Em 1985 o Fiat Uno já tinha um quadrante digital

Ainda se lembram dos loucos anos 80? Volvidos mais de 30 anos, depois de uma pandemia que nos deixou a todos em casa, encerrou bancos de jardim e nos fez ir para a praia de máscara cirúrgica, ou da eminência de podermos falar com computadores de forma natural, confesso que já não me parecem assim tãooo loucos quanto isso.

Vídeos

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Em 1992, o ex-piloto de Fórmula 1 Jacques Laffite conduziu um Ferrari F40 LM. Um momento que felizmente ficou gravado em vídeo para a posteridade.

Guilherme Costa

A esta distância temporal e face aos acontecimentos recentes, parece-me mais adequado dizer «fantásticos anos 80». Era uma época com uma aura diferente. Apesar dos carros poluirem mais e do nosso conceito de ecologia ser muito limitado à época — tão limitado que passava por coisas tão estúpidas como vestir crianças com sacos plásticos no carnaval para promover a reciclagem (eu sei porque fui uma delas…) — o ar era muito mais leve naquele tempo.

Vivia-se um turbilhão de novidades e tudo parecia encaminhado para o sucesso da humanidade. Querem rir um bocadinho? A maior ameaça à época era o crash dos anos 2000. O momento em que todos os computadores, entre dia 31 de dezembro e 1 de janeiro, iam colapsar. Ahahaha! Não houve colapso nenhum, eu estava lá… a jogar computador como se nada fosse.

Regresso ao passado

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Hoje acordei a desejar ter outra vez 12 anos para poder jogar Need For Speed: Underground. E o melhor é que posso fazê-lo.

Miguel Dias

E assim continua, em boa verdade. A humanidade, apesar das previsões catastróficas dos arautos da desgraça, prossegue a bom ritmo rumo à sustentabilidade — nunca fizemos tanto com tão poucos recursos.

Ainda assim, nada nos parece surpreender como antigamente. Falo por mim, não consigo olhar para um quadrante 100% digital de um carro moderno e ficar tão impressionado como ainda hoje fico quando olho para um daqueles quadrantes digitais que a Fiat fabricava nos anos 80/90.

Por exemplo, o quadrante do Fiat Uno Turbo I.E. de 1985. Era um verdadeiro compêndio tecnológico digno do carro do futuro. As luzes, os menus, as opções… tudo parecia tirado de um filme de ficção científica.

Infelizmente os travões também pareciam um filme de ficção científica. Porque na realidade não travavam nada e curvar era uma comédia.

Mas nada disto me parece relevante perante o espanto com que ainda olho para imagens como aquelas que acompanham este artigo. E não me venham falar de problemas eletrónicos, por favor. Não me estraguem as memórias com problemas mundanos.

Depois também tínhamos o Fiat Tempra. Outro bom exemplo de como um “detalhe” no interior pode definir um carro. É dos poucos carros onde me recordo de entrar a primeira vez.

As próprias marcas parecem hoje reconhecer a importância da «aura» dos automóveis de outras épocas. Nos próximos tempos vamos assistir ao regresso de muitos automóveis que já faziam parte dos livros de história.

Começou com o MINI e com o Fiat 500 nos anos 2000. Recentemente tivemos o regresso do Volkswagen Pão de Forma (a.k.a ID. Buzz) e não tarda muito vamos ter a Renault 4L e Renault 5 de regresso ao mercado.

Uma coisa é certa: o quadrante digital do Fiat Uno Turbo I.E. estará para sempre na minha lista de cenas mais fixes que podemos encontrar num automóvel.

As novas gerações já não dizem fixe pois não? Até a palavra fixe deixou de ser fixe…

Pouco importa. Para mim, nem tudo no passado é mau, nem tudo o que surgirá no futuro será obrigatoriamente melhor. É nesta dialéctica entre passado, presente e futuro que possivelmente vamos encontrar o melhor que todos nós temos para oferecer. Num mundo onde todos querem ser disruptivos, aprecio cada vez mais a continuidade. Até porque ser constante não está ao alcance de todos.

Guilherme Costa

Desde muito cedo trocou a companhia dos brinquedos pelas revistas de automóveis. Alimentado por essa paixão em 2012 fundou a Razão Automóvel.

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Anos 80, Crónicas, Fiat Uno, Fiat Uno Turbo i.e., Tecnologia