Testes Renault Mégane RS 275 Trophy: Ode Triunfal

Renault Mégane RS 275 Trophy: Ode Triunfal

Se o vosso sonho é ir para o trabalho todos os dias num carro de ralis, o Renault Mégane RS 275 Trophy é a escolha certa. Um modelo que transporta a magia da competição para a vossa garagem.

Renault Mégane R.S 275 Trophy
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Penso no Renault Mégane RS 275 Trophy e as minhas mãos começam automaticamente a suar. Tanto assim é que recordo as sensações vividas aos seus comandos e começo a duvidar que consiga arranjar adjetivos suficientes para o caraterizar. Neste apelo à memória juro que até os dedos resvalam no teclado.

“God gave me an okay mind, but an ass which can feel everything in the car”. Pois bem, no RS Trophy o meu traseiro fartou-se de conduzir.”

Renault Mégane R.S. Trophy
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Assim, assumindo logo à partida a minha dificuldade em exprimir por palavras as sensações vividas ao volante do Mégane RS Trophy, lembrei-me da Ode Triunfal de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa. O “tal” que vivia a apoteose das máquinas através da escrita. Porque o meu génio nem sequer o é, lembrei-me das palavras de quem o foi para vos transmitir as sensações deste Trophy:

“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!”

 Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Sem saber, Álvaro de Campos resumiu na Ode Triunfal as sensações de êxtase que podemos vivenciar aos comandos do Renault Mégane RS Trophy.

Renault Mégane R.S. Trophy
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Se o tivesse efetivamente conduzido, Álvaro de Campos diria que a linha de escape Akrapovič (exclusiva desta versão Trophy) faz toda a diferença. Os rateres emitidos pela linha de escape da marca eslovena são audíveis a quarteirões de distância e são uma constante. A estacionar? Pááááa. A levar o puto à escola? Pááááá. Com a “faca-nos-dentes” numa estrada secundária? VRUUUM-PÁ-PÁ-PÁ-PÁÁÁÁÁÁ – Caps Lock com fartura para aumentar o efeito dramático.

Se o Mégane RS com o “escape normal” já matava pássaros e assustava padres e golfinhos, com este escape nem quero imaginar. Em boa verdade, tentei nem saber. Evitei ao máximo circular por estradas onde já tinha antecedentes, não fosse alguém denunciar-me às autoridades por atentado à ordem pública, “olha o tipo do carro amarelo, apanhem-no!”. Além do mais dizem que a internet nas cadeias não é a melhor. Preferi não arriscar, a Razão Automóvel agradece.

Renault Mégane R.S. Trophy
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Por seu turno a suspensão Öhlins (também exclusiva desta versão) contribui para o incremento de perfomance em curva do Trophy. A velocidade com que abordamos as curvas no RS 275 Trophy pode até ser igual à do RS “normal” mas as sensações são diferentes – o tira teimas teria de ser com um ao lado do outro.

Onde a suspensão escandinava ganha efetivamente às suspensões da versão “normal” é na consistência de funcionamento, não cede nunca mantendo a postura mesmo depois de 20 km em modo full attack. Ganha também no feedback proporcionado, principalmente na frente. Se a leitura da estrada no RS já era referencial, no RS Trophy chega a ser desconcertante.

No filme Rush, a personagem que encarna Niki Lauda dizia o seguinte “God gave me an okay mind, but an ass which can feel everything in the car”. Pois bem, no RS Trophy o meu traseiro fartou-se de conduzir. Se tiverem uma hérnia discal melhor; se não tiverem descansem porque é uma questão de tempo.

Renault Mégane R.S. Trophy

A estabilidade em linha reta também melhorou substancialmente – recordo que circular  a direito acima dos 140km/h no RS “normal” chegava a ser um desafio. Com as suspensões Öhlins é tudo mais calmo, a dianteira “fareja” menos a estrada.

Resumindo e baralhando, com as suspensões Öhlins podemos até nem ir mais depressa mas vamos mais confiantes. E como sabem, ter confiança é meio caminho andado para «rapar» aquelas centésimas de segundo por volta que separam os homens de barba rija dos aspirantes a condutores.

Renault Mégane R.S. Trophy
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Para fechar este capítulo, falta referir que estas suspensões Öhlins derivam do mundo dos ralis e que são muito idênticas às que equipam o Mégane R.S. N4 – a versão de competição do carro francês. Acreditem, este é um dado muito importante. Principalmente numa conversa entre amigos. Nada bate o “ah e tal, o meu carro tem suspensões de rali”. Eu sei porque fartei-me de esfregar isso na cara dos meus amigos… perdi uns quantos mas valeu a pena.

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Falando do motor, os engenheiros procuraram aumentar o pico de binário para as 5.550 rpm, através dos parâmetros da gestão electrónica. E, ao aumentarem o binário nesse regime para 349 Nm (+10 Nm), aumentaram a potência para 275cv (201 kW). Contudo, o binário máximo de 360 Nm, disponível entre as 3.000 e as 5.000 rpm, mantém-se inalterado. Sublinho que os parâmetros máximos de potência e binário só estão disponíveis através da selecção dos modos Sport ou Race, no sistema de condução dinâmica R.S. Drive.

Renault Mégane R.S. Trophy
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Nota-se que este motor é uma unidade de outros tempos. A potência por litro não é nada por aí além, os consumos são pornográficos e existe um hiato considerável entre a resposta do motor e o toque no acelerador (turbo-lag). Mas tem pedigree, tem raça e anda… oh se anda! Portanto, como dizem os brasileiros vou deixar-me de “frescuras”.

Até porque o Renault Mégane RS Trophy não é um carro de frescuras. Tirem-lhe as forras do interior, os bancos traseiros, montem um roll-bar e num ápice têm um carro de rali na garagem para levar o puto à escola se for preciso. É essa a magia do Renault Mégane RS 275 Trophy.

Renault Mégane R.S. Trophy
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

É claro que para a magia acontecer têm de desaparecer pelo menos 44 150 euros da vossa conta bancária. Depois da compra, os truques de magia continuam lá para os lados do depósito com a gasolina a desaparecer à velocidade da luz, nem o famoso Luís de Matos fazia melhor. A marca diz que o consumo é de apenas 7.5 l/100 km em ciclo misto – eu até acredito que seja verdade, mas deve ter sido com um monge budista ao volante. Comigo, em modo Zen nunca baixou dos 9 l/100 km.

Falta referir que a versão RS Trophy tem pormenores em camurça no interior (volante, alavanca das mudanças e travão-de-mão), uns autocolantes de gosto duvidoso nas laterais e um lábio no pára-choques dianteiro a dizer Trophy. As jantes negras que podem admirar nas fotografias são fornecidas pela Speedline. Se gostam desses pormenores, podem ver aqui o catálogo da marca.

Antes de terminar, apenas uma palavra de agradecimento aos meus vizinhos por nunca terem chamado as autoridades. Fico a dever-vos essa.

Fotografia: Thom V. Esveld

MOTOR 4 Cilindros
CILINDRADA 1998 cc
TRANSMISSÃO Manual 6 Vel.
TRAÇÃO Dianteira
PESO 1374 kg.
POTÊNCIA 275 CV / 5500 rpm
BINÁRIO 360 NM / 3000 rpm
0-100 KM/H 6,0 seg
VEL. MÁXIMA 255 km/h
CONSUMO (ciclo misto) 7.5 lt./ 100 km (valores da marca)
PREÇO 44.150 € (valor base)