Não é todos os dias que as três marcas premium alemãs decidem entrar num negócio em conjunto. No entanto, foi exatamente isso que aconteceu quando há cerca de quatro anos a Audi, BMW e a Daimler uniram esforços e adquiriram os serviços de mapping e localização da Nokia, a HERE, por cerca de 2,72 mil milhões de euros.
A ideia por detrás do negócio era simples: adquirir um serviço de mapeamento sofisticado que pudesse ajudar com o desenvolvimento da tecnologia de condução autónoma. Mas os planos do trio alemão para a aplicação desenvolvida pela Nokia não se estendem apenas aos automóveis.

Mapas detalhados ajudam à condução autónoma
Como sabes, um dos elementos cruciais para o avanço da tecnologia de condução autónoma é a existência de sistemas de mapeamento exatos. Estes permitem aos carros autónomos “saber” o que os espera num determinado percurso, sendo que quando estes detetam algo através dos seus sensores que não se encontram no mapa (como um peão, por exemplo) têm capacidade para parar e avaliar a situação.
Ainda assim, para se ter um mapa tão detalhado é necessária uma coisa: recolha de dados. Desde 2016 que os três fabricantes passaram a fornecer à HERE dados recolhidos em tempo real pelos seus modelos, como informações de trânsito, potenciais riscos na estrada, mudanças climáticas, mudanças nos limites de velocidade e até lugares de estacionamento vagos.
O resultado desta recolha de dados traduziu-se no sistema HERE Real-Time Traffic, que tanto a Audi como a Daimler adotaram a partir do início de 2019. Mas foram implementados mais projetos, como o sistema de informações de tráfego em tempo real utilizado pelos seus modelos na América do Norte (ambas as empresas), na Europa (no caso da Audi) na região da Ásia-Pacífico (no caso da Daimler), sendo que a BMW já utiliza esta tecnologia nos seus modelos na América do Norte e na Europa desde meados de 2018.

HERE quer ir além de mapas
A empresa adquirida pelo trio alemão acredita que os mapas detalhados que tem vindo a desenvolver podem ajudar a mudar as indústrias dos transportes, logística e serviços para além de terem a capacidade de se tornarem componentes cruciais em serviços de mobilidade conectada, como os serviços de car sharing e ride sharing.
Assim, a HERE conta aplicar tecnologias como a Reality Lens, utilizada pelos veículos da HERE (semelhantes aos automóveis usados pela Google Street View e equipados com LIDAR) a áreas como, por exemplo, a manutenção de estradas ou redes de alta tensão.
A ideia passa por recorrer às imagens captadas pela Reality Lens para avaliar o estado de estradas ou cabos de alta tensão, evitando a deslocação de funcionários aos locais. De acordo com a HERE, isto permitiria não só aumentar a produtividade como iria conduzir a uma redução dos custos de operação e dos riscos de acidentes de trabalho.
Ao mesmo tempo, a HERE pretende estabelecer-se como o “Kayak da mobilidade urbana”, agregando dados de uma variedade de fontes e para uma série de aplicações. A HERE pretende ainda fornecer acesso a uma série de serviços de mobilidade (desde ride sharing e car sharing até informações sobre transportes públicos e emissão de bilhetes) e oferecer aos fornecedores de serviços um “canal de aquisição personalizado”.

Bosch e Intel também fazem parte da equação
Desde o momento em que adquiririam a HERE, Audi, BMW e Mercedes-Benz deixaram bem claras duas coisas: a primeira era que pretendiam manter a independência da aplicação, a segunda era que as portas se mantinham abertas a novos investidores.
Se a primeira se confirma pela quase total liberdade com que a HERE tem vindo a desenvolver novas tecnologias, a segunda é confirmada pelo facto de que desde 2015, mais duas empresas se terem juntado à Audi, à BMW e à Mercedes-Benz.
Assim, em 2017, a Intel foi a primeira a juntar-se ao trio alemão, comprando 15% da HERE, sendo que em 2018 foi a vez da Bosch comprar 5% da empresa que é conhecida por a desenvolver mapas e mapeamento e serviços de localização.