Crónicas Boas «escolas» de condução: uma espécie em extinção

Escolas de condução

Boas «escolas» de condução: uma espécie em extinção

As novas gerações terão dificuldades em aprender a conduzir. Bem, pelo menos daquela forma que vocês sabem… Condução a sério.

Todas as semanas (ou quase), a garagem da Razão Automóvel recebe automóveis fantásticos. Como devem calcular, todos eles são bem recebidos. E nós fazemos questão de mostrar a todos eles as redondezas… várias vezes! Na sua maioria, a facilidade com que se deixam levar é impressionante. É só travar, apontar e acelerar para sair em direção à próxima curva. Assombrosamente fáceis de levar. Sem truques nem manias. Até desligarmos as ajudas eletrónicas…

Quando desligamos as ajudas eletrónicas entramos num novo mundo. Um mundo onde a condução se faz em modo «old-school».

A traseira já gira e a frente já sacode a direção sem apelo nem agravo. O fácil dá lugar ao desafiante e a previsibilidade dá lugar à diversão. E foi enquanto suava e sorria ao mesmo tempo — entre alguns «sustos» e a realização pessoal de descrever aquela tal curva (todos temos a “tal curva” não temos?) num momento linear quase perfeito que me lembrei de onde vêm todos aqueles movimentos e golpes de volante que faço instintivamente. Vêm da adolescência. Vêm da escola dos «rafeiros» que frequentei. Uma escola cheia de rufias prontos para atirarem os mais incautos para a valeta mais próxima.

Quem eram os rufias? Eram todos de boas famílias. Uns vinham de França outros de Itália e alguns vinham ainda da Alemanha. Mas não era por isso que eram bem comportados. Foram sempre os mais rebeldes da «casa». Não gosto de mencionar nomes, mas passado todos estes anos acho que não haverá problema: Volkswagen G40; Citroën Saxo Cup; Citroen AX GTI; Fiat Uno Turbo I.E; Peugeot 205 GTI. A lista continuaria, mas foi com estes que mais aprendi e mais tareias levei.

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Uma espécie de educação «à inglesa», onde a máxima é “a melhor forma de aprender a correr é tropeçar, cair e voltar a tentar!”. Neste caso traduzido em meios piões, borracha queimada e trajetórias alargadas. Foi então que me deparei com esta questão: onde é que as novas gerações vão aprender a conduzir? Quero dizer: conduzir realmente!

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Os automóveis estão mais potentes, estão mais rápidos, mais seguros e fiáveis. Mas em alguns casos, mesmo com potências de 300 cv são quase tão insípidos quanto um utilitário. São como poetas que não rimam, cantores que não cantam e pintores que não pintam. E nesse caso nós seremos condutores que não conduzem. Claro que toda a regra tem a sua excepção. O Mazda MX-5, Honda Civic Type R, SEAT Leon Cupra e por aí em diante são bons exemplos.

A questão que coloco é: onde é que as novas gerações vão aprender estas driving skill’s? As driving skill’s necessárias para conduzir um carro sem as ajudas eletrónicas. A pegarem num Renault Mégane RS, desativarem aquele botão e dizer: EU SEI CONDUZIR! Os «modelos escola» são cada vez menos.

Hoje os desportivos compactos e até mesmo os modelos mais «normais» — como o meu saudoso Citroën AX — as escolas de outrora, estão mais potentes, mais rápidas, mais tudo. Mais protecionistas inclusive. Mas não são a escola de condução que as gerações mais novas precisam para aprender a conduzir. E assim, uma vez mais, tal como no passado, vamos ter de recorrer aos professores de antigamente que vendem as suas lições no mercado de usados cada vez mais caras… Apanhem um enquanto podem.

Nunca se sabe quando terão de conduzir um Porsche sem ajuda das «rodinhas». Ou então esqueçam tudo o que escrevi, muito provavelmente, no futuro ninguém vai precisar de conduzir…

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“Driving skills experience is greater than money”