Testes Renault Clio RS 200 EDC: uma escola moderna

Pocket-rocket

Renault Clio RS 200 EDC: uma escola moderna

A Razão Automóvel testou o novo Renault Clio RS 200 EDC. Convidamos um piloto e um leitor para se juntarem a nós e fomos para o Kartódromo Internacional de Palmela.

clio rs 200 edc

Devem ter reparado nas movimentações na nossa página oficial no Facebook e aqui no website à volta do novo Renault Clio RS 200 EDC.

Este Clio é amarelo, tem jantes pretas, maxilas dos travões vermelhas e até dizem que normalmente levanta uma das rodas traseiras em curva, respeitando uma certa linhagem.

Mas afinal, o que tem um carro amarelo de tão bom para que se perca tanto tempo a falar sobre ele? O que tem o Renault Clio RS 200 EDC de especial, que nos leve a fazer “Um Dia à CAMPEÃO”? Será que respeita a sua história? Estará à altura do fardo que é o seu legado? Talvez um pequeno flashback seja um bom ponto de partida para este ensaio, venham daí!

Renault Sport – 37 anos de escola

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A Renault Sport nasceu nos finais dos anos 70, depois da mítica Alpine (à data, a divisão desportiva da marca francesa) ter sido encerrada. As instalações da divisão desportiva da Renault passaram para a fábrica da Gordini, que já há 20 anos que não competia em nenhuma prova da Fórmula 1, competição na qual apenas entrou de 1950 a 1956 e da qual não guardou nenhum primeiro lugar. Por outro lado, no Rally, a Gordini somou alguns modelos míticos à sua história, que ainda hoje fazem as delícias dos aficionados. A Gordini ainda passou um anos pelas 24 horas de Le Mans, como preparadora para a Renault (1962-1969). A Renault Sport nascia numa fábrica de uma marca que deixou marcas em várias frentes na competição.

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Até 1994 a Renault colocou a marca Alpine em alguns dos seus automóveis de competição, um caminho trilhado gloriosamente pelas montanhas e circuitos deste mundo e que poucos esquecerão. Em 1995 a Renault lança o Renault Spider e toda uma era Renault Sport dá a conhecer o símbolo R.S. ao comum dos mortais. Ou será que não?

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O Renault Spider era um automóvel diferente é verdade, mas uma marca de massas como a Renault não podia dizer aos seus clientes que sempre que quisessem sair de casa teriam de usar um capacete e assim, em 1999 foi lançado o primeiro Renault Clio RS, o terceiro Clio com o toque da Renault Sport (depois do Clio 16V e do inesquecível Clio Williams), o Renault Clio II RS 172.

Um legado a cumprir, ou se calhar não.

É uma grande responsabilidade ensaiar este pocket-rocket depois de tudo o que já disse sobre o modelo. Antes de o ensaiar já tinha ouvido e lido de tudo. A verdade é que também grande parte dos comentários que circulam online, são feitos por quem nunca o conduziu e muitos até nunca o viram ao vivo. No papel, o Renault Clio RS 200 EDC tem tudo para ser um saco de boxe. O motor 2.0 16v que o acompanhava desde o início e que foi buscar parte dos seus genes ao Williams, tinha cedido tal nobre lugar a um moderno, turbinado e pequeno 1.6 que pode ser encontrado no Nissan Juke, e que também já tivemos a oportunidade de testar na versão NISMO.

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“Um total desastre este teste…” pensava eu no dia anterior ao levantamento da minha unidade, a única disponível para toda a imprensa nacional. Tanto alarido, tanta emoção, tanto passado glorioso, para agora ter de ser saco de porrada dos anti-1.6 Turbo.

Mas o Renault Clio RS 200 EDC não se ficava pela mudança de motor, havia muito mais drama pela frente…a caixa de velocidades passou de manual a automática de dupla embraiagem – ouviram-se os gritos de horror dos petrolheads durantes meses e meses depois da Renault anunciar a sua decisão de mexer naquilo que muitos consideram ser praticamente o “sexo” do automóvel – e a cereja no topo do bolo, levou muitos a viajarem à procura do “porquê” até aos confins do planeta: uma carroçaria de 5 portas. O desafio é interessante, vamos ao ensaio!

Amarelo e bom rapaz

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Tive a oportunidade de testar o novo Renault Clio logo quando este iniciou a sua comercialização, ainda as pessoas olhavam e apontavam para o utilitário de cara renovada como se de um alien se tratasse.

O Renault Clio é bom rapaz e isso passa-o para a sua versão mais vitaminada. Continuamos a ter um automóvel prático, fácil de conduzir e apesar da cor e jantes mais extravagantes, acaba por até passar despercebido. Só um connoisseur saberá do que se trata, até porque para os outros um R.S. é um “tuning qualquer” – e como eu tenho pena de quem nunca conduziu um destes e fala do que não sabe…

Alinhado com a Fórmula 1

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O novo Renault Clio RS 200 EDC carrega uma grande responsabilidade como já vimos, agora os “feiticeiros” da Renault Sport deram-lhe, como já tem sido habitual nas últimas versões, pormenores a alinhar com a evolução na Fórmula 1. O motor 1.6 turbo, aqui com 200 cv, está em sintonia com a cilindrada dos F1 para 2014, tendo como objetivo a redução em 30% dos consumos na Fórmula 1, inspirando o Renault Clio RS 200 EDC. É claro que também fora dos circuitos esta luta pelos consumos é cada vez maior – as carteiras dos condutores e o ambiente agradecem. A Renault anuncia 6,3 l/100km em média para o Renault Clio RS 200 EDC. Durante o teste, consegui manter a média nos 7 litros e em alguns momentos nos 6,5 l/100km (em modo normal e com muito cuidado).

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O difusor e o aileron, a árvore de cames com DLC (Diamond-like Carbon) que reduz as vibrações, as patilhas no volante com função “multichange down” que permitem reduzir várias relações de uma só vez pressionado prolongadamente a patilha do volante, o R.S. Monitor 2.0, que nos permite ter um sistema de telemetria inspirado na competição e nos videojogos e por fim, mas não menos importante, o sistema de Launch Control, todos estes inspirados na Fórmula 1. O sistema de Launch Control permite-nos fazer o arranque perfeito e cumprir o sprint dos 0-100 em 6,7 seg, arranque este cuja barreira está nos 230 km/h.

Por dentro, um utilitário desportivo.

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Se é certo que as patilhas no volante lhe dão uma aura racing, o resto do interior alinha com o mesmo espírito mas sem entrar pela simplicidade mais hardcore do primo mais velho Mégane R.S. Aqui os bancos são desportivos e em pele, têm um bom apoio e nas curvas não nos deixam a “dançar” dentro do habitáculo, mas não esperem umas Bacquets Recaro, se é isso que procuram o novo Renault Clio RS 200 EDC não está nem aí. Aqui o ambiente é desportivo sim, mas é bastante mais confortável do que esperava e sem perder o espírito naquelas curvas mais exigentes.

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Os pormenores em vermelho no interior contrastam com o exterior amarelo. Desde a caixa de velocidades, passando pelo volante, até aos cintos, o vermelho impera. Aqui deixo uma nota que parece ser até birra, mas não é – há pelo menos 3 tons diferentes de vermelho no interior do novo Renault Clio R.S. 200 EDC, o que nos leva a pensar muitas vezes se terá sido engano e um deles até é quase laranja. Esta triplicidade de tons requer alguma habituação visual.

Motor pequeno, fôlego de gigante.

Ao contrário do que tenho lido pelos fóruns, blogues e revistas o motor 1.6 Turbo é pequeno sim, mas não desilude, pelo contrário. Um pequeno encontro durante o ensaio com um Mégane R.S. deu-nos a oportunidade de constatar que nos 0-100 o Renault Clio é mais rápido do que o Mégane, apesar de no papel não o serem. Com a ajuda do Launch Control e da caixa de 6 velocidades de dupla embraiagem, “qualquer um” pode cumprir o sprint dos 0-100 km em 6,7 seg. A verdade é que a tecnologia pode ser para muitos um símbolo de heresia e de facilidade, mas uma outra verdade é que agora o Renault Clio R.S. está mais rápido e eficaz do que nunca.

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Este Renault Clio RS 200 EDC é uma escola dos tempos modernos, mas será uma boa escola de condução? Sim, não tem uma caixa manual nem um motor atmosférico de 2000 cc e as ajudas eletrónicas podem ficar ligadas, menos interventivas e completamente desligadas à vontade do freguês mas a verdade é que todas estas inovações são inevitáveis. Antigamente a ignição dos automóveis era feita à manivela e as rodas eram em ferro. Eu sei, devia ser bastante desafiante e másculo conduzir um automóvel com rodas em ferro! O Homem, apesar de tudo, continua a cumprir o seu objetivo – ser mais rápido! Aqui os feiticeiros da Renault Sport portaram-se muito bem, mas há algumas falhas a apontar. Continuo a preferir uma caixa manual, não me matem ok?

Curvas? As melhores amigas

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O chassis cup disponível nesta versão do novo Renault Clio RS 200 EDC que temos em teste é feito para as curvas. As passagens de caixa no modo RACE fazem.se em menos de 150 ms e acreditem, isso é muito rápido! No entanto, há um defeito a assinalar: as patilhas do volante não o acompanham e são demasiado curtas para serem fixas, o que significa que num traçado mais exigente como o do Kartódromo Internacional de Palmela, por exemplo, andamos muitas vezes à procura do seletor de mudança o que retira muita eficácia à condução. As patilhas são algo a rever numa próxima oportunidade e esperemos que seja em breve!

A roda traseira no ar é um clássico e apesar de toda a inovação, o novo Renault Clio R.S. 200 EDC não perde o toque da loucura dos anos 80. Por dentro o sistema RS Monitor 2.0 dá-nos as informações necessárias que tenhamos um dia à campeão como este! Tempos por volta, medição de forças G e ainda a possibilidade de alterar o som do motor dentro do habitáculo, recorrendo às colunas de som e simulando o som do motor de modelos como o Renault Clio V6 até ao Nissan GTR.

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A abordagem às curvas faz-se de forma confiante e as reduções contam com o borbulhar dos escapes a acompanhar a viagem. Sim, aqui queremos conduzir como se o tivéssemos roubado, mas é notável a personalidade calma que o novo Renault Clio RS 200 EDC demonstra em percurso citadino – podemos viver duas vidas: o bom menino que faz a sua vida diária no caos da cidade, até ao badboy que foge pelas estradas mais desafiantes no regresso a casa. Tudo depende da vontade de carregar no botão “R.S.” e no pé direito…

O mais caro dos pocket-rockets

A moda dos pocket-rockets está de volta e a Renault não podia ter ficado a assistir. O Renault Clio RS 200 EDC pode ser vosso a partir de 29.500 euros, mais 5500 euros do que o Ford Fiesta ST e mais 4500 euros do que Peugeot 208 GTI. Definitivamente o preço não lhe fica bem, mas deixemos que o futuro nos diga qual o melhor dos três.

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O Renault Clio RS 200 EDC desalinha-se com os pocket-rockets modernos. Deixamos de ter a caixa manual, para dar lugar a uma refinada e interventiva (sempre a apitar para nos avisar que temos de subir de relação, em modo sport/race) caixa de automática de dupla-embraiagem de 6 velocidades. É o mais rápido dos pocket-rockets da atualidade? Sim, é! Mas não será o mais envolvente e aquele que respeita a ligação homem-máquina que muitos estimam e querem preservar. O Renault Clio RS 200 EDC é sim um sinal dos tempos e como um carro “de futuro”, é o melhor de todos eles.

MOTOR 4 Cilindros
CILINDRADA 1618 cc
TRANSMISSÃO Automática, 6 Vel.
TRAÇÃO Dianteira
PESO 1204 kg.
POTÊNCIA 200 CV / 6000 rpm
BINÁRIO 240 NM / 1750 rpm
0-100 KM/H 6,7 seg.
VEL. MÁXIMA 230 km/h
CONSUMO 6,3 lt./ 100 km
PREÇO 25.399€