Opinião Tesla Model 3: toda a verdade para lá do mediatismo

Tesla Model 3: toda a verdade para lá do mediatismo

O Tesla Model 3 chega ao mercado no próximo ano. O mediatismo e entusiasmo gerados em torno da sua apresentação recordam mais a Apple do que uma marca de automóveis. Será uma moda passageira ou a Tesla, enquanto player da indústria, veio mesmo alterar o paradigma do setor automóvel?

Ninguém estava à espera, nem a própria Tesla, de uma recepção ao Model 3 tão positiva. No final de Abril, o Model 3 já contava com mais de 400 mil pré-encomendas, cada uma delas a implicar um depósito reembolsável de, pelo menos, 1000 dólares.

Algo inédito e impressionante, sabendo que as primeiras unidades a serem entregues demorarão, no mínimo, 18 meses a chegar aos seus destinatários. Qual acto de fé, as promessas e a visão quasi utópica do seu carismático CEO, Elon Musk, tem vingado no mundo real.

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Conseguirá a Tesla cumprir o que prometeu?

A Tesla não difere muito de uma Uber ou Airbnb, empresas e modelos de negócio considerados disruptores. O impacto que está a ter na indústria é proporcionalmente inverso ao da sua dimensão. Mas existem dúvidas legítimas quanto à sustentabilidade e exequibilidade dos ambiciosos planos da marca – especialmente agora, numa altura em que a Tesla se prepara para conceber um modelo de grande volume.

“Apesar de Elon Musk ter já avançado com a data de 1 de Julho de 2017 para o arranque da produção do Model 3, o próprio já admitiu ser pouco provável consegui-lo”

Seja como for, o mérito do abanão que causou no setor já ninguém lho tira. Ainda assim, a viabilidade da Tesla enquanto construtora levanta muitas questões. Fundada em 2003, a Tesla até agora ainda não gerou um euro de lucro. O primeiro quadrimestre de 2016 revelou prejuízos crescentes de 282.3 milhões de dólares. Para contrariar estes indicadores Elon Musk prometeu números positivos no final deste ano, apoiando-se no eventual sucesso do Model X.

É de esperar pelo menos 80 mil Model S e X vendidos este ano, um salto expressivo das 50 mil unidades vendidas o ano passado. De todo o modo, caso não consiga gerar as receitas esperadas, fontes próximas da marca indicam que a Tesla ainda tem uma generosa almofada financeira para a concretização dos seus planos.

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500 mil carros por ano em 2018

A chegada do mais acessível Model 3 prevê um salto colossal de 50 mil unidades em 2015 para 500 mil já em 2018. No entanto, os primeiros sinais não são prometedores. Para além dos problemas de financiamento nesta fase, a saída muito recente dos seus vice-presidentes de produção e montagem atrasou os planos da marca. Passar das 50 mil para as 500 mil unidades em tão pouco tempo, poderá ser um escalar operacional demasiado abrupto.

Ainda assim, a Tesla foi rápida em encontrar um substituto, contratando o experiente Peter Hochholdinger, da Audi, como vice-presidente para produção de veículos, onde as suas funções incluirão a otimização dos sistemas de produção do Model S e X – aumentando o número de unidades produzidas – e o desenvolvimento de raiz dum sistema de produção escalável para o Model 3 que seja eficiente, célere e barato.