Notícias “Fronteira não é inexplicável, mas para se conhecer é preciso sentir”

Testemunhos de quem nunca perdeu uma edição

“Fronteira não é inexplicável, mas para se conhecer é preciso sentir”

Um, enquanto piloto, outro, enquanto jornalista. Os testemunhos de António Xavier e Rui Cardoso, dois veteranos da já mítica prova alentejana: 24 Horas TT Vila de Fronteira.

24 Horas Fronteira 2017

Fronteira não é só competição. Não é só automóveis. São também estórias do arco-da-velha, momentos de camaradagem, situações aflitivas e momentos inesquecíveis. Um somatório de acontecimentos que ao longo destes 20 anos, também fizeram desta prova alentejana um evento supra-desportivo, capaz de reunir gentes de todos os quadrantes e lugares, de todas as áreas e profissões.

Entre estes, estão António Xavier e Rui Cardoso. Ambos jornalistas e também totalistas em presenças na já mítica prova de Fronteira, ainda que em lados opostos da “barricada” – o primeiro, no desempenho da sua profissão, ainda que com uma breve passagem pelo volante, ao passo que o segundo, fê-lo sempre como piloto. É precisamente algumas dessas estórias, reunidas ao longo de duas décadas, que aqui vamos recordar.

A novidade, a camaradagem e o espírito de Fronteira

“Recordo-me que a primeira vez que vim a Fronteira, logo em 97, foi com um UMM”, recorda Rui Cardoso, lisboeta, editor do Expresso, confesso apaixonado do todo-o-terreno e do Benfica – não sabemos qual das paixões é mais forte.

As primeiras aventuras acontecerem logo nesse ano de estreia, com “uma bainha do diferencial dianteiro partida. Mas, como não havia tempo para reparar, soldámos o que pudemos, colocámos pneus cardados e fomos fazer a última volta”. “Era assim que funcionava, naquele tempo…”.

Desde 2001 ao volante de um Nissan Patrol GR, Rui Cardoso é um dos poucos totalistas de Fronteira

Já quanto a António Xavier, jornalista com uma vasta experiência, hoje a trabalhar com o Automóvel Club de Portugal (ACP), guarda dos primeiros anos “a novidade”, “o entusiasmo”, daqueles que eram “os verdadeiros apaixonados pelo TT, isto numa altura em que a modalidade estava em crescendo”. E claro, “o espírito da organização e, nomeadamente, do José Megre, que já tinha dado provas de que conseguiria montar uma prova assim, com Portalegre”, e que acabou por estar na fundação de uma prova que “é, efectivamente diferente de tudo – desde o espirito do próprio evento, até à amizade, à camaradagem, ao intercâmbios de experiências”. Qualidades que, acredita, “apesar das coisas hoje em dia estarem muito diferentes, não se irão perder nunca. Porque Fronteira é tudo isto e muito mais!”.

Aliás e sobre as diferenças ocorridas ao longo dos últimos 20 anos, o jornalista também concorda que, “antigamente, isto era muito diferente”, com a maior parte dos concorrentes apostada “no jipe puro e duro, muitas vezes o UMM, preparado à partida para fazer uma prova de resistência. Ainda que, na verdade, poucos soubessem o que é que isso significava”. Tal como não tinham consciência do que era “conduzir 10 ou 12 horas sem luz, com a noite a ser particularmente traiçoeira, o que faz o espírito de aventura triplicar”.

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Quando os esguichos funcionaram a cerveja

Desses momentos de maior adrenalina, Rui Cardoso, que nas 20 edições da prova em que marcou presença, “foi sempre como piloto”, apesar de já ter feito algumas provas do Nacional de TT “como navegador, mas aquilo dava-me a volta ao estômago e acabou por ser uma experiência de pouca dura”, recorda, por exemplo, um episódio de Fronteira “com muita lama.

“Fiquei sem água nos esguichos e como estava a chegar a um sítio onde estava um grupo de espectadores, parei e pedi a um deles que me deitassem um pouco de água no pára-brisas. Eles, no entanto, que já estavam um pouco bebidos, responderam-me que só tinham cerveja, ao que eu disse: “Não faz mal! Também pode ser…”. E foi assim que tirámos a lama do pára-brisas e eu continuei em prova, ainda que com um cheiro horrível dentro do carro… Mas chegámos ao fim!”.

Já para o jornalista do ACP, António Xavier, “fronteira é uma prova que tem sempre muito que contar”, e “ainda mais à margem da competição”, com “os fait-divers, os momentos de camaradagem, o espirito de equipa”. “É que é preciso não esquecer que nesta prova acabam por se juntar pilotos de todas as vertentes do desporto automóvel”, recorda, acrescentando que “vem gente dos ralis, da velocidade, dos karts”. ” Mesmo aqueles que foram rivais durante o campeonato, aqui, passam a ser companheiros, ainda que estejam em equipas e boxes diferentes”.

24 Horas Fronteira 2017
António Xavier. Há vinte anos que acompanha Fronteira.

“Não é algo que não consiga explicar, mas a verdade é que, para se conhecer verdadeiramente Fronteira, é preciso sentir”, conclui.

O caso da roda perdida

Quanto à sua (breve) experiência ao volante, Xavier relembra que o aconteceu “em 2004 e 2005”, primeiramente, “num carro impróprio para a saúde e para a coluna vertebral, mas também resistente como poucos – um Defender 90, que, no caso em concreto, conseguia ser ainda mais violento que o modelo original, uma vez que estava preparado para fazer o Nacional de Trial. E a verdade é que aguentou, melhor até que as nossas costas!”.

No entanto, as peripécias não se ficaram por aí. “Acabei por ser também bombeiro”, já que, “cerca das duas da manhã, encontrei um Nissan Terrano II a arder, cujo piloto já tinha gasto a totalidade do seu extintor a tentar apagar o fogo. Eu parei e, com o meu extintor, acabei por ajudar a extinguir o incêndio. Porque Fronteira também é isto: espírito de entreajuda”.

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De resto e nesse mesmo ano de 2004, o veterano jornalista acabou por viver outra situação invulgar, quando foi obrigado a ir à box para mudar um amortecedor partido. “Tudo correu dentro da normalidade: tirámos a roda, colocámos um amortecedor novo, voltámos a montar a roda e eu regressei à pista. O problema foi quando cumpridos uns 500 metros e após um pequeno salto, vejo uma roda a passar-me à frente…era a minha! Tinha ficado mal apertada e, com o salto, acabou por soltar-se, com o carro a pender para o lado e a raspar, ao longo de 20 ou 30 metros, na barreira”. Assim e “com o carro de lado, acabei por ter de fazer uma ginástica suplementar e sair pela porta do passageiro…”.

24 Horas Fronteira 2017
Desta vez, a cerveja no capot do Patrol não serviu outros propósitos…

“Espírito de Fronteira vai continuar”

Entretanto e cumpridas que estão 20 edições de Fronteira, o balanço, defende Rui Cardoso, só pode ser positivo. “Continua a existir aqui um cheirinho daquilo que é o velhinho TT, com a participação daqueles ‘maduros’ que continuam a correr com carros que já não se vêem em lado nenhum, como é o caso da equipa que corre com uma Peugeot 504, ou de outras que alinham com Renault 5 ou Datsun Y. Há também o companheirismo, sendo que toda a gente se ajuda, seja para passar umas garrafas de cerveja, um ‘balde’ de caldo verde, uma ferramenta, pneus ou peças. E é também por tudo isto que Fronteira é diferente.”

Já António Xavier vê o futuro das 24 Horas de Fronteira “com muito bons olhos, ainda que tudo esteja a mudar”. Até porque, “Fronteira e o seu espírito vão continuar, mesmo com as coisas a caminharem num sentido em que, o tipo de carros que estamos habituados a ver, acabarão por desaparecer. O futuro são os chamados ‘aranhiços’ e não os carros de todo-o-terreno”.

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António Xavier partilha ainda que “mesmo com o peso que aspectos como a segurança começam a tomar – algo que, aliás, acho natural e compreensível -, e apesar das saudades que tenho, por exemplo, do José Megre, que era o verdadeiro espírito disto tudo – embora o ACP demonstre saber dar continuidade ao legado -, não tenho dúvidas que o espírito de Fronteira continuará…”

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