Autopédia Se não estás a puxar pelo teu motor Diesel, então devias…

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Se não estás a puxar pelo teu motor Diesel, então devias…

Os motores Diesel mudaram muito nos últimos anos. Têm mais performance, são mais eficientes mas também mais complexos. E nós, acompanhámos esta mudança?

Portugal é um dos países da Europa onde a tendência dos consumidores pelas motorizações Diesel é maior. Tem sido assim nos últimos 20 anos mas não será assim nos próximos anos. Aliás, já não é, com os pequenos motores a gasolina a ganharem terreno.

Apesar de os portugueses culturalmente serem «pro-diesel» (a tributação continua a ajudar…), a verdade é que a maioria dos consumidores não sabe usar os motores Diesel modernos eficazmente, de forma a evitar males maiores. De quem é a culpa? Em parte é dos concessionários que nem sempre informam os clientes como deviam, e por outro lado, dos próprios condutores que usam os automóveis alheados dos comportamentos que devem adotar — conduta que é legitima mas que por vezes custa (muito) dinheiro. E ninguém gosta de ter despesas extra, não é verdade?

Conduzir um Diesel moderno não é igual a conduzir um Otto/Atkinson

Lembro-me da primeira vez que conduzi um Diesel. A frase “deves deixar apagar a luz da resistência antes de arrancar o motor” ficou-me gravada na memória. Partilho esta reminiscência com um propósito: demonstrar que os Diesel sempre tiveram algumas idiossincrasias de funcionamento e hoje têm-nas mais que nunca.

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Devido às normas ambientais, os motores Diesel evoluíram imenso nas últimas décadas. De parentes pobres dos motores a gasolina, passaram a motores altamente tecnológicos, com elevadas performances e ainda mais eficientes. Com esta evolução veio também uma maior complexidade tecnológica, e inevitavelmente alguns problemas de funcionamento que pretendemos que consigas evitar ou pelo menos minorar. Válvula EGR e filtro de partículas, é o nome de apenas duas tecnologias que entraram recentemente para o léxico de quase todos os proprietários de automóveis equipados com motores Diesel. Tecnologias estas que têm causado arrepios a muitos utilizadores…

funcionamento filtro de particulas

Como deves saber, o filtro de partículas é uma peça cerâmica situada na linha de escape (ver imagem acima) que tem como função incinerar a maioria das partículas produzidas durante a combustão do gasóleo. Para que essas partículas sejam incineradas e o filtro não entupa são necessárias temperaturas elevadas e constantes — daí que se diga que fazer trajetos diários curtos “estraga” os motores. E o mesmo se aplica à válvula EGR, responsável pela recirculação dos gases de escape pela câmara de combustão.

Os motores Diesel com este tipo de tecnologias requerem cuidados especiais. Componentes como o filtro de partículas e válvula EGR requerem condições de funcionamento mais cuidadas para evitar danos nestes componentes (hat tip para o Filipe Lourenço no nosso Facebook), nomeadamente atingir a temperatura ideal de funcionamento. Condições estas que em trajetos citadinos raramente é cumprida.

Se conduzes o teu automóvel com motorização Diesel diariamente em trajetos urbanos, não interrompas os ciclos de regeneração — se ao chegar ao destino sentires a rotação ao ralenti ligeiramente mais alta que o normal, e/ou a ventoinha ligar, então convém aguardar que a queima termine. Quanto a viagens longas, não temas. Este tipo de trajetos ajuda a limpar os resíduos da combustão acumulados na mecânica e no filtro de partículas.

Mudar de hábitos para evitar males maiores

Se és adepto de mudar constantemente as mudanças a rotações demasiado baixas, sabe que esta prática também contribui para a degradação da mecânica. Como explicámos há pouco, os motores Diesel modernos precisam de temperaturas elevadas no circuito de escape para funcionarem em pleno. Mas não só.

Circular a regimes de rotação demasiado baixos também causa stress nas peças internas do motor: os lubrificantes não atingem as temperaturas recomendadas resultando em maior atrito, e a passagem pelos «pontos mortos» da mecânica exige maior esforço dos componentes móveis (bielas, segmentos, válvulas, etc.). Daí que subir um pouco mais a rotação do motor não seja uma má prática, antes pelo contrário. Naturalmente, não estamos a sugerir que leves o teu motor ao regime máximo de rotação.

Outra prática muito importante, principalmente após trajetos longos: não desligues o motor imediatamente após o término da viagem. Deixa o motor a funcionar durante mais um par de minutos para que os componentes mecânicos do teu carro arrefeçam de uma forma menos abrupta e mais homogénea, promovendo a lubrificação de todos os componentes, principalmente o turbo. Um conselho que vale também para as mecânicas a gasolina.

Ainda vale a pena comprar um Diesel?

Cada vez menos. Os custos de aquisição são mais elevados, a manutenção mais dispendiosa e agradabilidade de condução é menor (mais ruído). Com a chegada da injeção direta e de turbos mais eficientes aos motores a gasolina, comprar Diesel é cada vez mais uma teimosia do que uma decisão sensata. Na maioria dos casos, passam-se anos até que consigas amortizar a opção por um modelo com motor Diesel. Além do mais, com as ameaças que pairam sobre os motores Diesel, muitas dúvidas recaem sobre os valores de retoma futuros.

Se ainda não conduzistes um modelo equipado com um motor a gasolina moderno (exemplos: Opel Astra 1.0 Turbo, Volkswagen Golf 1.0 TSI, Hyundai i30 1.0 T-GDi ou Renault Mégane 1.2 TCe), então devias fazê-lo. Vais ficar surpreendido. Analisa junto do teu concessionário qual é a melhor opção para as tuas necessidades. Ao contrário do que possas pensar, pode não ser um Diesel. As calculadoras e as folhas de Excel são implacáveis…