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Os truques que as marcas usam para bater recordes no Nürburgring

O "inferno verde" é o circuito predileto dos desportivos de alta performance, mas até que ponto é que se pode confiar nos recordes no Nürburgring anunciados pelas marcas?

Nissan GT-R Nürburgring

Pergunta para um milhão de euros: até que ponto é que se pode confiar nos recordes no Nürburgring ou nos tempos anunciados pelas marcas no circuito alemão? Para quem teve oportunidade de ler o nosso artigo sobre os carros mais rápidos no Nürburgring Nordscheleife não é surpresa afirmarmos que o “inferno verde” é a derradeira «prova de fogo» para os desportivos de produção.

Um circuito que é tão exigente do ponto de vista dinâmico que por vezes conta mais o acerto da suspensão e a competência do chassis do que a potência ou a velocidade máxima. Fruto desta exigência e também da mística em torno do circuito alemão, as marcas de automóveis têm transformado o traçado alemão não só numa pista de testes, mas também numa bem oleada máquina de propaganda.

Todos os meses surgem notícias que o modelo X bateu o recorde Y no Nürburgring. E nós notamos que efetivamente essas notícias são bem recebidas e surtem efeito junto do público, basta passar pelo nosso Facebook e ver as discussões em torno do tema sempre que é anunciado um novo recorde.

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Mas será que podemos confiar nos tempos registados no Nürburgring? Até que ponto os tempos no Nürburgring podem ser usados como barómetro da supremacia de um modelo face a outro? Estes são alguns dos fatores que influenciam as prestações no circuito alemão:

Piloto

piloto nurburgring

Todos concordam que para a obtenção de um tempo recorde (principalmente no Nürburgring, um dos circuitos mais exigentes e imprevisíveis), para além do carro, é necessário um piloto experiente e habilidoso. E num traçado com mais de 20 km de extensão e 73 curvas o piloto faz toda a diferença. E como sabemos, há marcas que batem os seus recordes recorrendo a pilotos de testes e outras que o fazem com recurso a pilotos de competição.

Mas este nem é o fator que mais descredibiliza os tempos alcançados no Nürburgring Nordscheleife, porque cada marca é livre de colocar o piloto que quer atrás do volante — e acreditamos que cada marca escolha o melhor que tem disponível. Os seguintes fatores são mais críticos.

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Especificações do carro

engenheiros nurburgring

O que nos garante que os modelos levados pela marca para o circuito estão com as especificações de série? Por vezes, basta remover os bancos traseiros ou quaisquer outros elementos do habitáculo para retirar peso desnecessário em circuito. Já para não falar nos pneus de série que são substituídos por unidades de competição ou nos tweaks na suspensão e no chassis. Um problema comum, mas que não deixa de ter a sua importância, especialmente no que toca às comparações entre dois modelos.

O carro que comprei será tão capaz quanto aquele bateu o recorde ou será menos eficaz? É uma pergunta importante, na medida em que o processo de compra poderá basear-se na supremacia de um determinado modelo em função de outro.

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Condições meteorológicas

aston martin à chuva no nurburgring

A chuva e a humidade podem arruinar qualquer tentativa de um tempo rápido no Nürburgring Nordschleife, e se é verdade que nem sempre é fácil conseguir as condições ideais, num mundo perfeito, todos os carros deveriam poder correr nas mesmas condições.

Preparação das marcas

equipa nurburgring

Por motivos de logística, nem todas as marcas dispõem do mesmo tempo para preparar uma volta rápida ao circuito alemão. Se em alguns casos, os engenheiros das marcas passam mais de 400 horas em pequenas afinações ao carro e os pilotos têm mais de 200 voltas para atingir o tempo pretendido, noutros casos torna-se mais difícil fazer correções e atingir o objetivo em tão pouco tempo.

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Combinar sectores individuais

mclaren p1 nurburgring

Um dos truques usados pelas marcas para reclamar um melhor tempo final. Dizem as más línguas que alguns desportivos, como o McLaren P1, conseguiram tempos recorde combinando setores individuais, conseguindo assim uma volta quase perfeita. Tudo isto é justificado pelo facto do sistema de regeneração de energia (no caso do McLaren P1) não ser capaz de suportar o desgaste das baterias ao longo dos cerca de sete minutos.

Então, qual é a solução?

Deixamos de dar importância aos tempos divulgados? Não. Simplesmente devemos ter uma postura mais pragmática face aos resultados obtidos. Até porque pode acontecer o oposto: um automóvel que nem é o mais rápido no Nürburgring pode inclusivamente ser aquele que se adapta melhor às reais necessidades dos condutores no quotidiano.

A solução para acabar com as dúvidas relativamente aos tempos Nürburgring poderia passar pela criação de uma entidade independente que fizesse a homologação destes recordes. Nomeadamente garantir que os automóveis utilizados para bater estes recordes obedecem às especificações de fábrica, e que os tempos são batidos em circunstâncias semelhantes (traçado, temperatura, etc.)