Clássicos 1100 OHC Coupé. O projeto de reconstrução mais ambicioso da Škoda

Reconstrução

1100 OHC Coupé. O projeto de reconstrução mais ambicioso da Škoda

O Skoda 1100 OHC Coupé parecia ter-se perdido para sempre, mas a marca checa encetou um ambicioso projeto de reconstrução e este é o glorioso resultado.

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Foi o ano passado que a Škoda Motorsport celebrou 120 anos de vida e uma das formas que encontrou para celebrar tão especial ocasião materializou-se na reconstrução de um dos (muitos) carros de competição que marcaram a sua história, o 1100 OHC Coupé.

E quando usamos o termo reconstruir, não é de todo de forma modesta, pois os únicos dois exemplares que tinham sido construídos originalmente acabariam por ficar destruídos em acidentes.

O que tornou este projeto de reconstrução particularmente ambicioso, levando à colaboração do Museu da Škoda com o Centro de Protótipos da Škoda Auto para conseguirem trazer de novo à «vida» uma parte da longa e rica história da Škoda na competição.

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Skoda 1100 OHC Coupé
Škoda 1100 OHC Coupé. Uma das só duas unidades construídas.

Os dois únicos exemplares do Škoda 1100 OHC Coupé foram construídos, originalmente, em 1959 e 1960

Eram, na sua essência, versões «fechadas» do também muito elegante 1100 OHC «aberto» (projeto 968), um carro de competição nascido em 1957 e concebido para corridas de resistência, com o sonho de correr nas 24 Horas de Le Mans.

Um sonho que nunca chegaria a concretizar-se devido à situação política que se vivia na então Checoslováquia, dominada pelo regime comunista e pela União Soviética. No entanto, para lá da Cortina de Ferro, tanto o 1100 OHC como o 1100 OHC Coupé não deixaram de ter uma carreira em competição, saboreando a vitória por diversas vezes.

Os coupés eram tecnicamente idênticos aos 1100 OHC originais, sem teto. Recorriam a uma rígida estrutura em treliça, com o pequeno quatro cilindros em linha a ser montado atrás do eixo dianteiro e a transmissão (caixa manual de cinco velocidades) montada atrás, no eixo traseiro, em conjunto com o diferencial (transaxle).

Chassis Skoda 1100 OHC
«Esqueleto» em treliça, motor montado atrás do eixo dianteiro e suspensão independente em ambos os eixos.

O motor em si derivava do usado pelo pequeno familiar Škoda 440 “Spartak”, lançado em 1955. Se neste modelo «civil» o quatro cilindros de 1089 cm3 debitava modestos 40 cv às 4200 rpm, no 1100 OHC e 1100 OHC Coupé esse valor mais que duplicava, atingindo uns muito mais «nervosos» 92 cv às 7700 rpm, podendo atingir, durante curtos períodos de tempo, as 8500 rpm.

Para conseguir tal salto de potência, os técnicos da Škoda Motorsport instalaram árvores de cames na cabeça do motor — a origem da designação OHC ou Over-Head Camshaft —, otimizaram as câmaras de combustão, aumentaram a taxa de compressão de 7:1 para 9,3:1, passou a ser equipado com dois carburadores e ainda foi alvo de mais modificações.

Dependendo das relações de transmissão usadas (adaptadas para cada circuito), o pequeno coupé conseguia atingir uma velocidade máxima de até 200 km/h, igualando a do 1100 OHC sem teto.

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Talvez mais surpreendente fosse o facto de o Škoda 1100 OHC Coupé pesar apenas ligeiríssimos 555 kg, um valor inferior até aos 583 kg do 1100 OHC original, cortesia da sua elegante carroçaria com painéis em alumínio ao invés dos painéis em fibra de vidro do original.

Carreira e «vida» curta

Se o 1100 OHC original já tinha demonstrado a sua superioridade em pista, tendo alcançado vários triunfos, o 1100 OHC Coupé não lhe ficava atrás em rapidez. Porém, a carreira do coupé acabaria por ser bastante curta — apenas competiu entre 1960 e 1962.

Os dois exemplares construídos seriam vendidos a clientes particulares em 1966, até porque já não poderiam fazer parte de qualquer competição oficial, quando uma mudança nos regulamentos extinguiu a classe sub-1100 a que pertenciam.

Skoda 1100 OHC e 1100 OHC Coupé
Apesar de uma carreira limitada a corridas domésticas por questões políticas, o 1100 OHC Coupé correu entre 1960 e 1962, chegando até a enfrentar o 1100 OHC original, nascido em 1957, aqui numa corrida realizada em Praga, no circuito de Strahoy, em 1960.

Infelizmente, ambos os exemplares acabaram por ter um fim abrupto já com os seus novos donos, com ambos a sofrerem acidentes e, no caso do segundo exemplar, chegando mesmo a incendiar-se, deixando os painéis da sua carroçaria em alumínio irremediavelmente destruídos.

Contudo, foi possível salvar várias partes de ambas as unidades, um aspeto que foi fundamental para o projeto de reconstrução do 1100 OHC Coupé encetado pelo Museu da Škoda.

Skoda 1100 OHC Coupé

Do primeiro coupé salvou-se o motor, até porque o seu dono tinha-o substituído por outro motor de quatro cilindros, o de um Felícia (o original, de 1959). O motor do 1100 OHC Coupé acabou por ficar em exposição durante muito tempo na escola vocacional de Mladá Boleslav antes de voltar a servir no reconstruído modelo, apresentando muito pouco desgaste por também não ter participado em muitas corridas.

Do segundo coupé, conseguiu salvar-se o transaxle traseiro, que tinha sido desmontado, tendo ficado a fazer parte da coleção do Museu Técnico Nacional, em Praga. Seria doado ao Museu da Škoda em 1997.

Skoda 1100 OHC Coupé

Por fim, de um colecionador privado, o Museu da Škoda adquiriu em 2014 a estrutura em treliça de uma das unidades (que foi cortada em três partes), o eixo dianteiro completo e outras peças «sobreviventes».

Ambiciosa reconstrução

Tendo em consideração que ambas as unidades tinham sofrido acidentes e desmanteladas há tanto tempo, a missão de reconstruir o Škoda 1100 OHC Coupé nunca seria fácil.

Os especialistas do Museu Škoda valeram-se da experiência adquirida no restauro que tinham feito dos 1100 OHC «abertos» e na documentação técnica original ainda existente nos arquivos da Škoda Auto para serem bem sucedidos neste projeto.

Um projeto que demorou muitos anos até ficar concluído. A renovação do chassis, reconstrução do radiador, depósito de combustível e outros elementos, por exemplo, foi concluída no final de 2015.

Mas seria a carroçaria em alumínio, desenhada originalmente pelo engenheiro Jaroslav Kindl, que também havia desenhado o 1100 OHC original, o maior desafio na reconstrução do Škoda 1100 OHC Coupé.

Nenhuma das carroçarias originais sobreviveu aos infortúnios e para mais, na altura, no final da década de 50, estas foram feitas à mão — nada de prensas ou outros processos industriais.

Para começar a dar forma aos painéis em alumínio, foram usados modelos de madeira feitos por carpinteiros, que serviriam de bitola para os chapeiros martelarem os painéis de alumínio à mão. As peças individuais obtidas eram posteriormente soldadas ou rebitadas.

Para a reconstrução da elegante carroçaria, os responsáveis pela reconstrução do 1100 OHC Coupé teriam, assim, de começar do zero. E para conseguir novos painéis em alumínio fieis aos originais, o papel do Centro de Protótipos da Škoda foi fundamental.

Primeiro começaram por digitalizar desenhos 2D à escala 1:1, para daí criar uma grelha tridimensional que permitiu obter as curvas exatas de todos os painéis da carroçaria.

Este foi um trabalho minucioso, com todos os elementos individuais a serem examinados e corrigidos, recorrendo também a fotografias históricas para comparar com os esboços e o modelo 3D obtido.

Numa fase posterior, os especialistas efetuaram os últimos ajustes já no estúdio virtual, onde podiam ver o modelo de todos os ângulos. Mas não ficariam por aqui. Também fizeram modelos físicos, desde miniaturas a modelos à escala real dos cantos dianteiro e traseiro.

Só depois deste laborioso processo é que, finalmente, se começou a dar forma aos painéis em alumínio. Estes foram «esculpidos» de folhas de alumínio com 0,8 mm a 1 mm de espessura e, tal como antes, todo o trabalho foi feito à mão.

Após a carroçaria estar concluída, os painéis foram pintados de vermelho, como aconteceu com os modelos originais em 1962 — quando foram conhecidos tinham um acabamento anodizado.

No entanto, algumas partes foram mais fáceis de conseguir que outras, pois provinham dos modelos de estrada da Škoda na altura. Os manípulos das portas, por exemplo, provinham do Škoda 1200 Sedan; alguns interruptores e o canhão da ignição eram do 440 “Spartak” e Octavia; enquanto o volante de três braços vinha do modelo pré-2.ª Guerra Mundial, o Popular.

Agora, o glorioso exemplar reconstruído do Škoda 1100 OHC Coupé vai fazer companhia ao 1100 OHC original que se encontra no Museu Škoda.

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