Americano constrói um Lamborghini Countach na cave da sua casa!

Americano constrói um Lamborghini Countach na cave da sua casa!

Há os meninos, e depois há os homens de barba rija. Ken Imhoff, um norte-americano com um parafuso a menos e conhecimentos de engenharia a mais, pertence decididamente ao segundo grupo (homens de barba rija).

Porquê? Porque construiu do zero um Lamborghini Countach na cave da sua casa.

Imagina-te sentado no sofá a ver um filme, quando passa um Lamborghini pelo pequeno ecrã, apaixonas-te pelo carro (a parte fácil) e viras-te para a tua esposa e dizes: “Olha que porreiro Maria, um Lamborghini! Temos de tirar a tua mãe da cave, porque eu preciso de espaço para construir um Lamborghini lá em baixo (a parte difícil)”. Resolvida a questão logística… mãos à obra!

Incrível não é? Tirando a parte de meter a sogra a dormir no ecoponto, foi assim que aconteceu. Ken Imhoff apaixonou-se pelo Lamborghini Countach ao ver o filme Cannonball Run e decidiu fazer um. Foi paixão à primeira vista.

lamborghini cave 1

Criado por um pai de origem alemã, entusiasta da construção automóvel e crente na máxima “é de loucos as pessoas comprarem objectos que elas próprias podem construir” não é de estranhar que o filho tenha ambicionado construir também ele um automóvel. E foi isso mesmo que fez. Lançou mãos à obra e durante 17 anos da sua vida investiu todo o seu dinheiro e tempo livre – o projecto ficou em mais de 40 mil dólares, sem contar com as ferramentas para o efeito – a construir o carro dos seus sonhos: o Lamborghini Countach LP5000S euro spec de 1982.

“Os escapes foram torcidos e moldados com a força dos seus próprios braços”

O início não foi fácil, como alias, nenhuma das etapas do processo foi. Como no Wisconsin (EUA) os invernos são muito rigorosos e o nosso herói não tinha dinheiro para pagar o aquecimento da sua garagem, viu-se obrigado a começar o projecto na cave da sua casa. E como qualquer cave normal, esta também não tem saída para rua. Os acessos ou se fazem por umas escadas interiores ou pelas janelas. Todas as peças tiveram de entrar pela janela, ou pelas escadas. Como é que o carro saiu? Veremos…

Conseguido o espaço, começou outro tormento para Ken Imhoff. O Lamborghini Countach não é propriamente um automóvel que se encontre ao virar da esquina e fazer uma réplica exata com recurso a fotografias não é o melhor método. Não se esqueçam que a internet era uma coisa que não existia na altura. Parecia que o projecto estava condenado ao fracasso.

“(…)o refinado e rotativo motor V12 (do Countach original) deu lugar a um áspero e impetuoso motor Ford Cleveland Boss V8 351. Mesmo à americana!”

O pobre Ken Imhoff já estava desalentado quando um amigo lhe telefonou a dizer que tinha descoberto um stand onde estava um “Lambo” à venda. Infelizmente o vendedor não permitiu que o Ken Imhoff lhe tirasse as medidas para a sua construção. Solução? Ir ao stand à socapa, durante a hora de almoço, altura em que esse malvado vendedor estava ausentava e dar uso à fita métrica. Qual James Bond! Foram centenas as medidas tiradas. Desde o tamanho do puxador das portas, até à distância entre os piscas, entre tantas outras coisas triviais.

Com todas as medidas apontadas no bloco, era altura de começar a fazer os painéis da carroçaria. Esqueçam as ferramentas de última geração. Foi tudo feito com recurso a um martelo, roda inglesa, moldes em madeira e força de braços. Épico!

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O chassi não ofereceu menos trabalho. Ken Imhoff teve de aprender a soldar como um profissional, afinal de contas não estava propriamente a fazer um carrinho de compras. Sempre que ligava a máquina de soldar, toda a vizinhança sabia – as televisões ficavam com a imagem distorcida. Felizmente, os seus vizinhos nunca se importaram muito com isso e compreenderam. Todo construído em aço tubular, o chassi deste “falso Lamborghini” ficou eventualmente melhor do que o original.

“Volvidos 17 anos de sangue, suor e lágrimas chegou um dos momentos mais críticos do processo: retirar o Lamborghini da cave”

Por esta altura, já se passaram uns quantos anos desde o começo do projecto. A mulher, e até o cão de Imhoff, já desistiram de sentar-se na cave a apreciar a construção do seu sonho. Mas em momentos críticos, em que a vontade para continuar começava a faltar, nunca lhe faltaram palavras de apoio e incentivo. Afinal de contas, projetar de A a Z um superdesportivo na cave de uma vivenda não é para qualquer um. Não é mesmo!

E este “falso Lamborghini” não pretendia ser apenas uma imitação. Tinha de se comportar e andar como um verdadeiro Lamborghini. Mas como este Lamborghini não nasceu nos prados verdejantes de uma província italiana, mas antes nas agrestes terras dos Wisconsin, a motorização tinha de condizer.

Portanto, o refinado e rotativo motor V12 (do Countach original) deu lugar a um áspero e impetuoso motor Ford Cleveland Boss V8 351. Mesmo à americana! Se ao nível do chassi este “falso Lamborghini” já deixava o seu irmão verdadeiro em maus lençóis o que dizer do motor? São 515 cv de potência debitados às 6800 rpm. A caixa de velocidades escolhida foi uma moderna unidade ZF de cinco velocidades, manual como é óbvio.

No final do projecto só as peças mínimas e essenciais tinham sido compradas. Até as jantes, réplica das originais, foram feitas sob encomenda. Os escapes foram torcidos e moldados com a força dos seus próprios braços.

Volvidos 17 anos de sangue, suor e lágrimas chegou um dos momentos mais críticos do processo: retirar o Lamborghini da cave. Mais uma vez, o sangue germânico e a cultura americana aliaram-se para simplificar o processo. Partiu-se uma parede e rebocou-se a criação dali para fora em cima de um chassi criado especificamente para o efeito. Et voilá… Poucas horas depois a parede já estava novamente construída e o “Lamborghini Red-Neck” via pela primeira vez a luz do dia.

Na vizinhança todos se juntavam em torno do touro que tinha nascido no bairro. E segundo Imhoff, todos deram por bem empregues os serões em que quase ficavam sem televisão, ou as tardes em que a roupa nos estendais ficava com cheiro a tinta de spray. Os olhares eram de satisfação.

No final, este projecto acabou por revelar-se mais do que a simples materialização de um sonho. Foi uma jornada de crescimento pessoal, descoberta de novas amizades, e uma lição de resiliência e abnegação. Com exemplos destes, ficamos sem argumentos para não resolver os problemas da nossa vida, não é? Se estão a ler este texto com um chapéu na cabeça, é uma boa altura para o tirarem por respeito a este homem. Bravo!

Caso queiram saber um pouco mais sobre este projecto visitem o site do Ken Imhoff, clicando aqui. Quanto a mim, tenho de ir tirar as medidas à minha garagem… decidi construir um Ferrari F40 agora mesmo! Deixa-nos a tua opinião sobre este artigo no nosso Facebook.

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