Testes Ford Fiesta 1.0 Ecoboost Sport 125cv | Um utilitário com «salero»

Ford Fiesta 1.0 Ecoboost Sport 125cv | Um utilitário com «salero»

Um utilitário desportivo com conta, peso e medida. Talvez sejam estes os adjectivos certos para descrever o novo Ford Fiesta 1.0 Ecoboost Sport de 125cv.

Foi numa sexta-feira de manhã, num radioso dia de sol (coisa rara este Verão…) que pela primeira vez tomei contacto com o novo Ford Fiesta 1.0 Ecoboost Sport. Na minha memória ainda tinha bem frescas as recordações do Ford Focus com esta motorização 1.0 Ecoboost de 125cv.

Com uns simpáticos 125cv de potência ao serviço do pé direito achei que a cidade não era o terreno ideal para explorar todo o potencial deste Fiesta mais atrevido. Então juntos partimos «estrada fora» rumo às planícies alentejanas. Mas ainda nem tínhamos deixado o caos urbano e já a pequena motorização tricilindrica de 1.000cc começava a dar «ares da sua graça». Com menos peso sobre os ombros no Fiesta do que no Focus, o pequeno motor de 125cv catapultava o Ford Fiesta com uma ligeireza assinalável. Mais até do que poderia imaginar.

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Ainda que o «ESP» seja por vezes demasiado interventivo, é com alguma facilidade que surgem estas posições mais acrobáticas.

Em estrada, apesar da caixa de velocidades ter um escalonamento algo longo – os consumos agradecem… – o motor 1.0 Ecoboost mostrou-se sempre vivo e disponível, factor a que não será alheio os generosos 170Nm (+20Nm em função overboost) de binário máximo, disponível entre as 1400 e as 4500rpm. Pouco depois, já com a autoestrada sob pano de fundo, foram qualidades como a suavidade e o baixo ruído do motor que se destacaram das demais. Não deixando os mais distraídos adivinhar que lá na frente trabalhava um motor tricilindrico.

Podemos afirmar sem correr o risco de exagerar que este motor 1.0 Ecoboost é o estado de arte nos pequenos motores a gasolina.

E se o ritmo de viagem tiver um cunho mais «aguerrido»  e a via escolhida for uma estrada nacional, contem com a disponibilidade deste motor para efectuar qualquer ultrapassagem num ápice. Em condução mais aplicada – ou deverei dizer muito aplicada?! – as relações longas comprometem um pouco a saída de curvas lentas, onde a 1ª velocidade e a 2ª velocidade se sentem demasiado longas, obrigando a rotação do motor a sair do «miolo da potência».

Mas verdade seja diz, apesar do sufixo Sport e da pintura Race Red, este Ford Fiesta não tem intenções de ser um desportivo a todo o custo. É antes um desportivo com conta, peso e medida. Digamos que é um desportivo nas proporções ideais para não comprometer em condução mais desportiva, nem comprometer no quotidiano quando os imperativos são outros, como a poupança e o conforto. No fundo, este Ford Fiesta 1.0 Ecoboost Sport pretende ser o meio termo entre um modelo puramente utilitário e um modelo de cariz desportivo. Dois mundos num só, vamos conhecê-los?

No mundo desportivo

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Ford Fiesta em modo «tail happy», só possível depois de cansar bem os tambores do eixo traseiro.

Confesso que geralmente olho com desconfiança para estas versões que não são nem desportivas nem puramente utilitárias. Normalmente, em vez de nos darem o melhor de cada vertente, congregam o pior. Não foi o caso deste Ford Fiesta Ecoboost Sport. Quem procura um Ford Fiesta de 125cv espera encontrar algum «salero» no seu comportamento e prestações. Senão optaria certamente pelas versões menos potentes da gama. A esses devo dizer que vão encontrar todo o «salero» que procuram nesta versão.

É verdade que a caixa – como já disse – é demasiado longa e o seu tacto não é o melhor, que os travões fadigam sob tratamentos mais severos (tambores no eixo traseiro), que a direcção é pesada e algo vaga e que as ajudas electrónicas teimam em colocar o carro «nos eixos» mesmo quando era dispensável. Mas a verdade é na soma final das partes, todos estes elementos resultam bem. O Ford Fiesta 1.0 Ecoboost Sport de 125cv diverte em qualquer trajecto.

A dianteira aguenta bem as exigências de uma condução mais empenhada.
A dianteira aguenta bem as exigências de uma condução mais empenhada.

A inserção em curva é acutilante e o adorno da carroçaria é marginal. Em curvas mais rápidas, a estabilidade é a palavra de ordem e a previsibilidade das reacções é uma constante. Ironia das ironias, a presença de uns humildes tambores no sistema de travagem eixo traseiro vieram a revelar-se os parceiro ideal para refrear os ânimos de um ESP demasiado cauteloso. Como sabem, o funcionamento do ESP depende da repartição da travagem pelas rodas do carro e após seis ou sete curvas feitas de forma mais «acrobática» os tambores aquecem de tal forma que o ESP já não consegue «socorrer-nos» com a brevidade que gostaria. Nós agradecemos, e a diversão também. Até porque o chassi do Ford Fiesta, apesar de ser um dos mais antigos do segmento, mantém intactas as suas qualidades.

Em alta está o rendimento do motor, penalizado pela caixa do ponto de vista da performance pura, mas ainda assim consegue «arrancar» números bastante impressionantes face à pequenez do bloco. O Fiesta com este motor cumpre o sprint dos 0-100km/h em 9,7seg. terminando a corrida por volta dos 197km/h de velocidade máxima. Sem ser demasiado radical ou apurado do ponto de vista dinâmico, este Ecoboost Sport recebe uma nota muito positiva no campo «diversão vs eficácia».

No mundo quotidiano

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Em ambiente nocturno, a iluminação do painel resulta bem.

Se no campo dinâmico este Ford Fiesta foi uma agradável surpresa, no quotidiano também o foi. As características que fazem escola nos seus irmão mais utilitários e modestos repetem-se nesta versão com mais de «sangue na guelra». O Ford Fiesta 1.0 Ecoboost Sport é um automóvel que se deixa levar no dia-a-dia com facilidade. O motor trabalha bem desde baixas rotações e apenas a direcção demasiado pesada complica-nos um pouco a vida em transito urbano.

O conforto de rolamento continua em bom plano, e no interior podem contar com uma qualidade de construção robusta e sem falhas graves na montagem. Apenas o design da consola pode não convencer todos os utilizadores, que apesar da idade continua com um aspecto bastante jovial e atraente, mesmo que a funcionalidade seja questionável. O «upgrade» que a Ford efectuo neste último restyling foi mais que suficiente para manter o Fiesta em linha com o que de melhor existe no segmento.

As linhas são cativantes, mas não reúnem o consenso esperado.
As linhas são cativantes, mas não reúnem o consenso esperado.

Os consumos invariavelmente ficam acima dos valores anunciados pela marca. Numa condução normal, sem grande preocupações económicas, contem com médias a rondar os 6,7 litros por cada 100km, num misto de 40% circuito urbano e 60% estrada/auto-estrada. Sendo possível baixar para os 5,9 litros aos 100km/h num circuito igual ao anterior, mas para isso é preciso aplicar no acelerador uma austeridade quase germânica.

Equipamento em bom plano

Face ao preço pedido, o negócio proposto pela Ford é bastante interessante (19.100€ c/despesas). Esta versão Sport está repleta de detalhes que marcam a diferença para a restante gama. Falamos de entre outros equipamentos, de faróis de halogéneo com luzes LED diurnas, de faróis de nevoeiro, ar condicionado manual, rádio CD MP3 com BluetoothVoice to Control, fichas USB e AUX, sistema SYNC com chamada de emergência, computador de bordo, Ford EcoModeFord MyKey (sistema que permite limitar a velocidade máxima e o volume do auto-rádio), Stop&Start, ABS com EBD, Controlo Electrónico de Estabilidade (ESP), Sistema de Ajuda ao Arranque em subidas, 7 airbags (dianteiros, laterais, de cortina e de joelhos para o condutor), além dos cinco anos de garantia FordProtect. Muito equipamento de série, ainda que tenhamos ficado a sentir falta do cruise-control.

No campo dos opcionais também há muito por onde escolher: ar condicionado automático (225€), vidros escurecidos (120€), limpa pára-brisas e faróis automáticos (180€), as jantes em liga leve de 17” (300€) com pneus Continental ContiSportContact 5 de baixo perfil (medidas 205/40R17), e o Pack Easy Driver 3(400€) que acrescenta ao Ford Fiesta os sensores de estacionamento à frente e atrás, os espelhos imbatíveis com luz de cortesia e piscas e sistema de travagem activa em cidade Active City Stop, além da roda suplementar convencional (60€).

Conclusão

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No regresso a Lisboa optámos por estradas secundárias.

O Ford Fiesta 1.0 Ecoboost Sport de 125cv é uma boa opção para todos aqueles que pretendem usufruir de dois mundos: ter um utilitário capaz no quotidiano e ao mesmo tempo entusiasmante naqueles dias em que, estranhamente, o pé direito pesa mais que o pé esquerdo. E todos sabemos que há dias assim.

Esta dupla personalidade é, quanto a mim o grande trunfo deste Fiesta mas ao mesmo tempo, por ironia, também o seu calcanhar de Aquiles. Porquê? Porque ao tentar ser bom em todos os campos fica impedido de atingir a excelência em qualquer um dos campos da nossa tabela de avaliações (com a honrosa excepção do motor claro). Este é um daqueles casos em que a frieza dos números não faz jus à qualidade do produto. Resta dizer que para aqueles que anseiam voos mais altos há sempre a opção ST, a mais desportiva dentro da gama Fiesta. Mas o ST é tema para outro dia… e outras estrada, ok?

MOTOR 3 Cilindros
CILINDRADA 999 cc
TRANSMISSÃO Manual, 5 Vel.
TRAÇÃO Dianteira
PESO 1091 kg.
POTÊNCIA 125 CV / 6000 rpm
BINÁRIO 200 NM / 1400 rpm
0-100 KM/H 9,4 seg.
VEL. MÁXIMA 196 km/h
CONSUMO 4,3 lt./ 100 km
PREÇO 19.100€

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