Especial Cinco notáveis: um alemão, dois franceses e dois italianos

Especial Os desportivos dos anos 90

Cinco notáveis: um alemão, dois franceses e dois italianos

Vamos recordar os desportivos que marcaram a década de 90. Esquece as exóticas máquinas italianas e os potentes modelos alemães, neste especial só há lugar para máquinas mais «acessíveis» que preencheram o nosso imaginário.

Começamos esta lista de desportivos dos anos 90 com cinco notáveis: um alemão, dois franceses e dois italianos (até parece o início daquelas anedotas populares nos anos 90…).

Aos mais novos, que não viveram os anos 90, avisamos desde já que nenhum dos modelos que vais ver de seguida teria a mínima hipótese num frente a frente contra os desportivos modernos — um detalhe que não interessa minimamente aos petrolheads nascidos nas décadas pré-internet — sim, estou a falar de si.

Mais ou menos potentes, muito raros ou nem por isso, sei que muitos dos que lêem estas linhas sonham com «aquele negócio» com «aquela unidade» em bom estado — ou pelo menos em estado recuperável — porque quem viveu a sua adolescência nos anos 90 (não foi o meu caso), recorda num misto de saudade e de vergonha, os tempos em que os radares de velocidade eram escassos e os exageros eram muitos.

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Os modelos que agora integram esta lista e que sobreviveram a esses tempos sem sinistros, sem receber um escape Devil ou um body-kit em fibra de vidro de qualidade e gosto duvidoso, hoje valem uma pequena fortuna. Vamos recordar o primeiro lote destes furiosos representantes dos desportivos dos anos 90? Comecemos pelo italiano.

Alfa Romeo 33 1.7 16V quadrifoglio verde (1990): paixão italiana

Quando o Alfa Romeo 33 1.7 16V foi lançado em 1990 (versão reestilizada) já não era um modelo propriamente moderno. A base do Alfa Romeo 33 16V já levava quase uma década de mercado — a 1.ª geração surgiu em 1983 e foi produzida até 1995, altura em que o 33 foi substituído pelo Alfa Romeo 145.

Apesar disso, as suas credenciais desportivas eram mais que válidas à época e a sua grande jóia era mesmo o nobre motor 1.7 l de arquitetura boxer e injeção eletrónica, único no segmento.

Quem o conduziu, destaca a resposta imediata e sonoridade entusiasmante do motor. Tinha alma! Quem o comprou — além das referidas qualidades — destacava a qualidade sofrível de alguns sistemas (vidros, portas, electrónica em geral, etc.) que davam constantemente dores de cabeça e de carteira.

Quanto ao motor, era conhecido por dar chatices a quem não cuidasse bem dele. Porém, desde que bem conservado e assistido, o motor 1.7 Boxer de 137 cv era uma unidade relativamente fiável, capaz de cumprir os 0-100km/h em apenas oito segundos fruto da baixa massa da carroçaria.

Alfa Romeo 33 1.7 16V quadrifoglio verde
Alfa Romeo 33 1.7 16V quadrifoglio verde (1990)

O comportamento dinâmico era vivo, mas controlável, e na falta de um diferencial autoblocante os mais corajosos travavam com o pé esquerdo mantendo a aceleração para fechar as trajetórias e arrancar sorrisos.

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Houve ainda uma versão de tração integral chamada “Permanent 4” (imagem acima) que além de lastro, adicionava ainda pouco mais de complexidade a um modelo que tantos esgotamentos nervosos causou a mecânicos e eletricistas. Ainda assim, quem tem um 33 não o vende e quem não tem sonha com um — eu incluído! Gostar de automóveis tem destas coisas.

Opel Astra GSi 2.0 16v (1991): à prova de tuning

Em setembro de 1991, época em que a economia portuguesa fervilhava e a palavra crise era pouco usada, chegava a Portugal o Opel Astra GSi, um dos desportivos de referência da década de 90. Um modelo que recuperava a denominação GSi, já utilizada no Kadett, e que colocou definitivamente a Opel no mapa dos desportivos.

Equipado com o bloco C20XE,  evolução do 20XE que já havia feito as delícias de milhares de aficionados no Kadett GSi, este irrequieto motor 2.0 l multiválvulas oferecia uns saudáveis 150 cv de potência — cortesia dos mestres da Cosworth —, e era facilmente reconhecível pela tampa encarnada do motor com a inscrição “Opel DOHC 16V”.

Opel Astra GSi 2.0 16v
Opel Astra GSi 2.0 16v (1991)

Como pesava uns magros 1100 kg, chegava aos 100 km/h em apenas oito segundos e atingia os 216 km/h. Conhecido pela sua extrema fiabilidade, era muito fácil retirar mais potência do C20XE sem beliscar a fiabilidade. Um motor à prova de tuning!

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Infelizmente, numa década tão dada a excessos, muitos Opel Astra GSi 16V caíram nas mãos erradas e foram vítimas de transformações pouco saudáveis pelo que é difícil encontrar uma unidade em bom estado.

Renault Clio Williams (1993): Monsieur merveilleux

Renault Clio Williams
© Razão Automóvel

É um carro de culto. É um dos melhores tração dianteira de sempre. É um Renault Clio Williams e eu já tive a sorte de conduzir um no Estoril!

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O Renault Clio Williams é, sem dúvida, um dos maiores sucessos da marca francesa e uma das páginas mais bonitas da história dos desportivos da década de 90. É difícil encontrar uma unidade em bom estado, ou pelo menos uma unidade que conserve as especificações de origem e os seus preços não param de aumentar — principalmente os Williams da primeira série.

Renault Clio Williams
© Razão Automóvel

Era o carro que todos os jovens lobos desejavam ter, mas que poucos conseguiram adquirir. Chegou a ser vendido mais caro do que o Volkswagen Golf GTI. Para morrer de amores por ele nem era preciso olhar para a ficha técnica — 150 cv às 6000 rpm e 175 Nm e apenas 1010 kg de peso —, bastava olhar para a carroçaria pintada num azul escuro exclusivo, para as jantes Speedline douradas e para as inscrições Williams espalhadas na carroçaria com vias mais largas que o Clio «normal». Uma máquina!

Citroën ZX 16V (1991): Discreto, mas memorável

Citroën ZX 16v

Abafado em Portugal pelo sucesso do Citroën AX GT e GTI que eram inevitavelmente mais acessíveis, o Citroën ZX 16V conheceu ao longo da sua carreira comercial diversas motorizações.

Lançado em 1991, o primeiro motor que este modelo conheceu foi o saudoso 1.9 que fez sucesso no mítico Peugeot 205 GTI. Um motor que no ZX desenvolvia 130 cv e uma curva de binário bastante cheia à época, e que permitia andamentos bastante vivos.

Mais tarde, com as restrições ambientais impostas pela União Europeia, o motor 1.9 foi substituído por um motor 2.0… mais potente. Foi aí que as coisas se tornaram ainda mais interessantes! Este motor conheceu dois patamares de potência: 150 cv e 167 cv às 7000 rpm.

Citroën ZX 16v

Na sua derradeira versão, antes de ser substituído pelo Xsara, o ZX 16V conseguia alcançar 220 km/h de velocidade máxima — um valor reservado a poucos carros naquela época.

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Ao contrário do seu irmão mais novo, o AX GTI, é muito difícil encontrar um ZX 16V à venda em Portugal. E os que sobreviveram aos loucos anos 90 hoje valem cada vez mais. Dinamicamente a condução respondia a uma máxima: se a frente passou, a traseira passa também! Pedal no fundo e siga para a próxima curva…

Fiat Punto GT (1993): velha guarda

Fiat Punto GT
A não ser pelas jantes, o Punto GT pouco se distinguia de outros Fiat Punto, mas as prestações estavam noutro patamar.

É o sucessor do mítico e assustador Fiat Uno Turbo i.e. — o motor que equipa o Punto GT é uma evolução da mesma unidade motriz. E à semelhança do seu antecessor, o Fiat Punto GT também tinha mais motor do que chassis. Muito mais…

O comportamento era sofrível, a travagem pouco potente, a suspensão nada rigorosa e os condutores menos experientes viam-se aflitos para controlar um motor que apesar da gestão eletrónica melhorada, novo turbocompressor e atualização de diversos componentes continuava a ser uma «besta» traiçoeira.

Fiat Punto GT

Até às 3000 rpm não havia potência para ninguém, mas a partir daí… abram pisca e desviem-se que lá vai o Punto GT!

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Hoje, volvidos mais de 20 anos, questiono-me se aqueles senhores da Fiat eram irresponsáveis ou somente loucos. Talvez um pouco das duas… Seja de que forma for, grazie di tutto Fiat!