Crónicas Também já foste esta criança

Memórias

Também já foste esta criança

Quando era criança, eu e os meus amigos avaliávamos os automóveis de acordo com um critério muito simples: o velocímetro. Fiquei surpreendido por não sermos os únicos.

Criança a olhar para interior do Porsche 911

A imagem que vês em destaque foi publicada pela primeira vez no Instagram Stories da Razão Automóvel.

Depois disso, alguém, tal como eu, também achou piada à imagem e publicou-a num grupo do Facebook. Sucederam-se centenas de “gostos” e comentários do género “eu também era assim”, escritas por petrolheads que se reviram na imagem da criança a olhar para um Porsche.

Até esse momento, achava que era um exclusivo do meu grupo de amigos — um abraço para o Carlitos, para o Relvas, e para o Paulo Gaspar —, avaliar os carros de acordo com a velocidade máxima do velocímetro; espreitar para dentro de todos os carros novos que víamos na rua; ou passar as festas, batizados e casamentos enfiados dentro do carro a fazer «viagens» sem sair do mesmo sítio. Não é um exclusivo nosso…

Smartphones? Pois, pois. Quando era puto, o objeto mais próximo que tive de um smartphone foi uma consola portátil Game Gear da Sega — mas aquilo gastava pilhas como se não houvesse amanhã e depressa acabava a diversão.

Os carros e as revistas de automóveis eram mesmo o meu passatempo favorito — como já escrevi aqui, era neste hobby que estourava mais de 80% do meu orçamento. Com 500 escudos por semana podia ser um dos magnatas do recreio mas estourava tudo em revistas.

Apesar dos muitos defeitos que podemos apontar às redes sociais  — insultos e invasões de privacidade aos pontapés — a verdade é que elas nos aproximam e fazem-nos ver que não estamos sozinhos em muitos aspetos da nossa existência. Na paixão pelos automóveis por exemplo.

E já agora partilho mais uma história…

Estávamos em 1995, mais coisa menos coisa, e a Renault tinha acabado de apresentar o Sport Spider. Um desportivo com motor dois litros, sem pára-brisas (em detrimento de um defletor aerodinâmico) e que do alto dos meus nove anos achava simplesmente fenomenal; hoje com mais de 30 anos acho exactamente o mesmo.

Renault Spider
© Renault Renault Spider. Motor 2.0 litros, baixo peso e motor central. Épico certamente!

Lembro-me perfeitamente de, durante uma aula EVT, eu e mais dois amigos meus, estarmos a fazer tudo menos a desenhar. Estávamos bem mais interessados numa revista. “Olhem-me só este carrão! Adoro este carro. Quanto é que isso dá?” perguntou-me o Fábio.

Folheamos a revista (acho que era uma Automotor) e encontramos uma imagem do mostrador semelhante a esta:

© Renault

“Tu gostas disto? Isto só marca 70! Grande porcaria de carro, oh Guilherme”. Eu respondi-lhe que era um conta-rotações mas as minhas evidências caíram em «saco-roto»; gozaram comigo na mesma.

Duas décadas depois, Fábio, esta é para ti: aquilo era mesmo um conta-rotações! Fez-se justiça.