguramente! Este momento foi acompanhado por um visível trabalho de braços do piloto, uma coluna de fumo negro a sair do escape e lama a ser projetada a vários metros de altura pelas rodas traseiras. Lindo!

A segunda recordação é bem mais recente. Aconteceu numa das edições em que o Dakar arrancou de Lisboa. Num desses anos fui assistir à passagem da comitiva do Dakar, entre Alcácer do Sal e a Comporta, ao «vivo e a cores».
Depois de alguns quilómetros, lá encontrei lugar para me sentar mais uns amigos. Estava sentado num lugar onde os jipes e as motas que passavam tinham de desviar-se dos pinheiros de pequeno porte. Os camiões, perante esses mesmos pinheiros, seguiam a direito. Enfim, outra demonstração de força e de poder.
Pouco depois, eu próprio ia ficando com mais uma recordação do Dakar quando (por muito pouco) não virei a minha Moto 4 numa das valas criadas pelos camiões. Até parecia trabalho de uma escavadora!

Infelizmente, o Dakar parece condenado a continuar indefinidamente pela América do Sul. Resta-nos esperar pelo tão aguardado regresso às origens para voltarmos a contemplar a melhor, mais perigosa e competitiva prova todo-o-terreno do mundo: o Dakar.
Para terminar, fiquem com o «best of» dos camiões do Dakar em 2017.
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