Opinião Portugal. O país dos carros velhos que «sonha» com elétricos

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Portugal. O país dos carros velhos que «sonha» com elétricos

Os portugueses circulam em carros cada vez mais velhos. A cada ano que passa o cenário piora. Este é um cenário que tem de mudar.

Filas de trânsito no acesso à praça das portagens na Ponte 25 de abril.
© Razão Automóvel

Será que estamos verdadeiramente preocupados com a poluição nas cidades? E com a segurança rodoviária? Fazendo fé no discurso dos nossos decisores políticos a resposta é «sim». Mais do que nunca até.

Mas depois somos confrontados com a realidade. Há uma clara dissonância entre as intenções e os resultados. O parque automóvel português está cada vez mais velho. Dados da ACAP revelam que no nosso país, um em cada quatro carros tem mais de 20 anos.

A tendência é para piorar. Os automóveis estão cada vez mais caros e a tão desejada renovação do parque automóvel — que traria modelos mais ecológicos e seguros para as nossas estradas — arrasta-se.

Perante a escalada dos preços dos «novos» resta aos portugueses os automóveis usados e usados importados. Estima-se que em cada 10 matrículas novas, quatro pertençam a veículos importados. Maioritariamente mais velhos, menos seguros e mais poluentes.

Os poucos incentivos que existem, resumem-se na sua essência ao mercado empresarial. Aos particulares restam poucas alternativas. Temos os nossos decisores políticos a sonhar com um parque automóvel 100% elétrico, mas na prática estão a dificultar essa transição.

Em vez de sonharmos com um parque automóvel 100% elétrico — o que é legítimo e aparentemente inevitável — devíamos almejar primeiro um parque automóvel mais moderno e amigo do ambiente. Estamos a saltar etapas. O regresso do incentivo ao abate, que esteve em vigor até 2010, já mostrou no passado a sua eficácia.

Porta de carregamento dianteira

Desde que o incentivo ao abate foi abolido, a idade média do parque automóvel em Portugal nunca mais parou de aumentar.

Bastaria esta medida, acompanhada de uma revisão da fórmula de calculo do ISV que incide sobre a cilindrada dos motores — neste particular Portugal está (quase) «orgulhosamente só» — e que penaliza erradamente os veículos híbridos, para acelerar de forma determinante a descarbonização do parque automóvel português.

A nossa fiscalidade automóvel faz o pleno. Além de elevada também dá os incentivos errados. Os híbridos, que são a forma mais acessível de aceder à eletrificação e de baixar as emissões são altamente prejudicados.

Enquanto não mudarmos isto, pouco ou nada muda. Vamos continuar a sonhar com elétricos e a circular com carros velhos. Cada vez mais velhos.